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Mais de 70% dos trabalhadores por aplicativo estão na informalidade, aponta IBGE
Pesquisa revela que o Brasil tem 1,7 milhão de profissionais atuando por meio de plataformas digitais, com aumento de 25% em dois anos

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 71,1% dos trabalhadores por aplicativo atuavam de forma informal em 2024, enquanto a taxa entre os não plataformizados — aqueles que não utilizam aplicativos para trabalhar — era de 43,8%.
O levantamento, divulgado nesta sexta-feira (17/10), faz parte do módulo “Trabalho por meio de plataformas digitais 2024” da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua. A pesquisa é fruto de uma parceria entre o IBGE, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
De acordo com os dados, o Brasil registrou 1,7 milhão de trabalhadores plataformizados em 2024, o equivalente a 1,9% da população ocupada no setor privado. Em comparação com 2022, quando eram 1,3 milhão, houve crescimento de 25,4% (mais 335 mil pessoas).
Condições de trabalho e rendimento
O rendimento médio mensal dos trabalhadores por aplicativo foi de R$ 2.996, valor 4,2% superior ao dos não plataformizados (R$ 2.875). No entanto, o rendimento por hora desses profissionais (R$ 15,40/h) foi 8,3% menor do que o dos demais trabalhadores (R$ 16,80/h), já que a jornada semanal média é mais longa: 44,8 horas, contra 39,3 horas dos que não atuam via plataformas.
Ainda assim, o IBGE destacou que a diferença entre os rendimentos médios diminuiu em relação a 2022, quando os trabalhadores por aplicativo ganhavam 9,4% a mais que os demais.
Perfil educacional e disparidades
Entre os menos escolarizados, os trabalhadores por aplicativo ganham mais de 40% acima dos que não usam plataformas. Já entre os profissionais com ensino superior completo, o cenário se inverte: o rendimento médio dos plataformizados (R$ 4.263) é 29,8% inferior ao dos não plataformizados (R$ 6.072).
Segundo o analista Gustavo Geaquino, a diferença está ligada ao perfil ocupacional. Muitos trabalhadores com curso superior exercem atividades que não exigem qualificação elevada, como motoristas de aplicativo, enquanto a presença em cargos de gestão ou técnicos é menor.
Dependência e controle das plataformas
A pesquisa também mediu o grau de dependência dos trabalhadores em relação aos aplicativos. No transporte de passageiros, 91,2% dependem do app para determinar o valor recebido, e 76,7% dependem dele para definir os clientes atendidos.
Entre entregadores, 70,4% afirmaram que os prazos de entrega são definidos pelo aplicativo e 76,8% disseram que o formato de pagamento também é determinado pelas plataformas. Além disso, mais de 30% relataram sofrer ameaças de punições ou bloqueios.
Por outro lado, 78,5% dos motoristas afirmaram ter autonomia para escolher dias e horários de trabalho.
Distribuição regional e setores
A Região Sudeste concentra mais da metade dos trabalhadores por aplicativo no país (53,7%). No Nordeste, 69,4% dos plataformizados atuam no transporte particular de passageiros. Já o Norte apresenta a menor proporção de profissionais de serviços gerais por aplicativo (8,3%), enquanto Sul (23,2%) e Sudeste (20,4%) registram as maiores participações.
O IBGE também revelou que 86,1% dos plataformizados trabalham por conta própria, e 6,1% são empregadores. A maioria atua em transporte, armazenagem e correio (72,5%), o que reflete a predominância dos aplicativos de transporte de passageiros e entregas no país.
*Com informações do Metrópoles
