Política

Políticos de Alagoas ignoram crise da cana; unido, Pernambuco reage

Setor canavieiro, maior força econômica da iniciativa privada em Alagoas, atravessa uma das crises mais severas das últimas décadas

Por Blog do Edivaldo Júnior 02/12/2025 18h06 - Atualizado em 02/12/2025 18h06
Políticos de Alagoas ignoram crise da cana; unido, Pernambuco reage
Políticos alagoanos parecem ignorar a crise no setor canavieiro - Foto: Assessoria

O setor canavieiro, maior força econômica da iniciativa privada em Alagoas, atravessa uma das crises mais severas das últimas décadas — e, ao contrário do que ocorre em estados vizinhos, segue praticamente sem atenção dos parlamentares alagoanos. E não só deles. O governo do Estado e até prefeitos de cidades que dependem diretamente da agroindústria da cana-de-açúcar parecem ignorar as dificuldades que afetam principalmente mais de 5 mil pequenos fornecedores.

A queda expressiva no preço do ATR, a redução na produtividade, o recuo no valor do açúcar e os impactos climáticos formaram um cenário de forte risco para milhares de produtores, especialmente os pequenos produtores. “É o que costumamos chamar de tempestade perfeita”, aponta o presidente da Associação dos Plantadores de Canda de Alagoas (Asplana), Edgar Filho.

Mesmo diante desse quadro, a crise não entrou na agenda prioritária da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) ou, que se tenha conhecimento, de alguma Câmara Municipal de Vereadores de cidades canavieiras. Não houve audiências, debates estruturados ou mobilização parlamentar em torno do tema.

O contraste com Pernambuco é evidente: ali, apesar de o peso econômico do setor sucroenergético ser menor que o de Alagoas, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE) realizou audiência pública, reuniu lideranças políticas e já se movimenta para intermediar ações emergenciais junto ao governo estadual — conforme registram reportagens recentes da Folha de Pernambuco, Movimento Econômico e blogs locais.

No debate realizado na ALEPE, nessa segunda-feira (01/12) parlamentares e representantes do setor discutiram propostas de crédito, apoio emergencial, medidas fiscais e estratégias de revitalização da atividade. A mobilização política foi destacada como fundamental para evitar danos maiores à economia e ao emprego rural.

Falta união

Enquanto em Pernambuco todo o setor parece atuar unido ao poder público, em Alagoas, a realidade parece ser outra. Quem fez alguns movimentos públicos na defesa do setor diante dessa nova crise foi o presidente da Asplana, Edgar Filho. Ele alertou para a gravidade da crise atinge diretamente mais de 5 mil pequenos fornecedores e ameaça mais de 60 mil empregos diretos durante a safra. “Estamos diante de uma ameaça real ao futuro do setor e à renda das famílias que dependem da cana. Medidas urgentes precisam ser adotadas”, tem repetido o dirigente.

Nas últimas semanas, Edgar Antunes iniciou uma rodada de articulações com o governo estadual. Em encontro registrado nas redes sociais, ele esteve reunido com o secretário de Agricultura, Marcelo Melo, apresentando propostas emergenciais e pediu que fosse marcada audiência com o governador Paulo Dantas. Até o momento, pelo que se sabe, a agenda não foi marcada.

O objetivo seria discutir com o governador ações como concessão de crédito presumido, fornecimento de adubo para pequenos produtores e outras medidas capazes de amortecer o impacto imediato da crise. “Precisamos encontrar alternativas para manter o nosso maior ativo, que é a cana, vivo no campo”, aponta.

Em meio a esse cenário, ausência de mobilização parlamentar chama a atenção. Num estado em que a cana-de-açúcar trem peso de cerca de 10% do PIB, o silêncio político contrasta com a urgência vivida no campo. Em Pernambuco, onde o setor tem menor participação no PIB, a reação institucional foi rápida. Em Alagoas, o maior produtor de cana do Norte e Nordeste, a resposta tem sido tímida e fragmentada.

Subvenção


Para evitar o colapso da atividade, a Asplana se uniu a outras entidades representativas do Nordeste e do país na defesa da aprovação de uma subvenção econômica de R$ 12 por tonelada de cana destinada aos pequenos fornecedores. A proposta foi apresentada pelo senador Efraim Filho (PB) como emenda à Medida Provisória 1923/2025, e conta com o apoio do senador Fernando Farias (AL), que deve relatar o texto no Congresso Nacional.

Segundo o presidente da Asplana, Edgar Filho, a subvenção é uma medida emergencial e indispensável para evitar a quebra em massa dos produtores e a perda de milhares de empregos no campo.

“Sem essa ajuda, o pequeno fornecedor não sobrevive. O preço do ATR caiu, o açúcar despencou no mercado internacional e o custo de produção está altíssimo. A subvenção é a única forma de garantir a continuidade da atividade e manter os empregos que a cana gera em Alagoas e em todo o Nordeste”, afirmou Edgar.

O exemplo de Pernambuco

A audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) reuniu produtores, trabalhadores, usinas e governo para discutir a grave crise da cana-de-açúcar na Zona da Mata. Foram propostas medidas emergenciais como subvenção por tonelada, linhas de crédito e ações contra a estiagem. O encontro resultará em um documento a ser entregue ao presidente Lula e ao governo estadual.

Principais pontos do encontro

• Crise inédita: O setor prevê retração superior a 20% na oferta de cana para a próxima safra.

• Causas: Queda no preço da matéria-prima, aumento dos custos, tarifas dos EUA sobre biocombustíveis e estiagem prolongada.

• Impacto: Risco de menor moagem desde os anos 1990, com forte repercussão no emprego e nas usinas.

• Propostas: Subvenção por tonelada, crédito para custeio, apoio às usinas e fornecedores, além de medidas de mitigação da seca.

• Encaminhamento: Documento será entregue ao presidente Lula durante visita a Pernambuco.

Ativo biológico


O presidente do Grupo EQM, Eduardo Queiroz Monteiro, que também atua em Alagoas, fez um alerta contundente sobre o risco ao ativo biológico da cana:

“A cana é um patrimônio produtivo vivo. Se esse ativo morre, a recuperação não se faz em meses, mas em anos. Precisamos de medidas urgentes, federais e estaduais, para manter esse potencial de pé e garantir que o setor continue existindo.”

Essa fala reforça que a perda dos canaviais compromete não apenas a safra atual, mas ciclos plurianuais de produção, podendo levar ao fechamento definitivo de unidades industriais.

Outros posicionamentos relevantes


• Luciano Duque (deputado): Defendeu transformar o debate em ações concretas e imediatas.

• Antônio Moraes (deputado): Propôs soluções em formato de “ganha-ganha” para setor, trabalhadores e governo.

• Givanildo Marques (Sindicato dos Trabalhadores): Pediu retomada da subvenção criada em gestões anteriores.

• Gregório Maranhão (Única): Ressaltou que, mesmo em crise, a atividade pode gerar R$ 180 milhões para Pernambuco.

Edgar Filho, presidente da Asplana. (Foto: Assessoria)