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Investigado pela PF, Luiz Dantas diz que 'foi orientado a nada responder sobre o assunto'
Ex-assessor de gabinete foi apontado como braço operacional de suposto esquema milionário de recursos da Sesau
O ex-assessor do gabinete da Saúde de Alagoas, Luiz Dantas, que foi apontado como braço operacional de suposto esquema milionário de recursos da Secretaria de Estado de Saúde de Alagoas (Sesau), afirmou ao Jornal de Alagoas, nesta sexta-feira (19), que foi "orientado pelo advogado a nada responder sobre o assunto".
A reportagem entrou em contato para saber se ele tinha um posicionamento a respeito da suposta participação na movimentação de cerca de R$ 100 milhões da pasta.
A investigação faz parte de uma operação deflagrada na terça (16), que apura irregularidades na Sesau. Segundo a Polícia Federal, o começo da apuração começou após uma denúncia anônima, que indicou os nomes dos supostos envolvidos e revelou uma rede de corrupção dentro da secretaria.
O Jornal de Alagoas também teve acesso a documentos que mostram que o ex-assessor pode ter subtraído R$ 125.850,00, $ 24 mil dólares e $ 6.480 euros.
Além de Luiz Dantas, o ex-secretário da Sesau, Gustavo Pontes de Miranda e a suposta amante dele, Andreia Araújo Cavalcante, estariam participando da quadrilha. Informações também apontam para mais sete pessoas envolvidas.
Ainda de acordo com a PF, Luiz Dantas seria responsável pelo transporte de valores e pela execução das ordens do grupo investigado. Já Andreia seria uma das responsáveis pelo transporte do dinheiro.
Ela teria recebido um PIX de R$ 50 mil, pago por Reinaldo Fernandes Júnior, médico ortopedista e sócio-administrador do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia (NOT), empresa alvo da operação, localizada no bairro da Gruta, em Maceió.
Em nota, o Governo de Alagoas informou que acatou a decisão judicial que determinou o afastamento de Gustavo Pontes de Miranda do cargo. Emmanuel Vitor Duarte, gerente de licitação da Sesau, assumiu a secretaria.
Gustavo Pontes de Miranda nega irregularidades.
Operação Estágio IV
Os afastamentos ocorrem no âmbito da Operação Estágio IV, deflagrada pela Polícia Federal na última terça-feira (16). A ação tem como foco o combate a crimes de corrupção, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro no setor da saúde em Alagoas. Ao todo, foram cumpridos 38 mandados de busca e apreensão, além da aplicação de medidas cautelares alternativas à prisão, todas autorizadas pelo TRF-5.
A operação também determinou o sequestro de bens dos investigados, incluindo veículos e imóveis de alto valor. Cerca de 170 policiais federais e 26 auditores participaram da ação, realizada em Alagoas, Pernambuco e no Distrito Federal, com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU), da Receita Federal e do Departamento Nacional de Auditoria do SUS.
Segundo a Polícia Federal, a Sesau firmou contratos emergenciais entre 2023 e 2025 com duas empresas — uma do ramo de fornecimento de materiais hospitalares e outra da construção civil — que teriam sido utilizadas para beneficiar o grupo investigado. Os contratos resultaram em pagamentos considerados indevidos, que podem chegar a R$ 100 milhões, parte deles ainda em execução no momento da deflagração da operação.
O inquérito aponta ainda o desvio de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio de ressarcimentos superdimensionados de consultas e procedimentos médicos que não teriam sido realizados. Apenas nesse eixo, o prejuízo estimado ultrapassa R$ 18 milhões.
Um dos exemplos citados envolve pagamentos por sessões de fisioterapia incompatíveis com a capacidade operacional de uma clínica privada.
De acordo com as investigações, os valores desviados eram distribuídos por meio de transferências bancárias, saques em espécie e pagamentos indiretos, caracterizando um esquema estruturado de corrupção e ocultação patrimonial. Parte do dinheiro teria sido utilizada na aquisição de imóveis registrados em nome de terceiros, incluindo uma pousada em Porto de Pedras avaliada em R$ 5,7 milhões, além do custeio de viagens internacionais e despesas pessoais.
Durante o cumprimento dos mandados, a PF apreendeu grandes quantias em dinheiro vivo, em reais e moeda estrangeira, além de duas armas de fogo. O nome da operação faz referência ao estágio terminal de alguns tipos de câncer, em alusão à gravidade dos impactos das práticas investigadas sobre o sistema público de saúde.


