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Saiba quem é a estrela do esporte americano desaparecida na Rússia

Por BBC Brasil 17/03/2022 17h05
Saiba quem é a estrela do esporte americano desaparecida na Rússia
Divulgação - Foto: Getty Images

Ela é indiscutivelmente a maior jogadora de basquete de todos os tempos e foi detida em Moscou em meio à guerra. Seus fãs querem saber por que mais pessoas não estão preocupadas.

Em uma das últimas aparições públicas de Brittney Griner, capturada por câmeras de segurança, a jogadora de basquete profissional americana é vista atravessando o controle de segurança de um aeroporto empurrando uma pequena mala preta.

Griner, uma estrela do time Phoenix Mercury, desembarcou no aeroporto Sheremetyevo, nos arredores de Moscou, para jogar mais uma temporada na liga russa.

Nas imagens de segurança, ela usa tênis, calça de moletom preta e uma blusa de moletom preta com "Vidas Negras pela Paz" escrito nas costas, com seu cabelo escuro em tranças abaixo dos ombros.

Com 2,06m de altura — alta mesmo para os padrões do basquete — ela se eleva acima dos agentes alfandegários e outros viajantes.

Em outra cena, ela é vista sentada na frente de um homem, aparentemente um despachante aduaneiro, balançando a cabeça em sinal de "não". Depois, nada — até que uma foto surgiu na televisão estatal russa na semana passada.

Acredita-se que Griner, de 31 anos, tenha sido presa pelas autoridades russas por acusações relacionadas a drogas (leia mais abaixo). 

Um mês após sua detenção, pouco se sabe sobre suas condições. A incerteza em torno de seu destino alimentou uma onda de apoio à jogadora, que é considerada por fãs e analistas esportivos como a maior jogadora de basquete de todos os tempos.

E também gerou um sentimento de indignação entre alguns fãs que dizem que a resposta à detenção de Griner tem sido estranhamente silenciosa.

Fãs e especialistas dizem que a atenção que ela recebeu em comparação com os jogadores do sexo masculino expõe as antigas desigualdades de gênero no esporte profissional.

"Se fosse um jogador da NBA [liga profissional masculina] do calibre dela... isso estaria na capa não apenas de todas os cadernos de esportes, mas de todos os veículos de imprensa do mundo", diz Tamryn Spruill, jornalista esportiva que está escrevendo um livro sobre Griner.

Brittney Griner, uma veterana de nove anos de liga — é a "melhor das melhores", diz Melissa Isaacson, jornalista esportiva e professora da Northwestern University, no estado americano de Illinois.

"Ela é o Tom Brady de seu esporte", diz Isaacson, citando aquele que é considerado o maior jogador de futebol americano de todos os tempos. "Você poderia argumentar com muita precisão que ela é uma das melhores atletas do mundo."

Natural de Houston, Texas, ela ganhou uma bolsa de estudos para a Baylor University, onde liderou a equipe de basquete a um campeonato nacional.

Ela é agora uma das jogadoras mais dominantes da WNBA (liga profissional de basquete feminino dos Estados Unidos) na história, amplamente considerada a melhor jogadora ofensiva da liga.

Poucos conseguiram o que Griner conquistou — ganhar um campeonato universitário, títulos da WNBA e da Euroliga e uma medalha de ouro olímpica. E, notoriamente, sua capacidade de enterrar é incomparável.

Fora das quadras, ela também tem sido vista como pioneira, assumindo-se lésbica aos 22 anos, na época de sua entrada no esporte profissional.

Ela então se tornou a primeira escolha geral do draft da WNBA naquele ano e, logo depois, a primeira atleta abertamente lésbica a ser endossada pela Nike.

"Antes de Griner, havia essa sombra sobre a liga, como 'não diga [a palavra] lésbica'", disse Spruill. "E ela foi tipo 'dane-se, é quem eu sou'." 

"A BG sempre foi pioneira", diz a colega de equipe de Griner, Diana Taurasi.

Apesar de tudo isso, Griner tinha um segundo emprego, e foi por isso que ela viajou à Rússia — para jogar pelo time da liga europeia UMMC Ekaterinburg, onde ela trabalhava desde 2014 durante o período entre temporadas dos EUA.

Cerca de metade das jogadoras da WNBA competem no exterior fora da temporada americana. Para a maioria, é uma maneira de aumentar sua renda: as jogadoras da WNBA recebem cerca de cinco vezes mais na Rússia do que nos EUA.

"Se ela fosse Steph Curry ou LeBron James, ela não estaria lá, porque estaria ganhando dinheiro suficiente [nos Estados Unidos]", diz Spruill.

Os colegas de Griner na liga masculina ganham mais de 200 vezes o salário máximo da WNBA.

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, a Euroliga suspendeu todas as equipes russas e funcionários dos EUA e da WNBA começaram a chamar as jogadoras para fora do país.

Mas era tarde demais para Brittney Griner, que teria entrado na Rússia uma semana antes, em 17 de fevereiro, embora o momento ainda não esteja claro.

Autoridades russas


O Serviço Federal de Alfândega da Rússia disse em um comunicado à imprensa que um cão farejador levou as autoridades a revistar a bagagem de mão de uma jogadora de basquete americana e que encontrou cartuchos de cigarro eletrônico contendo óleo de haxixe. A agência de notícias estatal russa Tass identificou a jogadora como sendo Griner.

As autoridades russas só confirmaram sua detenção na terceira semana de março, embora tenham divulgado que ela foi detida no aeroporto em fevereiro. Onde ela está detida, e em que condições, não é conhecido publicamente.