Política

Vice de Tia Júlia deixa o PT em meio à crise da demarcação de terras

A maioria da população de Palmeira dos Índios é contrária à demarcação, e o tema se transformou em um divisor de águas na cidade

Por Blog de Edivaldo Junior 31/10/2025 05h05
Vice de Tia Júlia deixa o PT em meio à crise da demarcação de terras
Sheila Duarte e Tia Júlia, vice e prefeita de Palmeira dos Índios, enfrentam pressão na questão da demacarcação de terras indígenas. - Foto: Reprodução

A crise política em torno da demarcação das terras indígenas Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios, começa a cobrar seu preço. A vice-prefeita Sheila Duarte anunciou sua desfiliação do Partido dos Trabalhadores (PT) após mais de duas décadas de militância. A saída ocorre em meio ao acirramento do debate sobre a homologação de mais de 7 mil hectares de terras, que deve atingir parte expressiva da zona rural do município.

A maioria da população de Palmeira dos Índios é contrária à demarcação, e o tema se transformou em um divisor de águas na cidade, pressionando a administração municipal a se posicionar. A movimentação de Sheila seria uma reação direta à pressão popular. Ela deixa o partido logo após o deputado federal Paulão (PT-AL) defender, na Câmara dos Deputados, celeridade na homologação das terras Xukuru-Kariri, reforçando o posicionamento do Governo Federal a favor da causa indígena.

Enquanto a vice-prefeita se afasta do PT, a prefeita Tia Júlia se mantém em cima do muro, empurrando a bronca para o governo federal. Publicamente, ela evita se posicionar contra ou a favor da demarcação, alegando que a Prefeitura “acompanha o processo com responsabilidade e busca o diálogo”.

No entanto, declarações recentes e a própria nota oficial emitida pela gestão municipal indicam que o caminho adotado será o de acatar a decisão da Funai e do Governo Federal, mesmo que isso signifique contrariar a maioria da população local.

“O nosso compromisso é com o diálogo, o equilíbrio e a busca por uma solução pacífica”, diz o texto da Prefeitura. Nos bastidores, porém, o apoio à demarcação é dado como certo. O discurso conciliador, segundo aliados políticos, é uma tentativa de reduzir o desgaste num município onde cresce o sentimento de indignação e insegurança entre pequenos agricultores e trabalhadores rurais.

A possibilidade de homologação das terras, que representam cerca de um terço do território de Palmeira dos Índios, mobiliza comunidades, produtores e lideranças políticas. O temor é de que o reassentamento de famílias e a retirada de pequenos agricultores causem um colapso social e econômico. Em diversas localidades, o clima é de tensão e desconfiança em relação ao poder público.

A crise já começa a redesenhar o cenário político do município. Enquanto Tia Júlia tenta se manter neutra e administrar o desgaste, Sheila Duarte tenta se distanciar do governo federal e do PT, sinalizando que buscará novo espaço político.

O episódio abre caminho para o fortalecimento de outras lideranças locais, como o advogado Adeilson Bezerra, presidente estadual do Solidariedade, que vem se destacando na defesa jurídica dos pequenos produtores e na articulação política em Brasília.

Com a pressão social em alta e a população cada vez mais mobilizada, a demarcação das terras Xukuru-Kariri promete ser o tema central das próximas eleições no município. Candidato a deputado em 2026 que ficar a favor da demarcação deve ter poucas chances de votos na cidade. E claro que esta questão terá fortes reflexos nas eleições municipais de 2028. Mas essa é outra história.