Política

Após “sintonia perfeita” na reconciliação, Lira atropela chapa de JHC

A movimentação de Lira, ao atrair Gunnar Nunes para o PP, foi interpretada como um manobra política bem calculada

Por Blog de Edivaldo Junior 30/10/2025 05h05
Após “sintonia perfeita” na reconciliação, Lira atropela chapa de JHC
Lira e JHC reaparecem juntos em evento da prefeitura de Maceió. - Foto: Assessoria

Há apenas três semanas, o deputado federal Arthur Lira (PP) e o prefeito de Maceió, JHC (PP), apareceram lado a lado em um evento na capital, trocando elogios públicos e reafirmando uma “parceria administrativa exemplar”. O encontro, no dia 8 de outubro, foi o primeiro em público depois do rompimento entre os dois, em maio deste ano.

No vídeo publicado no Instagram de Lira, os dois pareciam bem afinados. O ex-presidente da Câmara dos Deputados disse “quando a sintonia é boa, o resultado aparece”. Na sequência, elogiou a gestão municipal, afirmando que ”a prefeitura de Maceió está funcionando em sua plenitude”, enquanto JHC retribuiu, dizendo que Lira “tem sido parceiro da saúde de Maceió” e que, por sua força em Brasília, tem “aberto portas que sem essa liderança não seria possível”.

Mas o clima de harmonia durou pouco. Na política, três semanas podem ser uma eternidade — e a relação entre os dois líderes, que até então parecia ter se restabelecido, pode já não ser a mesma.

A movimentação de Lira, ao atrair Gunnar Nunes — até então aliado de JHC — para o PP, foi interpretada como um manobra política bem calculada, apesar dos riscos colaterais. Gunnar, com forte base no segmento evangélico e potencial de votação expressivo, reforça a chapa federal do grupo de Lira e, ao mesmo tempo, cria dificuldades para JHC consolidar a nominata do PL.

Segundo interlocutores próximos, Arthur Lira teria afirmado recentemente que iria “cuidar da parte dele”, montar sua própria chapa para a Câmara Federal e “não perder tempo”. A mensagem foi direta: quem quiser, que monte a sua chapa.

O recado atingiu em cheio o prefeito de Maceió, que tenta organizar sua base eleitoral dentro do PL, partido pelo qual deve concorrer sua esposa, a primeira-dama Marina Cândida.

O prefeito reagiu rápido. Em resposta ao movimento, mandou exonerar todos os indicados de Gunnar Nunes da estrutura da Prefeitura de Maceió, sinalizando que o rompimento político é definitivo. A decisão foi lida nos bastidores como uma retaliação direta e também como um recado: o prefeito não pretende assistir passivamente à perda de aliados importantes.

O episódio tem potencial para retroalimentar a disputa silenciosa entre os dois polos de poder — o grupo de Arthur Lira e o grupo de JHC —, que após retomar a caminhada lado a lado, parecem trilhar caminhos distintos.

Com a entrada de Gunnar Nunes, o PP de Arthur Lira consolida a maior e mais competitiva chapa de candidatos à Câmara Federal no Estado, com nomes de peso como Álvaro Lira, Marx Beltrão, Fábio Costa, Daniel Barbosa, Alfredo Gaspar e Nivaldo Albuquerque.

Enquanto isso, JHC tenta reorganizar suas bases e reforçar o projeto do PL, apostando no carisma da primeira-dama, Marina Candia, para liderar a chapa federal. Mas a saída de Gunnar — somada ao rompimento com o deputado Mesaque Padilha — reduz o espaço de manobra do prefeito entre lideranças evangélicas e parlamentares.

Nos bastidores, tem gente dizendo que “a sintonia” entre Lira e JHC perdeu o ritmo. Se há pouco tempo o tom era de parceria e reciprocidade, agora o cenário pode ser de distância e desconfiança.

A dúvida que fica é: depois desse movimento ousado de Arthur Lira, será que a sintonia entre o ex-presidente da Câmara e o prefeito de Maceió voltará a ser a mesma — ou a harmonia que encantou as redes sociais já virou apenas um registro na memória dos eleitores?