Política
Após encontro, Renan Filho diz que Bolsonaro não tem convicção
Único governador do Nordeste na reunião, RF afirma que o clima geral era de ´constrangimento´

Após o encontro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os poderes, que ocorreu nesta quarta-feira (24), o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), afirmou que o clima geral foi de “constrangimento” e acredita que Bolsonaro não tem convicção e suas posturas não serão mudadas.
"Esse constrangimento é por conta dessa necessária inflexão, porque ele [Bolsonaro] não está sendo capaz de fazer o que o Brasil que precisa. As falas dos presidentes do Senado [Rodrigo Pacheco] e da Câmara [Arthur Lira] foram para defender a sociedade, mas eles são aliados constrangidos: defendem as medidas, mas vão só até um certo ponto. O Brasil precisa, mas não senti essa mudança [do presidente]", afirmou em entrevista ao portal UOL.
O encontro, que estava cheio de aliados de Bolsonaro, ocorreu na sede do Palácio da Alvorada, em Brasília, e o objetivo era discutir a criação de um comitê para contenção da pandemia do coronavírus. Rena Filho foi o único governador do Nordeste convidado por Bolsonaro para a reuniãoo.
“O presidente está instado pela situação a fazer uma inflexão. Mas qual o problema? Ele não tem convicção. Até tem vontade, acha que precisa atenuar o discurso, mas não tem convicção. Ele vai fazer isso na questão da vacina, mas nas outras áreas vamos ter problemas", declarou.
Além dos chefes do Congresso, participaram do encontro os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás; Wilson Lima (PSC), do Amazonas; Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; e Marcos Rocha (PSL), de Rondônia.
Pontos da reunião
Segundo o governador, fora as vacinas, o presidente seguiu com discurso em pontos questionados por especialistas. "Ele tem muita dificuldade com a questão do isolamento, assim como a questão das UTIs, do tratamento, da necessidade dos hospitais. A gente vê toda hora os filhos deles questionando isso. Eu inclusive falei na reunião que, enquanto estávamos ali, havia 30 mil brasileiros em leitos UTI e 150 mil hospitalizados. Nós estamos vivendo uma situação excepcionalíssima, em que se interna mais do que todas as outras doenças reunidas. Então é preciso de um esforço nacional de forma transparente, conduzido pelo ministro", alertou Renan Filho.
O governador ainda citou que o presidente repetiu muitas vezes que se trata de doença nova, e que as medidas não seriam de consenso. "Eu disse: 'a doença é nova, mas há uma curva de aprendizado muito significativa, a ciência já sabe mais o que fazer, a medicina sabe'", afirmou, defendendo um isolamento social maior para conter o vírus. "Dos governadores ali, eu era o mais independente", acrescentou.
Renan Filho disse que sentiu ainda uma certa amarra do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. "Senti que o ministro gostaria de ter um discurso técnico. Disse lá que a gente precisa de um ministro na Saúde como o Paulo Guedes é na economia, dando a toada. Se ele puder dizer o que precisa ser feito, será importante, assim como Paulo Guedes faz na economia, e o Bolsonaro diz que é com ele", declarou.
O governador alagoano disse que espera que o comitê para contenção da pandemia dê resultados, mas acredita que isso passa por uma participação mais forte do governo federal. "Eu sugeri que ela fosse conduzida pelo ministro, que vai fazer, em longo prazo, a política. Mas o presidente sugeriu que fosse o Rodrigo Pacheco que fizesse a interlocução com os governadores. Acho que essa interlocução não deve ser terceirizada. Até porque o Senado já faz, o Davi Alcolumbre já fazia; mas não cabe a ele o encaminhamento das coisas", finalizou.
