Polícia

Dona de livraria onde acontecia ensaio de grupo de rap diz que abordagem da PM foi ''arbitrária''

De acordo com Érika Santos, os polícias não foram averiguar realmente a denúncia por som alto, mas sim, tentar silenciar as letras das músicas que denunciam a violência policial

Por Laura Nascimento* 21/07/2023 16h04 - Atualizado em 21/07/2023 17h05
Dona de livraria onde acontecia ensaio de grupo de rap diz que abordagem da PM foi ''arbitrária''
Érika Santos - Foto: Cortesia ao JAL

Após as denúncia feitas pelas redes sociais da livraria Novo Jardim e do grupo Guerrilha Poética, o Jornal de Alagoas entrou em contato com Érika Santos, uma das idealizadoras da livraria, que deu mais detalhes sobre o que aconteceu durante a abordagem policial. De acordo com ela, que foi abordada, houve racismo sim e arbitrariedade. 

“A abordagem foi racista no sentido de que, segundo o policial, houve denúncia por parte de algum vizinho em relação ao som alto, mas a verificação dos decibéis não foi feita, os policiais sequer entraram para verificar se havia som”, destacou Érika.

Ela também relatou para a reportagem que ficou apreensiva durante a ação, por estar em “uma casa que luta contra toda opressão realizada nas periferias, que luta para que os jovens não tenham como opção somente o crime estruturado pelo Estado”, explicou.

Nessa última quarta-feira (19), foi denunciada por Richard um dos proprietários da livraria Novo Jardim
, no bairro da Cidade Universitária, parte alta de Maceió, uma abordagem durante o ensaio de um grupo musical no local, segundo os relatos do vídeo a abordagem teria sido sem motivo e de teor racista.

“A abordagem foi arbitrária porque a denúncia obviamente era em relação ao gênero musical (rap) e não ao som em si, pois nada foi verificado em relação ao volume do som. Ao contrário, foi realizada uma tentativa de silenciar as letras de denúncia presentes nas músicas do Guerrilha poética as quais, inclusive, denunciam a violência policial”, destacou Erika.

Erika ainda afirma que não tomou nenhuma medida legal a respeito do caso e que a prioridade no momento são os trabalhos da livraria. "Essa é nossa forma de mudar o quadro racista do nosso estado. Nossa resposta é continuar resistindo!”.

“Acredito que a comunidade precisa estar atenta sobre o papel social da arte, infelizmente, a cultura no nosso estado é também um plano de segregação. A cultura não é um plano feito para as periferias e nós acabamos fazendo por conta própria. Por esse motivo somos vistos como fazedores de algazarra, porque arte é conscientização e quando a comunidade se conscientiza, ela ameaça o estado que lucra com o nosso empobrecimento. Acho que não há uma resposta sobre como resolver, mas há um caminho que é o caminho da resistência”, desabafa Érika. 

O lançamento do livro do autor alagoano, Gabriel Montilla, onde aconteceria a apresentação ensaiada, está mantido e acontecerá nesse sábado (22), a partir das 16h na livraria Novo Jardim, espaço de produção cultural e literária alagoana, localizado na periferia de Maceió. O local também recebe autores e promove a integração entre escritores e público, através de encontros, lançamentos, unindo a literatura a várias expressões artísticas. 

Até o momento, a informação da PM é que não teve conhecimento do caso, mas orienta a parte envolvida que procure a Corregedoria Geral da PMAL para formalizar a devida denúncia, a fim de que se possa proceder a apuração dos fatos.

* Estagiária sob supervisão