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Brasileira acusada de posse de drogas no Camboja aguarda sentença após julgamento

Família afirma que Daniela Marys foi vítima de tráfico humano e de uma armadilha criminosa; decisão judicial será anunciada em 12 de novembro

Por Redação* 24/10/2025 10h10 - Atualizado em 24/10/2025 10h10
Brasileira acusada de posse de drogas no Camboja aguarda sentença após julgamento
Brasileira presa no Camboja é vítima de tráfico humano, adoeceu na prisão e família perdeu R$ 27 mil em golpe - Foto: Reprodução

A brasileira Daniela Marys de Oliveira, presa no Camboja por posse de drogas, passou por julgamento no país, mas a sentença será proferida apenas no dia 12 de novembro. A família, que mora em João Pessoa (PB), afirma que ela foi vítima de tráfico humano após aceitar uma falsa proposta de emprego e acabou sendo incriminada por uma organização criminosa.

Segundo informações obtidas pelo g1, Daniela segue detida em uma penitenciária cambojana conhecida por casos de superlotação, mortes e inundações. A família reforça que ela não foi flagrada com entorpecentes — as cápsulas de droga foram encontradas em um banheiro coletivo — e que a brasileira teria sido vítima de uma armação.

Como funciona o julgamento no Camboja


De acordo com um documento da Human Rights Watch, o código de processo penal do Camboja prevê que a sentença não seja emitida no mesmo dia do julgamento. O procedimento segue várias etapas: após o indiciamento pela polícia, o promotor decide se abre processo judicial. O caso é então analisado por um juiz de instrução, que pode encerrar o processo ou encaminhá-lo ao tribunal de primeira instância, onde três juízes avaliam as acusações e definem a sentença.

Ainda segundo a organização, não há prazo fixo para a decisão final, mas normalmente o veredito é divulgado em até duas semanas após o julgamento — tempo destinado à elaboração do relatório com as fundamentações dos juízes.

Daniela está nessa fase processual e, conforme documento obtido pelo g1, o resultado será divulgado no dia 12 de novembro.

Casos semelhantes e tráfico humano no Sudeste Asiático


A presidente da ONG The Exodus Road no Brasil, Cíntia Meirelles, afirma que situações como a de Daniela são frequentes no Sudeste Asiático, onde redes de tráfico humano aliciam vítimas com promessas falsas de emprego.

“O que chama ainda mais atenção é que parte dessas redes é composta por brasileiros aliciando seus próprios conterrâneos, por meio das redes sociais, com falsas promessas de emprego e oportunidades no exterior”, disse Cíntia.

De acordo com a ONG, mais de 300 mil migrantes estão atualmente sendo traficados para a região, muitos forçados a participar de crimes, inclusive cibernéticos, sob ameaças e coerção.

“Casos como o de Daniela evidenciam a urgência de fortalecer campanhas de prevenção ao tráfico de pessoas, com foco em alertar a população sobre os riscos e métodos de aliciamento”, afirmou a presidente da organização.

Quem é Daniela Marys


Natural de Minas Gerais, Daniela morava em João Pessoa desde novembro de 2024. Formada em Arquitetura e fluente em inglês, ela enviou currículos para o exterior e aceitou uma vaga de telemarketing no Camboja, mesmo contra a vontade da família.

Após o embarque, em janeiro de 2025, a comunicação com os parentes foi interrompida em março, quando a família passou a receber mensagens de golpistas se passando por Daniela, exigindo o pagamento de US$ 4 mil (cerca de R$ 27 mil) por uma suposta multa contratual. Pouco tempo depois, a brasileira ligou para a mãe relatando que havia sido presa injustamente por posse de drogas.

O que diz o Itamaraty


Em nota, o Itamaraty informou que acompanha o caso e presta assistência consular à brasileira.

“A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas”, diz o comunicado.

O Ministério das Relações Exteriores registrou, em 2024, 63 casos de brasileiros vítimas de tráfico internacional de pessoas, sendo 41 deles no Sudeste Asiático.

*Com informações do G1 PB