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Ufal presta solidariedade à Mãe Mirian e repudia ameaças dirigidas à ialorixá

Recentemente ela recebeu homenagem da Universidade com o título de Doutora Honoris Causa

Por Ascom Ufal 05/09/2025 14h02 - Atualizado em 05/09/2025 15h03
Ufal presta solidariedade à Mãe Mirian e repudia ameaças dirigidas à ialorixá
Apoio à Mãe Mirian e repúdio à intolerância religiosa, ao racismo e à falta de humanidade - Foto: Reprodução

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) divulgou, nesta sexta-feira (5), uma nota de posicionamento repudiando as recentes ameaças sofridas pela ialorixá Mirian Araújo Souza Melo, conhecida como Mãe Mirian - Yá Binan, de 91 anos. 

Segundo a instituição, Mãe Mirian é uma importante liderança sagrada das religiões de matriz africana em Alagoas e guardiã de saberes ancestrais. 

"Não é possível silenciar nem naturalizar a persistência do ódio religioso, do racismo estrutural e da barbárie contra corpos e espiritualidades negras neste país. O que se atenta contra Mãe Mírian é mais que violência individual: é a repetição de um projeto genocida e epistemicida que insiste em tentar eliminar o que resiste, floresce e ilumina há séculos", diz a universidade em nota.

As ameaças foram registradas nos últimos dias após ela receber uma homenagem da instituição com o título de Doutora Honoris Causa, que é um grande reconhecimento pela sua contribuição notável para as artes, ciências, cultura, ou para benefício da humanidade, sem a necessidade de ter concluído um doutoramento acadêmico formal.

Veja abaixo a nota na íntegra:


Nota de repúdio e solidariedade à Mãe Mirian – Iyá Binan

A Universidade Federal de Alagoas, por meio desta nota, ergue sua voz em irrestrita solidariedade à Mãe Mírian – Iyá Binan, mulher negra, anciã de 91 anos, guardiã de saberes ancestrais e liderança sagrada das religiões de matriz africana em nosso estado. Diante das recentes ameaças de morte que lhe têm sido dirigidas, expressamos, com veemência, nosso mais profundo repúdio.

Não é possível silenciar nem naturalizar a persistência do ódio religioso, do racismo estrutural e da barbárie contra corpos e espiritualidades negras neste país. O que se atenta contra Mãe Mírian é mais que violência individual: é a repetição de um projeto genocida e epistemicida que insiste em tentar eliminar o que resiste, floresce e ilumina há séculos.

A história do Estado de Alagoas, em que a quebra de Xangô ceifou vidas, apagou terreiros e marcou gerações com dor, lamentavelmente ainda tenta se repetir nos gritos da intolerância religiosa.

Há exatos sete dias, esta universidade, com honra e coragem, concedeu a Mãe Mírian o merecido título de Doutora Honoris Causa, num gesto de reparação histórica, de reconhecimento de sua trajetória e do valor de sua sabedoria, tantas vezes invisibilizada pelos cânones coloniais do saber.

O terreiro é também escola de muitas pessoas que ali acorrem e Mãe Mírian é, com todo mérito, além de mãe biológica, mão de santo, mulher nordestina aguerrida, Doutora de um Brasil profundo que se nega a morrer.

A Ufal não será cúmplice da intolerância. Estaremos ao lado de Mãe Mírian, como estivemos ao reconhecê-la Doutora Honoris Causa, e como estaremos enquanto houver racismo, preconceito ou opressão a ser combatido, caminhando sempre na luta por um Brasil onde caibam todas as fés, todos os saberes e, acima de tudo, todas as vidas.