Neste sábado (1º), a drag queen e DJ alagoana Gigis Banks, persona artística do jovem Giseldo Carlos, de 21 anos, sobe ao palco do Festival Carambola, na Arena Alagoas, em Jacarecica, Maceió. Dividindo o line-up com grandes nomes da música nacional, como Juçara Marçal, Luedji Luna e Marina Sena, Gigis promete um set vibrante, marcado por sonoridades pop e referências à cultura ballroom, que ela tem ajudado a movimentar na capital alagoana.

A artista, natural do município de São Miguel dos Campos e residente no bairro da Santa Amélia, em Maceió, conquistou projeção nacional após viralizar no YouTube com o remix “Marina Sena - Get it Shawty & Mais de Mil (Gigis Banks RMX)”, que soma quase 1 milhão de visualizações. O sucesso do mashup foi tão grande que chegou aos palcos: a própria Marina Sena usou a versão em um de seus shows fora do estado.

“Foi um susto ver a repercussão que deu. As visualizações começaram a crescer muito rápido e, graças a esse remix, conquistei várias oportunidades — inclusive a de estar no palco do Carambola”, contou Gigis.

Trajetória de resistência e brilho

Por trás da maquiagem e dos holofotes, está Giseldo Carlos — DJ, dançarino, cantor, produtor cultural e um dos nomes mais atuantes da cena artística LGBTQIAPN+ alagoana. Ele dá vida à personagem Gigis Banks, que nasceu em um evento acadêmico da Escola Técnica de Artes da Ufal (ETA-Ufal), onde estudava dança.

“Foi no segundo dia de uma semana acadêmica que decidi colocar pra fora essa vontade de performar como Gigis. Ela nasceu ali, no Dia Internacional da Dança”, relembra.

O nome da drag une um apelido de escola, “Gigis”, ao sobrenome “Banks”, inspirado na personagem Giovana Banks, do jogo The Sims. “O ‘Banks’ também remete a glamour, dólar, dinheiro”, explica. “Gigis é uma válvula de escape pra fugir da realidade, porque não é fácil sobreviver de arte em Maceió — e no Nordeste em geral.”

A trajetória de Giseldo não foi simples. Ele relata que enfrentou bullying na escola e resistência dentro da própria família. “Minha mãe não aceitava, minha família pedia pra eu orar pra Deus mudar minha cabeça. Eu escondia perucas e sapatos debaixo da cama”, contou.

Mesmo diante das dificuldades, Gigis construiu uma carreira ascendente. Hoje, ela é presença confirmada em eventos como a Fecha Malegaga (Recife) e Fecha Fuzuê (Aracaju), além de ser destaque em ballrooms dentro e fora de Alagoas — tendo conquistado um Grand Prize em São Paulo na categoria Pumped Up Beat, que premia beats autorais criados por DJs.

O som de uma geração

No Festival Carambola, Gigis Banks apresentará dois sets especiais. O primeiro, logo após o show de Marina Sena, vai misturar pop brasileiro e música ballroom, com destaque para sons de artistas que inspiraram sua trajetória. “Quero levar a energia lá pra cima e preparar o público pra chegada da Luedji Luna”, contou.

Após a performance de Luedji, Gigis retorna ao palco para encerrar o festival com um set voltado ao pop internacional e batidas house e vogue beat — referências diretas à cultura ballroom. “É o momento de celebrar a potência da arte drag e da produção LGBT”, diz.

Do sonho à consagração

O convite para tocar no Carambola é, para Gigis, a realização de uma meta traçada há alguns anos. 

“Quando comecei, fiz uma lista de metas. Se em dez anos eu não as alcançasse, era sinal de que não era pra mim. Em pouco mais de um ano, já tinha alcançado todas. E o Carambola estava entre as próximas”, revela.

Hoje, ao ver seu nome no mesmo palco de artistas como Marina Sena e Luedji Luna, Gigis entende que sua arte rompeu barreiras. “É um divisor de águas. Ver meu trabalho chegando nesse lugar é muito validador. E eu quero que as pessoas entendam que o que eu faço tem propósito. Que existe arte, luta e amor em cada beat.”

Com carisma, talento e resistência, Gigis Banks representa uma nova geração de artistas alagoanos que transformam a música e a performance em instrumentos de afirmação e liberdade — levando do underground maceioense aos grandes festivais o brilho da arte drag.