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Do manguezal aos adereços alegóricos: Renda-se passeia pelas raízes do Brasil profundo com a edição 2025
Evento de arte e moda alagoana aconteceu nos dias 18 e 19 deste mês, na Associação Comercial, em Maceió, em comemoração aos cinco anos de projeto; edição contou com premiação em dinheiro

O filé, renda que leva a identidade e a tradição cultural do povo alagoano, ganhou novos contornos e texturas na edição 2025 do Renda-se, evento de moda e arte local voltado para mostrar e valorizar trabalhos de estilistas e estudantes de moda de Alagoas. O evento aconteceu nos dias 18 e 19 deste mês, no amplo salão da Associação Comercial, localizada no bairro histórico de Jaraguá, em Maceió, em comemoração aos cinco anos do projeto.
Do manguezal à brisa da orla marítima da capital, das calças, blusas bufantes e tiaras coloridas dos anos 70 aos adereços alegóricos, o Renda-se passeou, nesta edição, pelas raízes das Alagoas multifacetadas, trazendo para mais perto o colorido quase onírico e místico de Elke Maravilha e os tecidos naturais, estampas tropicais e as linhas do protesto da estilista brasileira Zuzu Angel. Essas personalidades foram as grandes homenageadas este ano.
Na plateia, entre os convidados estavam autoridades e pessoas influentes em Alagoas, como a secretária de Planejamento de Estado e filha do governador Paulo Dantas, Paula Cintra Dantas, que também desfilou na passarela pela coleção Memorando, da estilista Vanessa Batista. Além de Marina Candia, primeira-dama de Maceió; artistas, produtores de moda e jornalistas, como Lis Nunes e Estela Nascimento.
No total, 14 estilistas profissionais e oito estudantes tiveram que criar uma coleção cápsula composta por onze looks temáticos, utilizando sempre dos princípios da sustentabilidade, desde a escolha dos materiais até o processo de fabricação. Dos onze peças, nove tinham que ter a renda filé em suas estruturas, na forma de renda singeleza, ponto cruz, bordado com fitas e pedras, ou outro tipo de técnica.
Os looks tiveram como inspiração os temas Fio da Liberdade e Maravilha Atemporal, além de Essência Casual, Oásis, Vanguardista & Vital, Raízes Urbanas, Encanto do Sertão, Alma Brasileira, Essência do Agora, Alma Criativa e Singeleza Imperial.

"Foi uma edição muito importante e significativa. A cada ano a gente tem um olhar muito mais criterioso, muito mais profissional e amadurecido. O próprio projeto traz essa percepção para os selecionados. O legado é justamente este: a descoberta de talentos, o desenvolvimento desse talento e dessa criatividade. O objetivo é mostrar que há estilistas criativos em Alagoas, para que saiam do anonimato, que a pessoas conheçam, saibam e valorizem o trabalho", destacou Fábio Elias, representante do patrocinador Magazine Luiza.
Para ele, foram cinco anos de evento que não foram apenas flores, mas a trajetória de muito trabalho possibilitou que sementes fossem plantadas e muitos frutos surgissem com o passar do tempo. "A lição que nós tiramos é que Alagoas é competente demais, ela consegue ter tudo nos mínimos detalhes: o artesanato, a criatividade, as cores das rendas, as rendeiras fazendo sua renda na beira da lagoa de uma forma quase romântica. Então eu acho que é essa poesia, esse trabalho e essa referência que o projeto carrega. Isso tudo chega a ser um ouro, um diamante para muita gente, e é isso que dá um gás para a gente todo ano", refletiu.
O diretor criativo do projeto, Rodrigo Ambrósio, também agradeceu o envolvimento dos estudantes e de toda a produção para que o evento acontecesse no local. "Sempre bom o Feito à Mão ser valorizado. A gente estar dentro de uma casa secular é muito representativo para a cultura alagoana. Estar aqui é um privilégio para a gente. Fico muito feliz também em ver os estudantes com a cabeça fresca, com muitas ideias e inovando na cena local", afirmou.

Da rede de pesca à moda performática
Os estilistas e os estudantes se destacaram no evento utilizando diversos tipos de materiais e técnicas, como renda, malha, bordados, texturas, uso de mosaicos com pedrarias, redes que lembraram de pescadores, couro ecológico, fios de látex, jaquetas estilo puffer, sobreposições, pintura no tecido, passando pelos urbano, moderno e vanguardista.
O primeiro dia foi contemplado pelos estilistas profissionais. Entre eles, os destaques foram Giulio Marques, com a coleção Vozes; Alcidean Prado, coleção Central do Brasil; Vanessa Batista, com a coleção Memorando; e Johnson Alves, com a coleção Delírios.
No segundo dia, foi a vez dos estudantes brilharem. Os destaques foram Felipe Tales, com a coleção Arcadus; Lays da Trindade (Jangada); Lucila Douca (Resistência); e Rafael Neto (Primeiro Voo), que mesclou a performatividade excêntrica dos looks que Elke Maravilha utilizava, sendo os adornos alegóricos o centro da atenção. Havia também um pouco da energia voraz de Ney Matogrosso, que inclusive foi muito lembrado em um determinado momento do desfile em que Rafael caminhou de uma forma dramática e expressiva, como quem estava prestes a voar.
Felipe Tales foi um dos estudantes que participou do Renda-se pela primeira vez. Ele contou que a coleção que criou teve como inspiração a Antiguidade Grega, a Arcádia, sob uma ótica do mistério e do enigma. Para Tales, foi uma surpresa apresentar o trabalho na passarela do Renda-se.
"Eu não achava que ia entrar dentro do Renda-se, porque é um festival enorme. Foi muito gratificante para mim, porque eu admiro muito o projeto como estudante de moda, estou muito feliz. Foi lindo também ver meus professores ali assistindo, me ver colocando em prática o que eu aprendi com eles. Foi muito bom", concluiu.

Premiação
Esta edição contou com a premiação do melhor trabalho Renda-se 2025, nas categorias estilista profissional e estudante. O estilista Johnson Alves, natural de Arapiraca, levou a melhor e conseguiu o prêmio de R$ 15 mil, com a coleção Delírios. Segundo o profissional, o trabalho fala sobre delírios de um processo de criação e o potencial que uma mente criativa pode ter ao contemplar o vazio e o exagero.
"A coleção tem esse processo mesmo da fala do delírio. Eu estava em um processo em que construía uma coleção dentro de outra coleção, era um delírio total da minha cabeça, e daí veio o nome da coleção 'Delírio de uma mente vazia', que de vazia não tem nada, ela estava cheia, repleta de ideias e conceitos, maluquices", contou o estilista, que utilizou duas cores para o trabalho: off-white e azul claro, tons que se conversaram e que tiveram pontos de cor apenas nos detalhes de um vermelho, por exemplo.
Alves também disse que ficou muito feliz ao ver que ganhou o prêmio, ainda mais em sua terra natal. "Foi a segunda vez que participei e consegui sentar e desenvolver. Fiquei extremamente emocionado em ganhar o prêmio porque foi o primeiro evento que ganho em Alagoas. Eu tenho participado de outros projetos fora, como o Dragão Fashion Brasil e o Fashion Week, mas é representativo ganhar no estado que nasci, e ainda mais como a melhor coleção", disse.
A outra premiada foi a estudante de moda Lays da Trindade, que ganhou R$ 8 mil. Ela criou a coleção Jangada e trouxe para a passarela a magia dos vestidos longos e grandes chapéus de praia, com um toque terroso, de marfim, braços cobertos e camadas que lembraram o estilo marinheiro mais contemporâneo. Em seu momento de fala, Lays agradeceu o apoio da família e amigos.
"Eu fiquei até sem palavras nesse momento. Quero agradecer a todos mundo que estavam comigo nesse processo, foi muito difícil, e foi meu primeiro desfile. Estou muito feliz", comemorou.

