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Alagoas celebra o primeiro Dia Nacional do Maracatu nesta sexta (1º)
Data simboliza também a retomada de parte da memória e da ancestralidade alagoanas que foi calada por quase cem anos após o Quebra de Xangô

Após um século de silêncio imposto pelo episódio de intolerância religiosa conhecido como Quebra de Xangô, de 1912, quando os terreiros alagoanos foram violentamente reprimidos e os tambores se calaram, Alagoas celebra pela primeira vez, nesta sexta-feira (1º), o Dia do Maracatu. A data foi instituída nacionalmente no fim do ano passado pela Lei 15.018, da Presidência da República.
Hoje, Alagoas conta com pelo menos dez grupos de maracatu ativos. Mas a retomada é recente: se deu em 2007, depois de quase cem anos de silêncio, a partir da iniciativa do percussionista Wilson Santos, que ministrou uma oficina de maracatu em Maceió.
A oficina deu origem ao primeiro grupo percussivo de maracatu após o Quebra de Xangô, o Maracatu Baque Alagoano, e desde então os tambores voltaram a ecoar, reacendendo a chama da tradição e inspirando a criação de novos coletivos culturais no estado.
“O dia de hoje é emblemático, pois mais que o som dos tambores, a data reverencia um marco histórico de resistência e de renascimento cultural. Antes do Quebra, o maracatu era expressão viva das comunidades periféricas e dos terreiros de Xangô, entrelaçado à religiosidade afro-brasileira e à identidade negra. E isso nos foi calado. Então hoje celebramos a retomada da memória, da dignidade e da ancestralidade”, afirma Wilson Santos.
O ressurgimento do ritmo em Alagoas vem ganhando cada vez mais força e impulsionando a criação de grupos diversificados, como o Maracatu Yá Dandara – primeiro grupo de maracatu exclusivamente feminino do estado – e o embrionário Sankofa, coletivo percussivo que agrega outros ritmos e sonoridades afro e da cultura popular alagoana ao maracatu, com base no bairro do Vergel do Lago e adjacências e coordenação da Orquestra de Tambores de Alagoas.
“O maracatu ressurgiu no estado, definitivamente, como símbolo da força ancestral do povo alagoano. Esse patrimônio cultural brasileiro está nas ruas, hoje, como expressão de resistência, arte e espiritualidade, reafirmando o papel da cultura popular como instrumento de transformação social”, conclui Wilson.
