Cooperativismo

Cooperativismo lidera discussões sobre produção sustentável de café no país

Se tornou comum as cooperativas criarem programas, feiras, iniciativas e propostas que trazem o tema para a discussão entre os cooperados, associados, colaboradores e clientes

Por MundoCoop 22/02/2024 09h09
Cooperativismo lidera discussões sobre produção sustentável de café no país
Cooperativismo lidera discussões sobre produção sustentável de café no país - Foto: Reprodução

Sustentabilidade combina com cooperativismo, sobretudo nos tempos atuais, em que todas as instâncias sociais buscam alternativas para preservar o meio ambiente e harmonizar os relacionamentos entre as pessoas e a coletividade. Portanto, se tornou comum as cooperativas criarem programas, feiras, iniciativas e propostas que trazem o tema para a discussão entre os cooperados, associados, colaboradores e clientes.

Um exemplo disso, é o Dia Internacional do Cooperativismo, o CoopsDay, que no ano passado trouxe como tema o Cooperativismo pelo desenvolvimento sustentável com a ideia de disseminar que sustentabilidade e cooperativismo andam de mãos dadas. Nesse caso, por tanto, o objetivo é ainda maior, o de trazer para dentro das cooperativas uma cultura que una o desenvolvimento econômico com maneiras justas e responsáveis, envolvendo a inclusão social e a preservação dos recursos naturais.

O fato é que a filosofia do cooperativismo já traz em seus princípios a sustentabilidade e é exatamente isso o que as diferencia dos demais negócios. Por tudo isso, o movimento está à frente das demais organizações, no que diz respeito, em especial a estrutura de gestão e governança preocupadas em gerenciarem os impactos socioambientais.

Mário Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB, explica que as práticas ESG (ambiental, social e governança), tão comentadas atualmente no mundo corporativo, já fazem parte dos princípios e valores das cooperativas e isso deve ser enfatizado em suas gestões. “Um aspecto relevante é o monitoramento contínuo do desempenho por meio de indicadores nas três perspectivas ESG e na perspectiva financeira, visando à análise e tomada de decisões em tempo hábil. A articulação com parceiros externos, como fornecedores, poder público, outras cooperativas, entidades de classe, startups, universidades, entre outros é também essencial na geração de conhecimento e identificação de oportunidades de negócio que possam garantir não só a sobrevivência, mas o desenvolvimento das cooperativas”, lembra Márcio.

É indiscutível, a cooperativa que deseja ter sucesso e se destacar no cenário econômico e social precisa desenvolver uma mentalidade sustentável, não só com relação ao meio ambiente, mas no mundo dos negócios.

Das Feiras aos projetos
Dentro desse aspecto, várias cooperativas têm criado, desenvolvido e se preocupado em trazer para os seus cooperados o assunto sustentabilidade. Um dos projetos em destaque é o Programa Fazenda Sustentável, destinado aos cooperados da Frísia Agroindustrial, que possibilita ao produtor a venda de seus créditos de carbono no mercado internacional.

Outros projetos como o Água Vida, coordenado pela Ceriluz, envolve a comunidade de estudantes na preservação e recuperação das nascentes.

Projetos como Lixo Zero, da Viacredi, cumprem o papel de sensibilizar os seus colaboradores sobre a destinação correta dos resíduos ambientais. Nele, os resultados foram tão positivos que houve a reciclagem de 41 toneladas de resíduos sólidos.

No mesmo rumo segue o Programa Descarte Certo, da Capal Cooperativa Agroindustrial, que auxilia os cooperados no descarte dos resíduos veterinários, como as vacinas e as agulhas usadas. Ele já recolheu mais de dez toneladas de material.

Cooperativas, como a Coocafé, que tem mais de 10 mil cooperados distribuídos nas regiões de Matas de Minas, montanhas do Espírito Santo e o norte do Rio de Janeiro, tem investido em parcerias com a NetZero, startup francesa que produz biochar. Para isso foi construída uma usina, que está em funcionamento na cidade mineira de Laginha. A ideia é aplicar o biochar nas lavouras de café para favorecer o combate às mudanças climáticas, reduzindo a emissão de carbono no ar, melhorando a qualidade do solo e aumentando a retenção de água e nutrientes. A organização investe também no biocarvão, que conta com uma geração de energia.

Fora isso, a cooperativa investe em vários projetos sociais, como o Probem, Escola no Campo e Geração Cooperativa, entre outros. Cleberson Santos, Analista de Desenvolvimento Cooperativista da Coocafé, lembra que a sustentabilidade está na essência da cooperativa, por meio de seus projetos, programas, parcerias, ações, alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. “Para 2024, pretendemos avançar ainda mais no que diz respeito a sustentabilidade, meio ambiente e ações voltadas ao nosso 7° princípio do cooperativismo: o interesse pela comunidade”, destacou Santos.

Além dos projetos e parcerias, algumas cooperativas têm investido em feiras, como a Cooxupé, Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé, organização que se transformou em cooperativa em 1957 e tem investido nos produtores de café das regiões de Minas Gerais.

O tema sustentabilidade se tornou um dos assuntos mais importantes da cooperativa, tanto que foi amplamente discutido na Feira do Cerrado de 2024, dos dias 7 a 8 de fevereiro.

A ideia do evento, que teve como destaque neste ano “Cooperativismo: Construindo o Futuro Sustentável das Gerações”, foi apresentar soluções para um futuro de produção mais sustentável do café por meio do uso de máquinas, implementos, insumos agrícolas e das últimas inovações e tecnologias para a cafeicultura.

A Feira que acontece desde 2010 proporciona aos cooperados e produtores da região novas oportunidades de negócios no núcleo da Cooxupé, em Minas Gerais, que atende, somente na região, mais de 2.510 mil famílias cooperadas. Dirceu Gonçalves, Gerente de Núcleo da Cooxupé relata que o evento foi pensado para atender a demanda e necessidade dos cooperados, no que se refere ao manejo sustentável de sua atividade.

60 expositores em 11 mil metros quadrados
Nos dois dias, a Feira do Cerrado reuniu cerca de 60 expositores em uma área de 50 mil metros quadrados e contou com a presença de instituições financeiras.

Durante os dias foram apresentados equipamentos autônomos, revendas de drones, inovações na classificação de cafés cerejas, além dos lançamentos de tratores em um espaço exclusivo para serviços prestados pela cooperativa. Além da apresentação do protocolo de sustentabilidade Gerações, uma marca da própria cooperativa. “O evento evidenciou produtos e serviços, como o stand da SMC (speciality coffees), sua fintech vect.ag, serviços de seguros em geral, sua própria torrefação e apresentou uma área completa e robusta chamada espaço pecuária”, lembra Dirceu.

A organização tem destinado especial atenção ao Protocolo de Sustentabilidade Gerações, que tem como objetivo melhorar a produção e trazer para as mesmas ações sustentáveis.

A proposta conta com o apoio da SCS Global Services, um órgão global de certificação com mais de 40 anos de experiência no setor ambiental, sustentabilidade e de qualidade de alimentos. Para isso, a Cooxupé disponibiliza equipes capacitadas para darem apoio aos cooperados em suas práticas e protocolos sustentáveis.

Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé explica, que a Feira do Cerrado se tornou uma grande vitrine de máquinas, implementos e insumos agrícolas para as propriedades cafeeiras. Oferecendo aos cafeicultores, experiências únicas e a oportunidade de efetuarem as suas compras em condições especiais, com financiamentos ou mediante a troca de seus cafés.

“O evento foi de uma magnitude excepcional, cooperados (as) foram muitos participativos em presença e negócios. A ideia foi apresentar máquinas, insumos, serviços que promovem a tecnologia e tornem o seu cotidiano mais produtivo e seguro. A importância do evento é que ela aproximar os cooperados, fortalece o cooperativismo, possibilita a realização de bons negócios para a cooperativa, os cooperados e os parceiros comerciais. Para o futuro planejamos sua expansão física e em negócios, mesclando as culturas de café e cerais”, descreve Dirceu.

Para Hemerson Bovi, 52 anos, cooperado há mais de 20 anos e que frequenta a feira desde a sua primeira edição, o evento é fundamental e já se tornou parte de sua rotina. Ele conta que atualmente as feiras da cooperativa fazem parte de seu calendário de compras de insumos e maquinários. “Ela permite a aquisição com o nosso próprio produto, o café, de maneira simples e sem burocracia. Além de trazer novidades, seja em maquinário, produtos ou técnicas. Nesse ano, o meu objetivo foi comprar irrigação”, finaliza Bovi.