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Superkilonova inédita pode revelar explosão dupla rara

Descoberta desafia modelos de evolução estelar

Por Sputinik Brasil 24/12/2025 18h06 - Atualizado em 24/12/2025 19h07
Superkilonova inédita pode revelar explosão dupla rara
Fenômeno foi capturado por imagens - Foto: © Foto / Caltech/K. Miller and R. Hurt (IPAC)

A possível identificação da primeira superkilonova — uma explosão dupla raríssima, em que uma supernova é seguida pela fusão de estrelas de nêutrons — pode revolucionar o entendimento sobre a evolução estelar.

A descoberta, liderada por pesquisadores do Caltech, foi guiada por ondas gravitacionais que levaram astrônomos até um enigmático clarão localizado a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra. O fenômeno, inédito, sugere que uma estrela pode explodir duas vezes: primeiro como supernova e, em seguida, como kilonova.

O ponto de partida da investigação foi a detecção de uma onda gravitacional em 18 de agosto de 2025, registrada pela colaboração LIGO-Virgo-KAGRA. A partir desse sinal, astrônomos localizaram rapidamente um objeto transitório, batizado de AT2025ulz, cuja luminosidade lembrava a histórica kilonova GW170817, observada em 2017.

Assim como o evento de 2017, AT2025ulz apresentou um brilho vermelho associado à criação de elementos pesados, como ouro. No entanto, após o desaparecimento desse brilho, o objeto voltou a emitir luz, desta vez com hidrogênio em seu espectro — característica típica de supernovas, mas incomum em kilonovas. Essa combinação inesperada levantou a hipótese de que ambos os fenômenos ocorreram em sequência.

Pesquisadores já haviam sugerido que, em situações excepcionais, uma supernova poderia ejetar duas estrelas de nêutrons. Se essas estrelas colidissem imediatamente, produziriam uma kilonova logo após a explosão inicial. No caso da AT2025ulz, a fusão teria ocorrido dentro da própria estrela em explosão, ocultando parte do sinal sob a massa ejetada, segundo o astrônomo Brian Metzger.

Outro aspecto surpreendente do fenômeno é que um dos objetos envolvidos na fusão parecia ter massa inferior à de uma estrela de nêutrons típica. Isso desafia os modelos atuais de evolução estelar, já que a formação de estrelas de nêutrons subestelares ainda não foi observada e permanece difícil de explicar. Entre as hipóteses, estão a fissão de uma estrela massiva em rotação extrema ou a fragmentação de um disco de gás formado após o colapso estelar.

No cenário da fragmentação, uma estrela com pelo menos 20 massas solares colapsaria em um disco giratório que, em poucos segundos, se dividiria em múltiplos aglomerados. Cada um desses aglomerados poderia colapsar rapidamente em estrelas de nêutrons de baixa massa, em um processo semelhante à formação de planetas em discos ao redor de protoestrelas, segundo Metzger.

Embora as conclusões ainda sejam preliminares, o caso da AT2025ulz reforça como o Universo segue desafiando expectativas e ocultando fenômenos complexos por trás de sinais enigmáticos. Os cientistas destacam que mais observações serão necessárias para confirmar a existência de superkilonovas e alertam que futuras kilonovas podem se disfarçar como supernovas, tornando sua identificação ainda mais desafiadora.