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Superidosos: o grupo com mais de 80 anos que mantém memória jovem
Universidade Northwestern realiza estudo sobre o assunto há mais de 25 anos
Um estudo realizado pela Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, impressiona por estar redefinindo os padrões entre envelhecimento e perda de atividade cerebral. São os superidosos, um grupo de pessoas acima de 80 anos com memória similar ao que se espera aos 50 anos de idade.
A pesquisa acompanhou 290 pessoas durante 25 anos. Os cientistas avaliam a memória destes idosos através do Teste de Aprendizagem Del Rey, que utiliza uma série de palavras simples de alta frequência no idioma, com etapas de evocação imediata, evocação tardia e reconhecimento. Para classificar alguém como superidoso, o critério é rigoroso: ter a memória de alguém pelo menos 30 anos mais jovem.
O volume de tecido no córtex cerebral desses idosos, conhecido como volume cortical, também impressiona. O córtex é a camada externa do cérebro essencial para o pensamento consciente.
"É uma surpresa ver um nonagenário capaz de se lembrar de tanta informação nova, quando às vezes vejo pacientes de 50 ou 60 anos com dificuldades em um teste de memória bem mais simples", afirma Molly Mather, uma das pesquisadoras e professora assistente de Psiquiatria e ciências do comportamento na Universidade de Northwestern.
Um dos achados mais surpreendentes da pesquisa foi na região do giro cingulado, região do cérebro fundamental em vários processos relacionados à motivação, tomada de decisões, emoções e sociabilidade. De acordo com os pesquisadores, o giro cingulado dos superidosos possuía uma espessura cortical maior até mesmo de participantes neurotípicos de 50 ou 60 anos de idade.
Post-mortem
De acordo com estudos realizados postumamente no cérebro de superidosos, esse grupo possui muito mais neurônios de Von Economo, ou neurônios em fuso, que desempenham um papel fundamental nas interações sociais e no desenvolvimento de comportamentos sociais complexos.
Essa descoberta levanta outro traço importante: os superidosos gostam de manter relações sociais sólidas.
Os cientistas também descobriram que os neurônios entorrinais, células cruciais para a memória, são maiores neste grupo do que em pessoas da mesma idade.
Não há uma fórmula
Desde o início da pesquisa, 290 superidosos já participaram do estudo e 77 cérebros foram submetidos à autópsia para tentar entender o que torna esse grupo resistente ao declínio cognitivo. Atualmente, há 133 participantes ativos.
"Alguns superidosos pareciam seguir todas as recomendações imagináveis para levar uma vida saudável. Outros não comiam bem, fumavam, bebiam, evitavam exercício físico, passavam por situações estressantes e não dormiam direito”, conta Martin Wilson em seu artigo What We Can Learn From SuperAgers (O que podemos aprender com os superidosos).
"Não existe uma fórmula simples. Quem sabe talvez um dia tenhamos, mas acredito que estamos longe de conseguir. Há muitas coisas que ainda não entendemos", destaca a professora Molly Mather.
*Com informações da BBC News


