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Unaids aponta que enfrentamento das desigualdades pode reduzir impacto de pandemias

Relatório destaca que fatores sociais alimentam crises sanitárias recorrentes, como a da Covid-19

Por Redação* 17/12/2025 10h10
Unaids aponta que enfrentamento das desigualdades pode reduzir impacto de pandemias
Unaids diz que combate a desigualdades pode reduzir pandemias - Foto: Agência Brasil

O Conselho Global sobre Desigualdades, Aids e Pandemias apresentou a versão em português do relatório “Rompendo o ciclo da desigualdade – pandemia – construindo a verdadeira segurança na saúde em uma era global” durante a 57ª Reunião da Junta de Coordenação do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). O encontro também marca o debate da estratégia global de enfrentamento da Aids para o período de 2026 a 2031, que deverá ser encaminhada para negociação com os países do G20.

O Brasil ocupa atualmente a presidência do conselho do Unaids, agência da ONU responsável por coordenar a resposta internacional à epidemia. Segundo a entidade, o momento é considerado decisivo diante da redução expressiva da assistência internacional, como os cortes promovidos pelo governo dos Estados Unidos, que resultaram em retração no financiamento de ações de prevenção, tratamento e pesquisa.

Escolha política


“A desigualdade não é inevitável. É uma escolha política - e uma escolha perigosa, que ameaça a saúde de todos. Quem se preocupa com o impacto das pandemias precisa se preocupar com a desigualdade. Os líderes podem quebrar esse ciclo aplicando as soluções políticas apresentadas neste relatório”, afirmou Monica Geingos, ex-primeira-dama da Namíbia e integrante do conselho.

O documento reúne evidências de que desigualdades e determinantes sociais exercem influência direta no surgimento e na propagação de pandemias. Também aponta a existência de um ciclo vicioso, no qual desigualdade e crises sanitárias se reforçam mutuamente.

"Os altos níveis de desigualdade favorecem a ocorrência e a disseminação de surtos e dificultam as respostas nacionais e internacionais, tornando as pandemias mais longas, letais e disruptivas.

Baseado em dois anos de pesquisas e encontros realizados em diferentes países, o relatório aponta também que as pandemias ampliam as desigualdades, alimentando um ciclo perverso que se repetiu em crises como a da Covid-19, da Aids, do Ebola, da Influenza, da Mpox, entre outras", destaca o estudo, ao indicar fatores de risco e medidas necessárias para respostas mais eficazes a novos surtos.

Vulnerabilidade


De acordo com o relatório, níveis elevados de desigualdade entre países ampliam a vulnerabilidade global, prolongam a duração das pandemias e elevam o número de mortes. Em sociedades mais desiguais, o risco de óbito é maior, enquanto a redução da pobreza contribui para aumentar a resiliência das comunidades diante de epidemias.

Nos últimos cinco anos, essas disparidades se aprofundaram, especialmente entre países. A pandemia da Covid-19 resultou em maior concentração de renda e, atualmente, mesmo com a chegada de tecnologias inovadoras aos sistemas de saúde — como injeções de longa duração para prevenção do HIV —, o acesso continua condicionado por fatores econômicos.

O estudo também reforça conclusões consolidadas por pesquisas anteriores, indicando que a demora no enfrentamento das pandemias amplia seus efeitos negativos sobre o desenvolvimento. Segundo o relatório, ao aprofundarem desigualdades e enfraquecerem a capacidade global de resposta, doenças persistentes como Aids, malária e tuberculose figuram entre as principais ameaças à saúde pública mundial.

Desigualdades


Para o Conselho Global sobre Desigualdades, Aids e Pandemias, há evidências consistentes de que esse ciclo pode ser interrompido. O grupo defende uma nova abordagem de segurança sanitária global, baseada em ações práticas e viáveis nos âmbitos nacional e internacional. “Precisamos agir juntos contra as desigualdades, as quais tornam as pandemias mais prováveis, letais e custosas. Políticas de proteção social e sistemas de saúde resilientes são fundamentais para a preparação e a resposta. Garantir que medicamentos e vacinas possam ser desenvolvidos e produzidos em todo o mundo, em uma perspectiva regional e local é outro aspecto vital para a saúde global.”, afirmou um especialista.

Como diretriz para fortalecer a segurança sanitária, o conselho apresenta quatro recomendações fundamentadas na abordagem de Prevenção, Preparação e Resposta (PPR). Entre elas estão a reorganização do sistema financeiro, com renegociação de dívidas e revisão de políticas de austeridade; investimentos na prevenção dos determinantes sociais das pandemias por meio de proteção social; fortalecimento da produção local e regional e de uma nova governança em pesquisa e desenvolvimento, com compartilhamento de tecnologias como bem público; e, por fim, a construção de maior confiança, equidade e eficiência por meio de redes de governança multissetoriais entre governos e sociedade civil.

*Com informações da Agência Brasil