Ciência, tecnologia e inovação
Saúde mental e hormônios: como as emoções podem afetar nosso cérebro
Oscilações hormonais podem causar depressão e ansiedade, dizem cientistas
Muitos estudos ao longo dos anos tentaram explicar os efeitos das emoções no cérebro. As descobertas realizadas permitiram entender de onde vêm sensações como a felicidade, tristeza e até mesmo o amor. Investigar a origem do que nos faz humanos também ajuda a entender como funcionamos.
Cientistas já descobriram que existe uma relação direta entre os neurotransmissores, mensageiros químicos do nosso cérebro, e os hormônios, que atuam na nossa corrente sanguínea. Sentir afeta diretamente nossa mente, podendo causar uma série de efeitos em longo prazo, como a perda de memória, dificuldade para dormir e até mesmo para tomar decisões.
"Os hormônios realmente afetam o nosso humor e as nossas emoções", afirma a professora de psicologia Nafissa Ismail, da Universidade de Ottawa, no Canadá. "Eles interagem com os neurotransmissores produzidos e liberados em regiões específicas do cérebro e também influenciam processos como a morte celular ou a neurogênese, quando novos neurônios nascem ou são criados", explica.
Diferentes emoções causam diferentes tipos de consequências. Ao ser submetido ao estresse, por exemplo, o corpo libera altos níveis de cortisol, que instrui o corpo a liberar açúcar no fluxo sanguíneo, fornecendo energia para o corpo atuar em casos de emergência.
"O eixo HPA é ativado quando a pessoa está estressada", explica Liisa Hantsoo, professora de psiquiatria e ciências comportamentais da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. "A curto prazo, isso é ajustável, pois ajuda o corpo a lidar com o estresse. Mas, a longo prazo, pode ser prejudicial." Consequências como inflamações no cérebro que destroem neurônios de regiões cruciais, como a amígdala e o córtex pré-frontal, prejudicando a memória, o humor e a concentração, já foram constatadas por pesquisadores.
"A amígdala é a região do cérebro que nos permite controlar as emoções. E a perda de volume naquela região é associada ao aumento da emotividade, da irritabilidade e à dificuldade de controle dessas emoções negativas”, explica a professora de psicologia Nafissa Ismail, da Universidade de Ottawa, no Canadá.
Por outro lado, a oxitocina, conhecida como o hormônio do amor, é famosa por ajudar a promover sentimentos confortáveis, como a gentileza. O artigo “Oxitocyn Increases Generosity In Humans”, publicado por cientistas da Georgia State University, nos Estados Unidos, comprovou que essa substância torna as pessoas mais generosas, cooperativas, empáticas e mais propensas a confiar em estranhos.
"A oxitocina foi associada à conexão e à sensação de ligação segura e, naturalmente, isso ajuda a combater os efeitos do estresse Quando nos sentimos seguros e percebemos que existe apoio à nossa volta, isso reduz os níveis de cortisol que poderão ter aumentado devido ao estresse”, afirma Isnail.
Os diferentes níveis hormonais no corpo humano são responsáveis pelo surgimento de distúrbios como a depressão e ansiedade, e entender como essas oscilações agem no cérebro tem ajudado a desenvolver novos tratamentos para estas condições. Há também atividades que ajudam a regular os índices hormonais naturalmente, como a prática de exercícios físicos.
"Quando os pacientes consultam seu médico e se queixam de mudanças de humor, uma das primeiras medidas é verificar seu perfil hormonal, pois, muitas vezes, quando conseguimos corrigir o hormônio que está alterado, podemos ajustar o humor. Sabemos que os hormônios afetam o humor e a saúde mental, mas precisamos descobrir como eles atuam, antes de criar os tratamentos adequados", destaca Nafissa Ismail.


