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Injetar vitamina em grávida para 'aumentar QI da criança' não tem respaldo médico e pode intoxicar mãe e filho

Protocolo que ganhou popularidade nas redes sociais, não tem base científica e pode causar intoxicação em gestantes e fetos

Por G1 02/09/2025 11h11 - Atualizado em 02/09/2025 11h11
Injetar vitamina em grávida para 'aumentar QI da criança' não tem respaldo médico e pode intoxicar mãe e filho
Hipervitaminose: vitaminas em excesso colocam pacientes em risco e já levam a internações graves no Brasil - Foto: Reprodução/Fantástico

Um protocolo chamado "superbebê" propõe administrar vitaminas e aminoácidos em gestantes para aumentar o QI e melhorar a imunidade dos bebês. A técnica, que ganhou popularidade nas redes socais, não tem comprovação científica e pode colocar mães e filhos em risco.

Segundo um médico ouvido pela reportagem, “a suplementação do chamado protocolo superbebê pode gerar intoxicações, além de sobrecarregar o fígado e os rins da criança”, diz Dr. Dráuzio Varela.

A técnica prevê o uso de vitaminas antes da 12ª semana de gestação, mas órgãos de saúde como a OMS e o Ministério da Saúde recomendam apenas ácido fólico e ferro durante a gravidez.

Casos de intoxicação por excesso de vitaminas já ocorrem com frequência no Brasil. Em São Paulo, a corretora Ana Paula Fernandes relatou que, após receber três injeções de vitamina B12 e D, “começaram os problemas. Dor, muita dor ao andar e me mexer. Minha vida de um ano para cá realmente modificou muito”. Ela precisou passar por quatro cirurgias para tratar complicações e sequelas causadas pelas aplicações.

Outro caso grave envolve a aposentada Tecla Maria Sena Silva, que recebeu de um dentista um mix de oito vitaminas para tratar dores associadas à osteoporose. A dose era quatro vezes superior ao recomendado e a paciente quase precisou de hemodiálise.

“Foi muito grave”, relatou, passando dois meses na UTI. Profissionais alertam que a hipervitaminose — excesso de vitaminas no organismo — pode causar falência renal, intoxicação cerebral e lesões em outros órgãos.

Hipervitaminose: dados preocupam

A Anvisa registrou 240 notificações de problemas com suplementos vitamínicos desde o ano passado, sendo 28% de efeitos graves. Além disso, mais de 62 mil anúncios irregulares foram retirados da internet.

É uma indústria que movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano.

“Excesso de vitamina pode alterar a função renal, causar lesão hepática e até ser fatal”, afirma o endocrinologista Clayton Macedo, do Hospital das Clínicas.
O hepatologista Raimundo Paraná também alerta que a prática se tornou um mercado lucrativo e sem respaldo científico. “Milhões de brasileiros utilizam suplementos sem informações adequadas, e as pessoas acabam adoecendo”, afirmou.

Estudo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia mostra que a moda já atinge hospitais públicos. “Isso se tornou um problema de saúde pública. Temos pacientes intoxicados em unidades de diálise e UTIs”, disse Macedo.

No consultório, especialistas reforçam que a suplementação só deve ser feita em situações de deficiência comprovada. O nutrólogo Alfio Borghi Souza resume: “Suplementação sem orientação médica coloca pacientes em risco”.

A recomendação é simples: frutas, verduras, legumes, feijão, arroz e carnes já oferecem os nutrientes necessários. “Quanto mais cor você encontrar no prato, mais vitaminas você terá ali”, explicou Souza.