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Abelha brasileira pode ser 'arma secreta' contra dengue, diz estudo

Pesquisa da USP aponta morte de 100% das larvas do Aedes aegypti em 48 horas

Por Globo Rural 07/08/2025 10h10
Abelha brasileira pode ser 'arma secreta' contra dengue, diz estudo
A substância é capaz de eliminar de 90% a 100% o mosquito transmissor da dengue - Foto: Canva/Creative Commons

O combate à dengue, doença que matou mais de 6 mil pessoas no Brasil em 2024, conforme dados do Ministério da Saúde, ganhou um aliado. E não estamos falando das medidas preventivas, como evitar água parada ou manter caixas d’água bem fechadas.

De acordo com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB) e de duas startups de Ribeirão Preto (SP), uma molécula (diterpeno) encontrada no própolis produzido pela abelha Melipona quadrifasciata, chamada popularmente de mandaçaia e que não possui ferrão, mata larvas do Aedes aegypti.

O estudo publicado pelo grupo na revista científica Rapid Communications in Mass Spectrometry mostra que a substância é capaz de eliminar de 90% a 100% o mosquito transmissor da dengue, febre amarela urbana, chikungunya e zika em 48 horas.

Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) envolvido na pesquisa, destaca que as abelhas, na missão de auxiliar na manutenção da biodiversidade, também podem atuar como protetoras contra diversas doenças durante o trabalho de coleta de materiais na natureza para formar colmeias.

“Fizemos uma série de análises na geoprópolis, que mistura resinas vegetais com partículas de terra ou argila em sua composição e observamos que o diterpeno presente nela era responsável pela atividade larvicida”, diz.

A descoberta de Camila Capel Godinho, Juliana Massimino Feres, Laila Salmen Espindola, Lorena Carneiro Albernaz, Luís Guilherme Pereira Feitosa, Norberto Peporine Lopes, Ricardo Vessecchi e Thais Guaratini, além de ser importante no combate à dengue, é uma alternativa natural diante dos inseticidas tóxicos.

Como foi o estudo?

Os pesquisadores coletaram geoprópolis da mandaçaia na seiva do pinus em Bandeirantes (PR) ao observarem que a abelha sem ferrão visita a árvore com frequência e apontaram o diterpeno como o mais provável agente larvicida após comparação com o própolis tradicional produzido pela abelha Apis mellifera, que possui ferrão.

“Era sabido que a composição química é influenciada pelas resinas coletadas para a construção e proteção dos ninhos, assim como pela composição florística do ambiente, do bioma e de fatores sazonais. Nesse caso, ficou claro que a resina do pinus, processada pela saliva das mandaçaias, é que proporciona a ação”, afirma Luís Guilherme Pereira Feitosa.

Conheça a mandaçaia

A abelha nativa do Brasil está distribuída geograficamente por Estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, abrangendo áreas até da Argentina e do Paraguai, e é uma das preferidas entre os meliponicultores pelo comportamento calmo, boa produção de mel e capacidade de adaptação a diferentes ambientes.

Gabriel Benoski, meliponicultor e fundador do projeto Abelhando Mundo Afora, explica à Globo Rural que a mandaçaia organiza colônias com 400 a 600 abelhas-operárias e produz, em média, 1,5 a 2,5 quilos de mel.

"É uma abelha que poliniza muitas plantas. No Sul, por exemplo, é muito eficiente em pomares de maçã e é utilizada para essa finalidade junto com a Apis mellifera (com ferrão)".