Política

Família de Kleber Malaquias acredita que assassinato foi crime político

Circunstâncias em que se deu o homicídio reforçam a suspeita da família

Por Jornal Extra 18/07/2020 08h08
Família de Kleber Malaquias acredita que assassinato foi crime político
Kleber Malaquias / Foto: Reprodução

De acordo com matéria publicada no dia 17 deste mês no Jornal Extra, Familiares do empresário Kleber Malaquias de Oliveira, assassinado a tiros na tarde da última quarta-feira, (15) não têm dúvida de que o crime ocorreu por motivos políticos.

As circunstâncias em que se deu o homicídio reforçam a suspeita da família. De acordo com o Boletim de Ocorrências da Secretaria de Segurança Pública, o empresário foi emboscado por dois homens quando se dirigia ao banheiro no Bar da Buchada, localizado na Mata do Rolo, em Rio Largo, onde comemorava com amigos o aniversário de 41 anos.

O histórico de Malaquias ao longo dos últimos oito anos também levanta a possibilidade de que o assassinato tenha sido praticado por vingança, além das características de crime de execução. Ele foi atingido por três disparos de armas de fogo, um deles na nuca.

A família e amigos acreditam que tenha havido luta corporal, já que ele estava com as roupas rasgadas quando foi encontrado, já morto, no acesso ao banheiro do estabelecimento.

De acordo com as testemunhas, dois homens desconhecidos na região foram os autores do crime que está sob investigação do delegado Lucimério Campos.

Em entrevista exclusiva para o Extra, o delegado preferiu não adiantar qualquer detalhe, lembrando que ainda estava na fase de coleta de provas que possam levar aos atiradores e eventuais mandantes. Lembrou, contudo, que o histórico de denúncias de Malaquias dá margem à possibilidade de ter havido uma emboscada.

Kleber Malaquias é uma figura conhecida da imprensa local. Há oito anos, ele chegou a pedir proteção ao Conselho Estadual de Segurança (Conseg). Na época, afirmou que vinha sofrendo ameaças por conta de denúncias feitas contra o então prefeito de Rio Largo, Antônio Lins de Souza Filho, o Toninho Lins. O pedido foi negado, já que ele mesmo revelara estar residindo em outro estado.

Em 2015, entrou com ação contra a Prefeitura de Mata Grande, acusando a gestão de Jacob Brandão de calote. Sócio da locadora de veículos Vem Pra K Rent a Car, ele cobrava o recebimento de R$ 350 mil, valor do calote que recebera e que, segundo suas denúncias, envolviam um esquema de desvio de recursos com a participação do então vereador Júlio Brandão, irmão do prefeito e presidente da Câmara Municipal.

O ano de 2016 ele foi entrevistado pelo Fantástico, programa dominical da Rede Globo, como testemunha-chave contra o desembargador Washington Luiz Damasceno de Freitas, então presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas e alvo de investigações no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tratava-se de reclamações disciplinares que levaram ao afastamento do magistrado por mais de dois anos, mas que acabaram arquivadas diante da ausência de provas concretas.

O caso mais contundente alvo da reportagem do Fantástico envolvia a tentativa de assassinato contra o juiz Marcelo Tadeu. Segundo Malaquias, o crime teria sido encomendado pelo desembargador e um de seus irmãos, Wellington Damasceno Freitas, insatisfeitos com a atuação do magistrado.

Malaquias afirmou ter testemunhado uma conversa entre Washington Luiz e o irmão na qual decidiram pela morte do juiz.

A tentativa de assassinato de Marcelo Tadeu se deu em julho de 2009 e resultou na morte de um turista, o advogado mineiro Nudson Harley de Freitas, executado por sua semelhança com o magistrado alagoano.

Embora tenha chegado ao CNJ, o caso foi arquivado por conta da existência de uma ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que já investigava o possível envolvimento do desembargador na tentativa de assassinato contra o juiz. Até hoje não se sabe o desfecho do processo, cuja tramitação em segredo de justiça sequer possibilita saber em que fase o mesmo se encontra.


LIGAÇÕES PERIGOSAS

Kleber Malaquias e a jornalista Maria Aparecida de Oliveira se tornaram as principais testemunhas de acusação contra o ex-prefeito Cristiano Matheus, de Marechal Deodoro, e o juiz Léo Dennisson. Por vários anos titular da única Vara da Comarca do município, o magistrado acabaria afastado por determinação do CNJ, alvo de uma investigação para apurar as suspeitas de venda de sentenças num esquema que beneficiaria o então prefeito e do qual receberia mensalmente a quantia de R$ 50 mil, o que lhe deu o apelido de Léo Cinquentinha.

Da mesma forma que Dennisson, que continua afastado, Washington Luiz também foi acusado de manter suspeitas ligações com Cristiano Matheus, seu ex-genro. O ex-prefeito foi casado com a secretária Estadual de Cultura, Mellina Torres Freitas, filha do desembargador.

Malaquias e Maria Aparecida depuseram duas vezes, por meio de videoconferência, como testemunhas nos procedimentos instaurados pelo CNJ, a primeira em maio de 2017, no procedimento que apurava a conduta do desembargador. A segunda se deu em outubro de 2018 no âmbito da reclamação disciplinar contra o juiz Léo Dennisson.

O empresário morto a tiros na última quarta-feira era, aliás, um dos maiores provocadores de processos no Conselho Nacional de Justiça, autor de 13 reclamações contra magistrados alagoanos no período de 2015 a 2019. Algumas foram arquivadas pela própria Corregedoria Nacional de Justiça após ouvido o Tribunal de Justiça, uma praxe comum para saber se a reclamação merece ou não prosperar.

GALDINO E WASHINGTON
 

A reclamação mais recente de Malaquias no CNJ envolve novamente Washington Luiz. Trata-se da Reclamação Disciplinar n° 0007100-69.2019.2.00.0000, que deu entrada em setembro do ano passado e na qual acusa o desembargador e o juiz Galdino Vasconcelos de perseguição.

O processo teve sua primeira movimentação em janeiro último, quando o corregedor Nacional de Justiça substituto Emmanoel Pereira determinou que o TJ fosse ouvido acerca da denúncia.

Pereira é quem conduz os processos que envolvam magistrados alagoanos em função do fato de o titular, Humberto Martins, ser de Alagoas.

Em fevereiro último ele recebeu da Corregedoria Geral de Justiça alagoana a informação de que a denúncia envolvendo o juiz Galdino Vasconcelos integra o procedimento administrativo 0000087-02.2020.8.02.0073 e foi encaminhada para análise do presidente do TJ, Tutmés Airan.

Já no caso de Washington Luiz, a CGJ destacou não possuir competência para investiga-lo por se tratar de um desembargador. Desta forma, a apuração deve ficar no âmbito do CNJ.

SEQUESTRO E TORTURA

Também em setembro do ano passado, Kleber Malaquias usou as redes sociais para denunciar ter sido vítima de sequestro e tortura e apontou como autor um homem que identificou apenas por “Léo” e que seria aliado do prefeito Gilberto Gonçalves, de Rio Largo.

Durante quase dois anos Malaquias fez severas críticas à gestão de Gonçalves, a ponto de o prefeito ter entrado com uma ação de injúria contra o empresário em 2017, acusando-o de denegrir sua imagem. O processo, contudo, não prosperou porque, segundo o juiz não foram apresentadas provas de autoria.

Galdino Vasconcelos foi aposentado na semana passada por decisão do Pleno do Tribunal de Justiça. Foram duas punições de aposentadoria compulsória, uma pelo recebimento ilegal de auxílio-moradia durante o período em que foi juiz de Pão de Açúcar e residia em um imóvel cedido pela prefeitura e outra pela revogação da prisão preventiva e soltura injustificada de narcotraficantes que haviam sido presos em flagrante com 620 quilos de maconha.

De acordo com amigos, Kleber Malaquias havia se aliado a Gilberto Gonçalves recentemente e trabalhava atualmente como assessor na Prefeitura de Rio Largo, embora seu nome não conste da lista de servidores no portal da transparência do Município.