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“O meu sentimento hoje é de revolta”: conselheira denuncia negligência no caso de jovem em jaula de leoa

Gerson tinha um histórico de acompanhamento por órgãos de assistência social e saúde, mas, segundo relatos, não recebeu o tratamento adequado ao longo de sua vida, o que contribuiu para o trágico fim

Por Redação 01/12/2025 09h09 - Atualizado em 01/12/2025 10h10
“O meu sentimento hoje é de revolta”: conselheira denuncia negligência no caso de jovem em jaula de leoa
Verônica Oliveira e Gerson de Melo Machado - Foto: Reprodução/Correio Braziliense

O domingo (30) foi marcado por uma tragédia no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa (PB). Gerson de Melo Machado, conhecido como "Vaqueirinho", de 19 anos, morreu após entrar na jaula de uma leoa, sendo atacado pelo animal. O incidente foi registrado por visitantes que estavam no local e, rapidamente, as imagens se espalharam nas redes sociais, gerando grande repercussão.

Gerson tinha um histórico de acompanhamento por órgãos de assistência social e saúde, mas, segundo relatos, não recebeu o tratamento adequado ao longo de sua vida, o que contribuiu para o trágico fim.

Verônica Oliveira, conselheira tutelar que acompanhou Gerson desde a infância, fez um relato emocionado sobre a trajetória do jovem. Ela revelou que Gerson foi diagnosticado com esquizofrenia ainda muito cedo, aos 10 anos de idade, mas que o sistema de saúde e os profissionais de saúde mental falharam em proporcionar a ele o acompanhamento necessário. Segundo Verônica, apesar de seu diagnóstico ser visível, as autoridades insistiram que ele tinha apenas "problemas comportamentais" e não transtornos mentais graves.

"O Gerson precisava de tratamento, que não foi oferecido a ele. Gerson passou por todos os acolhimentos institucionais dessa cidade, mas nunca recebeu o cuidado adequado. Ele era filho de uma mãe esquizofrênica, neto de avós esquizofrênicos, e mesmo assim os psiquiatras insistiam que ele era apenas um menino que não se adequava aos espaços porque tinha um problema comportamental", afirmou Verônica.

A conselheira também expressou sua revolta em relação à falta de providências que poderiam ter evitado o ocorrido. "O meu sentimento hoje é de revolta. É de revolta porque eu nunca me calei diante dos absurdos de violações de direitos que este cidadão, que amanhã vai ser sepultado, sofreu. Ele era para estar em tratamento, não estava. Ele não precisava estar atrás das grades, ele precisava estar em um tratamento psiquiátrico", desabafou Verônica.

Gerson, durante sua infância e adolescência, foi atendido pelo Conselho Tutelar de Mangabeira, um bairro de João Pessoa, onde foi constantemente acolhido em instituições. No entanto, os pedidos de apoio psiquiátrico especializado foram ignorados ou não atendidos adequadamente, como relata a conselheira.