Aos 70 anos, a camponesa Maria de Fátima Abade Barbosa, mulher negra e filha de quebradeira de coco babaçu, rompeu um ciclo de poucas oportunidades educacionais ao apresentar seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Licenciatura em Educação do Campo – Artes, na Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT). A defesa ocorreu no dia 13 de novembro, no campus de Tocantinópolis, no norte do estado.

A universidade divulgou, na última quinta (27), o vídeo do momento da apresentação, que rapidamente viralizou na web.

Em seu trabalho, intitulado “Nunca é Tarde para Aprender: A história de vida de uma mulher preta que foi excluída do processo educacional de ensino”, Maria de Fátima narrou sua trajetória marcada por décadas afastada da escola e refletiu sobre a importância da educação na formação de identidades e na reconstrução de dignidades. O TCC foi orientado pela professora Iara Rodrigues da Silva.

O curso de Licenciatura em Educação do Campo – Artes, oferecido pelo Centro de Educação, Humanidades e Saúde (CEHS), tem duração de quatro anos e busca formar educadores atentos às lutas sociais, à cultura e à realidade das populações rurais — contexto vivido de perto pela universitária.

Segundo a instituição, a estudante destacou em sua apresentação a educação como espaço de “resistência, reexistência e reconstrução de dignidade”. Para a orientadora, acompanhar o trabalho foi um percurso marcante. “Dona Fátima nos ensina que aprender é um gesto de resistência e que a universidade se fortalece quando acolhe histórias como a sua. Seu memorial é um documento vivo, uma escrita que cura e inspira”, afirmou a professora Iara Rodrigues.

A banca avaliadora foi composta pelas professoras Lindiane de Santana e Mara Pereira da Silva. A pesquisa contou ainda com a colaboração do acadêmico Vinicius Maciel, que ajudou a registrar a trajetória da estudante.

A apresentação emocionou o público presente e foi aprovada com louvor. De acordo com a UFNT, a história de Maria de Fátima reforça o compromisso institucional com o acolhimento, a valorização de diferentes trajetórias e a integração dos saberes tradicionais no ambiente acadêmico.