Municípios
MPF cobra explicações sobre mortes de peixes-boi em Porto de Pedras e amplia investigação sobre contaminação
Laudos da Ufal apontam presença de herbicidas agrícolas e compostos derivados de petróleo na água; caso envolve mortes de dois peixes-boi símbolos da conservação alagoana

O Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas solicitou explicações ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ao Instituto do Meio Ambiente (IMA/AL) sobre as mortes de dois peixes-boi marinhos ocorridas no Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras, no litoral norte do estado. A investigação, que apura uma possível contaminação hídrica, foi prorrogada pelo órgão.
Os animais, identificados como Netuno e Paty, viviam em um recinto de aclimatação mantido pelo ICMBio e morreram nos dias 21 e 22 de agosto de 2025. A situação foi comunicada ao MPF pela Associação Peixe-Boi, que atua na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais. As mortes causaram comoção entre moradores, ambientalistas e profissionais do turismo local, que veem os peixes-boi como símbolo da região.
Resultados dos laudos
Um relatório técnico da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), anexado ao inquérito, identificou presença de herbicidas agrícolas do tipo ametryn e prometryn nas amostras de água coletadas no rio. Essas substâncias, usadas em plantações de cana-de-açúcar e milho, não possuem uso doméstico ou industrial, o que indica origem agrícola da contaminação.
O estudo também revelou níveis elevados de turbidez, com grande quantidade de partículas em suspensão, além de concentrações acima do limite de ferro e fósforo. Foram detectados ainda compostos orgânicos derivados de petróleo, como etilbenzeno e tolueno. Embora os resultados não determinem de forma conclusiva a causa das mortes, os dados apontam desequilíbrio químico e poluição capazes de comprometer o ecossistema e afetar os mamíferos aquáticos da região.
Espécie símbolo da conservação
Os peixes-boi marinhos são considerados espécies emblemáticas da conservação ambiental no litoral norte de Alagoas, fundamentais para o turismo sustentável da Rota Ecológica dos Milagres. Um terceiro animal do grupo, Assu, sobreviveu e foi transferido para a base do ICMBio em Itamaracá (PE), onde segue em recuperação.
A procuradora da República Juliana Câmara destacou a importância de apurar as causas e reforçar a proteção ambiental:
“O peixe-boi é mais do que um símbolo ambiental — ele representa o equilíbrio entre a natureza e as comunidades que dela dependem. Entender o que causou essas mortes é essencial para proteger não apenas a espécie, mas todo o ecossistema do Tatuamunha”, afirmou.
O MPF informou que continuará acompanhando o caso para garantir a responsabilização em caso de dano ambiental, além de cobrar medidas preventivas que evitem novos episódios semelhantes e assegurem a preservação da biodiversidade alagoana.
*Com informações da Assessoria
