Municípios
Pesquisadores da Uneal apontam ligação entre mineradora e aumento de tremores em Arapiraca
Estudo relaciona sismos em Arapiraca à atividade da mineradora Vale Verde em Craíbas; mais de 80 abalos foram registrados desde 2020

A curta distância entre Arapiraca e Craíbas, de apenas 17 quilômetros, pode ser a chave para entender o aumento expressivo dos tremores de terra no Agreste de Alagoas nos últimos anos. É o que aponta uma pesquisa inédita realizada por pesquisadores da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), que relaciona os eventos sísmicos à instalação da mineradora Vale Verde, no Povoado Serrote da Laje, zona rural de Craíbas.
Intitulada “Sismicidade no Agreste Alagoano: entre falhas e interferências antrópicas no relevo dos municípios de Arapiraca e Craíbas”, a pesquisa será apresentada no 15° Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO), em agosto, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. Os autores do trabalho são os geógrafos Willian Macksuel Almeida Melo e Sandro Maciel dos Santos, do campus da Uneal em Arapiraca.
O estudo integra dados do Laboratório Sismológico da UFRN (LabSis) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), mapeando mais de 80 tremores em cada um dos dois municípios desde 2020 — números considerados altos para uma região historicamente de baixa sismicidade.
Segundo os pesquisadores, os tremores são resultado de uma combinação entre falhas geológicas naturais e ações humanas, sobretudo a mineração. A análise espacial mostra que os abalos se concentram em áreas próximas às frentes de extração mineral e coincidem com regiões de estruturas geológicas instáveis.
“Embora exista uma predisposição natural, há fortes indícios de sismos induzidos por ações antrópicas, como explosões controladas e rebaixamento do lençol freático”, explicou Willian Almeida. Para ele, o cenário exige políticas públicas de monitoramento sísmico, planejamento urbano e gestão de riscos.

A mineradora Vale Verde, em operação desde 2020 com foco na extração de cobre, nega qualquer relação com os tremores e afirma adotar práticas ambientais baseadas em ESG e dentro das normas brasileiras. No entanto, denúncias de moradores apontam para rachaduras em imóveis e sensação constante de instabilidade.
Relatório recente da Defesa Civil mostrou que o número de casas com fissuras em Craíbas subiu de 50 para mais de 350, sendo mais de 100 condenadas por risco de desabamento.
Com Tribuna Independente.
