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Critério técnico é contestado e especialistas apontam influência da mineração da Braskem nos Flexais
Reunião técnica confirma correlação entre deslocamentos do solo e atividade minerária; critérios de risco podem ser revistos
Uma reunião técnica realizada nesta quarta-feira (19) reuniu Defensorias, Ministérios Públicos, pesquisadores independentes e representantes da Braskem para discutir os fenômenos que afetam o solo da comunidade dos Flexais, em Maceió. O encontro reforçou aquilo que moradores denunciam há anos: os deslocamentos e rachaduras registrados na região têm relação direta com as minas de sal-gema exploradas pela Braskem ao longo de 40 anos, somados à fragilidade natural da encosta e à proximidade com a lagoa.
Participaram do debate representantes da DPE/AL, MPF, MP/AL, DPU, além de órgãos responsáveis pelo monitoramento das áreas de risco desde 2018. Também estiveram presentes pesquisadores autores do relatório independente: Marcos Hartwig (UFES), Magdalena Vassileva (PhD), Fábio Furlan Gama (INPE) e Djamil Al-Halbouni (Leipzig).
Durante o encontro, a própria equipe técnica da Braskem reconheceu que os dados de monitoramento mostram convergência dos deslocamentos do solo dos Flexais em direção às minas, exatamente como indica o relatório independente. Para os especialistas, o nexo causal está estabelecido, e a inclusão da comunidade no mapa oficial de áreas de risco é tecnicamente necessária.
Critério de subsidência é contestado
Um dos pontos mais debatidos foi o critério hoje usado para definir áreas de risco: a subsidência mínima de 5 mm ao ano. Pesquisadores afirmaram que esse parâmetro não possui validação científica e pode mascarar áreas vulneráveis. Movimentos menores que 5 mm já seriam capazes de gerar danos significativos, dependendo das características do solo e da infraestrutura local.
Apesar das críticas, a assessoria técnica da Braskem defendeu que a metodologia adotada em Maceió deveria ser considerada referência diante da complexidade geológica do caso. O argumento foi apoiado por representantes da Defesa Civil Nacional, Defesa Civil de Maceió e do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Novos dados serão compartilhados
Instituições de monitoramento informaram que 11 das 13 recomendações feitas pelo relatório independente já estão em andamento. Também revelaram possuir dados interferométricos, inspeções de campo e registros de fissurômetros que ainda não haviam sido entregues aos pesquisadores. Ao final, houve acordo para que todas as informações sejam repassadas, permitindo análise mais completa e possíveis ajustes nos critérios técnicos.
A reunião, realizada na sede do MPF, entre 14h30 e 19h45, foi integralmente gravada. A expectativa agora envolve as cerca de 3 mil famílias dos Flexais, que aguardam há anos a inclusão definitiva da área no mapa de risco, passo que ganha força com o novo respaldo técnico e reconhecimento institucional.
Com agências.


