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Aos 101 anos, Vó Celeste conquista aposentadoria após 40 anos de espera
Moradora de Roraima, agricultora criou 15 filhos e só agora teve o direito reconhecido pela Justiça

Celeste Lucas da Silva viveu mais de um século de trabalho e resistência. Agricultora no interior de Roraima, criou 15 filhos cultivando a terra e sustentando a família com o que produzia na roça. Aos 101 anos, ela finalmente realizou um sonho antigo: conquistou o direito à aposentadoria após quase quatro décadas de luta judicial.
A primeira tentativa foi em 1985, quando ficou viúva e passou a receber apenas a pensão do marido, já aposentado. Na época, a legislação restringia o benefício a um único membro da família que atuasse na produção rural, geralmente o homem. Sem documentos suficientes e enfrentando entraves legais, Celeste viu o processo ser negado diversas vezes.
Em 2020, aos 97 anos, a família decidiu retomar a batalha. O advogado Rhichard Magalhães, marido de uma das netas, entrou com nova ação em novembro de 2024. A Justiça reconheceu o direito ao benefício em março de 2025, e Celeste começou a receber em abril. “Foi uma luta grande, mas ficamos com a sensação de dever cumprido por realizar o sonho dela”, disse o advogado.
Nascida em 1923, Celeste cresceu em Bonfim, no Norte de Roraima, e passou a vida cultivando banana, mandioca, macaxeira, melancia e mamão. Sem acesso à escola, dedicou-se integralmente à roça e à criação dos filhos. Em 1991, mudou-se para Boa Vista, onde vive até hoje com a filha mais nova, Elizabeth da Silva Figueiredo.
A rotina da centenária é simples. Ela acorda cedo, se alimenta bem, descansa na varanda e ainda participa de tarefas leves, como descascar feijão. Recebe visitas frequentes dos filhos, netos, bisnetos e tataranetos, mantendo viva a convivência familiar. “Dou graças a Deus pela aposentadoria. Estou feliz, recebo minha aposentadoria e a pensão. Compro minhas coisas e assim estou vivendo”, celebrou Celeste.
Elizabeth, que cuida da mãe com dedicação, afirma que o segredo da longevidade está na fé e no afeto. “Ela é uma força, uma mulher de muita fé. Todo dia eu digo: ‘Eu te amo’. E ela sorri.”
Faltando menos de dois meses para completar 102 anos, Vó Celeste se prepara para celebrar mais um ciclo, agora com o reconhecimento que lhe foi negado por tanto tempo.
