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Cortes restringem funcionamento de parques e fiscalização de áreas ambientais
Há órgãos em que quadro de funcionários não é suficiente; parques nacionais enfrentam falta de recursos para pagar servidores. Governo diz que se esforça para solucionar falta de verba.

Sem orçamento, servidores de órgãos ambientais enfrentam dificuldades para fiscalizar áreas preservadas, licenciar novos espaços e manter o funcionamento de parques nacionais.
Associações ligadas aos órgãos afirmam que, para equilibrar as contas, terceirizados foram demitidos. Além disso, dizem que o quadro de servidores é baixo. A diminuição do efetivo prejudica bandeiras mundiais, como a preservação da amazônia, afirmam as associações.
No início do ano, o governo federal anunciou o corte de R$ 42,1 bilhões no orçamento. O contingenciamento foi feito para que o governo pudesse fechar o buraco de R$ 58,2 bilhões no orçamento e atingir a meta de déficit primário (despesas maiores do que receitas sem contar juros da dívida pública) de até R$ 139 bilhões em 2017.
Com o bloqueio nos gastos, o Ministério do Meio Ambiente teve R$ 518 milhões bloqueados. A restrição orçamentária vem prejudicando o andamento de serviços fundamentais de órgãos ligados à pasta.
Servidores lotados no Instituto Nacional do Meio Ambiente (Ibama) e no Instituto Chico Mendes (ICMBio) relatam que o corte orçamentário prejudica as viagens para operações de fiscalização, vistorias da área de licenciamento, proteção das unidades de preservação e a vigilância do patrimônio público.
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente disse que o corte está entre os menores percentuais do contingenciamento do governo federal. Ainda assim, a pasta alega que conseguiu o compromisso do Ministério do Planejamento de recompor todo os orçamento bloqueado (veja a íntegra da nota ao final desta reportagem).
Ainda segundo o MMA, "todos os esforços foram canalizados visando mitigar qualquer prejuízo às operações de fiscalização, vistoria e licenciamentos".
Baixo efetivo
No ICMBio, há unidades com apenas três servidores, como a área de Proteção Ambiental Barra do Rio Mamanguape (PB), onde o trio é responsável por 14 mil hectares.
A situação é mais crítica na unidade de Proteção Ambiental do Tapajós (PA): no quadro de funcionários, não há nenhum servidor, segundo o próprio instituto.
As instituições ambientais reivindicam novos concursos para os órgãos. No início do ano, o Ibama reiterou a necessidade de realização de concurso para 680 vagas de analista ambiental e administrativo. No entanto, ainda aguarda análise do Ministério do Planejamento para que o concurso seja realizado.
“Sem servidores, a qualidade das atividades que são prestadas cai, porque não tem servidor para cumprir o quatro necessário. Além disso, muitos servidores estão buscando aposentadoria e não há previsão de novo concurso”, disse o presidente da Associação Nacional dos Servidores Ambientais (Ascema), Emerson Aguiar
No ICMBio, o quadro de servidores é de 1.750. Desse número, 152 homens têm mais de 60 anos, enquanto 69 mulheres têm mais de 55 anos.
Parques nacionais
Em junho deste ano, o Parque Nacional de Brasília foi invadido à noite e foram levados computadores, impressoras, armamento e munição dos fiscais. A Associação dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Asibama-DF) afirma que o crime foi facilitado devido à falta de recursos e de pessoal.
“Isso ocorreu porque não tem recurso para novos contratos com terceirizados, que são responsáveis pela vigilância. Se isso está acontecendo na capital federal, imagina nas unidades mais afastadas”, alertou o presidente da Asibama, Jonas Moraes Correa.
No começo do ano, por falta de funcionários na limpeza e manutenção, o Parque Nacional das Emas (GO) foi fechado para visitação. Na época, apenas cinco pessoas trabalhavam no local, que é Patrimônio Natural da Humanidade.
O diretor do parque, Marcos Cunha, disse que as contas foram equilibradas. Ele afirma, porém, que a estratégia adotada no local é utilizar recursos de aprimoramento, que seriam para obras de ampliação e empreendimentos, no custeio e pagamento de terceirizados.
“A maioria das unidades está tendo que suprir parte das despesas com isso. Não é a solução ideal, mas é a única que a gente tem para manter serviços”, disse.
Desmatamento na Amazônia
No acordo de Paris, no ano passado, o Brasil prometeu zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e recuperar doze milhões de hectares de floresta para conter o aquecimento global.
A categoria defende que os cortes para o Ministério do Meio Ambiente prejudicam diretamente a promessa.
“Do ponto de vista institucional, esse contingenciamento afeta o nosso cumprimento de metas do Brasil em acordo internacionais”, destacou Emerson Aguiar, presidente da Ascema.
O desmatamento, que vinha em uma tendência de queda há alguns anos no Brasil, teve um aumento de 58% em 2016, segundo estudo da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Em viagem à Noruega, maior doador do Fundo Amazônia, o presidente Michel Temer precisou lidar com a insatisfação do governo norueguês com a condução da política ambiental no Brasil.
Segundo o engenheiro florestal e professor da Universidade de Brasília, Eleazer Volpato, os órgãos ambientais brasileiros nunca tiveram um serviço que andasse a frente do processo de desmatamento e com os cortes a situação tende a piorar.
“Com a falta de recurso agora o que estava ruim, ficou muito pior. Os próprios órgãos se sentem desmotivados”, defendeu o engenheiro.
