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Empresas sonegam informações sobre acidentes no trabalho em Alagoas

Por Mariane Rodrigues, estagiária 01/05/2015 07h07
Empresas sonegam informações sobre acidentes no trabalho em Alagoas

É dia do trabalho... Mas, ao que parece, não existem motivos para comemorar. Dados disponíveis pela Previdência Social  dos anos de 2011 a 2013 demonstram um decréscimo de acidentes e doenças do trabalho em Alagoas, no entanto, para o chefe do Núcleo de Segurança e Saúde do Trabalhador da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do estado de Alagoas, Elton Machado, a diminuição decorre  da ausência de informações por parte das empresas sobre os acidentes ocorridos.  

Somente em 2011 foram registrados 10.168 casos de acidentes e doenças nos locais de trabalho em Alagoas, contra 9.042 em 2012 e  6.822 em  2013, porém, isso não significa que houve, de fato, uma diminuição. “Aparentemente teria havido uma melhora significativa, com importante redução, mas a realidade é que as empresas passaram a sonegar mais as informações, aumentando a já imensa subnotificação dos acidentes que reina em nosso estado e no país como um todo”, afirma o chefe do Núcleo de Segurança e Saúde, Elton Machado.

A afirmativa traz como justificativa a intenção das empresas em reduzir as alíquotas do seguro de acidentes do trabalho a serem pagas ao INSS já que o cálculo passou a depender do número de acidentes/doenças do trabalho dos empregadores. 

 Em 2011 ocorreram 33 mortes e 340 aposentadorias por invelidez, contra 21 mortes e 399 aposentadorias por invalidez em 2012 e 29 mortes e 314 aposentadorias por invalidez em 2013. Os números acabam por desmentir as notificações de redução dos acidentes e mortes nos locais de trabalho. 

“Pode-se perceber que não foi registrada a brutal redução ocorrida nos registros de acidentes em geral. A diminuição foi pura e simplesmente um aumento vergonhoso na subnotificação”, constata Machado. 

Dentre as profissões mais suscetíveis a acidentes de trabalho no estado, encontram-se as dos setores sucroalcooleiro, devido ao uso de facões e acidentes graves envolvendo máquinas e tratores;  O setor hospitalar, que segue na segunda posição, sendo os objetos cortantes como lâminas, seringas e bisturis os grandes vilões dos profissionais da saúde; e em terceiro lugar, o setor da construção civil, com diversos registros de quedas de altura, soterramentos e choques elétricos.

Foi o que aconteceu, em 2002 com Luiz Alves Amorim de 63 anos,  ex funcionário da antiga companhia de energia elétrica, Ceal, e aposentado por invalidez.  Luiz Alves conta que ao subir no poste para ligar a energia de uma casa escorregou e caiu de uma altura de sete metros.  A queda provocou diversas lesões, dentre as quais: fratura na bacia, fratura na mão direita e a perna esquerda quebrada. Ele precisou passar por duas operações e permenece até hoje com a mão inválida.
 
“A minha mão ficou defeituosa, não sinto nada com ela porque o choque foi muito forte”, revela Amorim, logo após explicar que até hoje arca com o tratamento porque a empresa da qual trabalhava pagou os medicamentos somente durante três meses, tempo em que ele se aposentou, se desvinculou da companhia e teve seu plano de saúde cortado. “Eu fiquei com muitas dores. Tenho que ir para o médico constantemente para fazer raio x e eu vou viver para o resto da vida assim”.

A história de Luiz Alves é um somente um exemplo de tantas outras que acontecem não somente em Alagoas, como no Brasil inteiro.  A subnotificação dos acidentes e a ausência de responsabilidade das empresas em assegurar um trabalho de qualidade aos profissionais precariza a condição de trabalho.  Hoje, Amorim lamenta ser obrigado a viver sem trabalhar.

“Fui prejudicado em tudo. Eu nunca vou me acostumar, sempre vou sentir falta. Ficaria satisfeito se pelo menos tivesse assegurado o meu plano de saúde”.