Entretenimento
Patrimônio Vivo de Alagoas, Mãe Neide terá obra lançada pela Imprensa Oficial
Ancestralidade afro-brasileira e vida religiosa da ialorixá permeiam livro intitulado “Diário de uma mãe de santo”; lançamento acontece na 11ª edição da Bienal, em outubro

A Bienal Internacional do Livro de Alagoas se aproxima e, com ela, a expectativa acerca das atrações já confirmadas. E a patronesse do maior evento literário e cultural do estado vai lançar mais um livro, o segundo pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, que segue incentivando os escritores locais e, dessa forma, fomentando a produção literária. Desta feita, Mãe Neide Oyá D’Oxum promete reunir todo o seu legado não apenas enquanto sacerdotisa do Candomblé, mas também aspectos da cultura afro-brasileira e sua contribuição – como renomada chefe de cozinha – à culinária afro-quilombola.
Depois de escrever “Wa Jeun: sabores ancestrais afro-indígenas”, agora, Maria Neide Martins, a Mãe Neide, prepara-se para publicar “Diário de uma mãe de santo”. A obra – que será lançada na 11ª edição da Bienal, no próximo mês de outubro – é uma retrospectiva não só de sua caminhada espiritual, mas também de experiências cotidianas que marcaram, até aqui, sua rica trajetória.
%20(2).jpg)
Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas, a gastróloga destaca o fato de mais uma vez contar com o apoio do Governo de Alagoas. “O meu sentimento é de gratidão a todos da Imprensa Oficial, porque sei que a nossa cultura está sendo valorizada. Aprendi muito com meu primeiro livro, mas também ensinei um pouco. E eu não imaginava um alcance tão grande. Achava que ninguém teria interesse em conhecer minhas receitas, em saber um pouco mais sobre a culinária ancestral, de terreiro. Mas eu me surpreendi positivamente ao ver exemplares do meu livro nas escolas e até fora do estado, o que me enche de orgulho e satisfação”, recorda a ialorixá.
Segundo Mãe Neide, “Diário de uma mãe de santo” surgiu do desejo de se eternizar um propósito de vida: o de servir ao próximo.
“Eu não quero levar comigo, para o túmulo, o pouco que sei dessa história de resistência. É preciso deixar um legado para nossos filhos. Eu tenho a honra e o dever de falar sobre nossos ancestrais, porque sei da minha responsabilidade. Sei que represento não só a mulher negra, a mulher indígena, mas também todas as mulheres guerreiras dessa terra, o que me envaidece bastante. Quero que todas elas também se vejam neste livro, porque viver é um grande desafio, sobretudo quando se é preto, que não mais pode ser visto como a escória da sociedade. Quero, por fim, que todos passem a enxergar Alagoas não apenas como a terra dos Marechais, mas também, e principalmente, como a terra de Zumbi dos Palmares”, revela a chefe de cozinha.
%20(1).jpg)
Nascida em Arapiraca, Mãe Neide diz ter se inspirado em duas lideranças quilombolas: Aqualtune, que comandou um dos principais assentamentos do Quilombo dos Palmares; e Dandara, que foi esposa de Zumbi, com quem teve três filhos, e também combateu o sistema colonial escravista.
“Meu novo livro rega essa semente, a semente da liberdade que foi plantada por nossos antepassados. Mas escrevo, ainda, sobre o dia a dia de uma mãe de santo, de uma mulher periférica que também se dedica aos filhos ‘do coração’, aos filhos que sofrem preconceito devido à orientação sexual, por exemplo. Mas o livro não tem uma narrativa melancólica. É claro que não temos uma varinha de condão, que tudo resolve. Mas mostro que minha fé é a minha fortaleza, porque é com ela que venço minhas dores. E quando estou cansada, o meu turbante é quem me carrega”, emenda Mãe Neide, Doutora Honoris Causa da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).
Para a coordenadora editorial da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, a nova publicação de Mãe Neide vai abrilhantar ainda mais o catálogo da editora. “Fomos presenteados com mais essa oportunidade, já que a nossa editora foi a primeira a publicar um livro escrito por uma mulher quilombola, o que só reforça a importância da obra assinada por Mãe Neide, Patrimônio Vivo de Alagoas”, afirma a também jornalista Clarice Maia.
