Economia
Diretores e gerentes negros recebem 34% menos que brancos, aponta IBGE
Em todos os grupos ocupacionais analisados, trabalhadores brancos têm rendimentos superiores; estudo mostra que desigualdade se mantém mesmo entre pessoas com ensino superior.
Pessoas pretas ou pardas que ocupam funções de direção e gerência continuam ganhando, em média, 34% abaixo do que recebem os brancos nessas mesmas posições. Segundo o levantamento, enquanto gestores brancos têm rendimento mensal de R$ 9.831, os profissionais negros recebem R$ 6.446 — uma diferença de R$ 3.385.
Os números integram a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo reúne informações referentes a 2024 e considera trabalhadores com 14 anos ou mais.
No início da série histórica, em 2012, o gap salarial era ainda maior: negros ganhavam 39% a menos. Em 2023, a discrepância havia recuado para 33%. A pesquisa também analisa os rendimentos dos trabalhadores em dez grandes grupos ocupacionais definidos pelo IBGE.
Apesar de o instituto não utilizar a expressão “negro”, o Estatuto da Igualdade Racial define como população negra as pessoas autodeclaradas pretas e pardas. No Censo 2022, esse grupo correspondeu a 55,5% dos brasileiros.
Desigualdade em todos os setores
Em todas as áreas investigadas, a remuneração dos brancos supera a dos pretos e pardos. A maior distância aparece justamente nos cargos de diretores e gerentes.
A segunda maior diferença ocorre entre profissionais das ciências e intelectuais: enquanto brancos recebem R$ 7.412, os negros acumulam R$ 5.192 — uma diferença de R$ 2.220. Já a menor distância é registrada no grupo das Forças Armadas, policiais e bombeiros militares, onde a remuneração dos brancos é R$ 934 superior (R$ 7.265 contra R$ 6.331).
Entre os dez grupos ocupacionais, o maior rendimento médio em 2024 foi o de diretores e gerentes, com R$ 8.721.
Diferença média de rendimentos entre brancos e negros
- Diretores e gerentes: R$ 3.385
- Profissionais das ciências e intelectuais: R$ 2.220
- Trabalhadores qualificados da agropecuária, florestais, caça e pesca: R$ 1.627
- Técnicos e profissionais de nível médio: R$ 1.238
- Forças Armadas, policiais e bombeiros militares: R$ 934
- Serviços, vendedores do comércio e mercados: R$ 765
- Operadores de máquinas e montadores: R$ 503
- Construção e ofícios diversos: R$ 477
- Apoio administrativo: R$ 451
- Ocupações elementares: R$ 262
Desigualdade estrutural
A distância entre brancos e negros também aparece na distribuição das ocupações: 17,7% das pessoas brancas estão em cargos de direção ou gerência, enquanto entre pretos e pardos esse percentual é de 8,6%.
No extremo oposto, ocupações elementares têm o menor rendimento médio (R$ 1.454). Nessa categoria, 10,9% dos brancos se encontram, contra 20,3% dos negros.
Quando se observa a média dos dez grupos, trabalhadores brancos ganham R$ 4.119, ante R$ 2.484 dos pretos ou pardos — ou seja, 65,9% a mais.
O levantamento também comparou o valor da hora trabalhada: brancos recebiam R$ 24,60 em 2024, 64% acima da remuneração por hora dos negros, que foi de R$ 15.
A pesquisa mostra que o diploma universitário não reduz o abismo salarial. Entre pessoas com ensino superior completo, brancos recebiam R$ 43,20 por hora. Já negros com o mesmo nível tinham rendimento de R$ 29,90 — 44,6% a menos, a maior diferença entre os níveis de escolaridade.
O pesquisador João Hallak Neto explica que a desigualdade não se restringe à formação acadêmica.
“Não importa a graduação, importa mais como a pessoa se inseriu no mercado de trabalho, se está exercendo ocupação compatível com o nível de instrução”, afirma.
“Tem também diferenças em relação à progressão da carreira, tem diferenças entre cursos, a gente sabe, notadamente, que profissionais médicos recebem mais que enfermeiros”, acrescenta.
Informalidade maior entre negros
A informalidade também pesa mais sobre a população preta ou parda, que aparece com taxa de 45,6%. O percentual é superior à média nacional, de 40,6%, e muito acima dos 34% registrados entre trabalhadores brancos.
*Com informações da Agência Brasil

