Economia
Mudança na presidência dos Correios acelera plano de resgate e acende alerta na Fazenda
Nova presidência acelera plano de reestruturação e renegociação de dívida com risco de colapso financeiro

A nomeação de Emmanoel Schmidt Rondon como novo presidente dos Correios, oficializada pelo governo Lula na terça-feira (16), marcou o início de uma operação emergencial para salvar a estatal. A troca de comando ocorre após mais de dois meses do pedido de demissão de Fabiano Silva dos Santos e deflagra um plano de socorro que envolve renegociação de dívida, possível aporte do Tesouro Nacional e articulações com outras estatais.
A situação financeira dos Correios é considerada crítica. A empresa contratou um empréstimo de R$ 1,8 bilhão neste ano com um sindicato de bancos liderado por BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil. O pagamento está previsto para começar em junho de 2026, mas cláusulas contratuais (os chamados covenants) podem antecipar a cobrança caso haja eventos com impacto jurídico relevante.
No segundo trimestre de 2025, os Correios registraram um salto no custo com sentenças judiciais, elevando o estoque de precatórios de R$ 940,6 milhões para R$ 2,1 bilhões. Esse aumento pode acionar cláusulas que autorizam os bancos a reter valores a receber da empresa, o que deixaria a estatal sem caixa para cumprir obrigações básicas.
Diante do risco de colapso, o Ministério da Fazenda iniciou negociações com os bancos para evitar a execução antecipada da dívida.
O secretário-executivo da pasta, Dario Durigan, recebeu representantes do BTG e do Citibank para discutir alternativas. A sinalização de que o governo fará um aporte é vista como essencial para que os bancos aceitem renegociar os termos do contrato.
Fontes da equipe econômica afirmam que o governo reconheceu a gravidade da situação e está disposto a intervir. Caso contrário, os Correios poderiam ser classificados como dependentes da União, o que obrigaria a inclusão de seus gastos no Orçamento Federal, comprometendo outras políticas públicas.
Além da Fazenda, a Casa Civil e o Ministério da Gestão também participam das articulações. A Caixa Econômica Federal entrou nas conversas para avaliar a compra de imóveis dos Correios e outras sinergias operacionais. Ambas as empresas são controladas pela União.
A Secom confirmou a nomeação de Rondon e destacou seu perfil técnico. Segundo o órgão, o novo presidente fará um diagnóstico detalhado da empresa e apresentará um plano de ação voltado à reestruturação. Os Correios, por sua vez, informaram que estão implementando medidas para recompor a liquidez e garantir sustentabilidade de longo prazo, como a criação de um Comitê Executivo de Contingência e o lançamento de um marketplace.
Questionada sobre novos aportes, a estatal afirmou que as ações de reequilíbrio econômico-financeiro estão em análise e são classificadas como sigilosas. Os bancos envolvidos não comentaram o caso.
A crise nos Correios reacende o debate sobre a viabilidade das estatais e a necessidade de modernização da gestão pública. A nova presidência terá o desafio de recuperar a confiança do mercado, garantir a continuidade dos serviços e evitar que a empresa se torne mais um peso no orçamento da União.
