Economia

Guedes admite que crise alimentada por Bolsonaro pode prejudicar economia

Por Redação com FolhaPress 11/09/2021 12h12 - Atualizado em 11/09/2021 12h12
Guedes admite que crise alimentada por Bolsonaro pode prejudicar economia
Ministro da Economia, Paulo Guedes - Foto: Getty Images

O ministro Paulo Guedes (Economia) admitiu nesta sexta-feira (10) a investidores estrangeiros que a crise institucional, alimentada pelo presidente Jair Bolsonaro, pode prejudicar a economia do país.

"Todo esse barulho sobre instituições e democracia pode afetar nossa bem posicionada economia, no sentido de que estamos prontos para avançar novamente? Minha resposta é que isso pode produzir muito barulho, desacelerar o crescimento. Mas não mudar a direção [da política econômica], estamos na direção correta", disse o ministro.

As declarações foram feitas em evento virtual promovido pelo banco Credit Suisse. O ministro foi questionado por investidores sobre a instabilidade provocada por Bolsonaro enquanto o país enfrenta dificuldades econômicas em diferentes frentes.

A conversa, em inglês, foi comandada por Ilan Goldfajn -presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil e ex-presidente do Banco Central. Após uma primeira pergunta de caráter protocolar, Goldfajn afirmou que investidores buscavam uma declaração de Guedes sobre o comportamento do presidente.

Goldfajn leu em certo momento a pergunta de um executivo do banco em Nova York. "O Brasil pode destravar seu potencial econômico, expandir sua economia e reduzir o desemprego quando você tem barulho de diferentes líderes institucionais, [com] a retórica do presidente e de outros [atores], um barulho geral? Como o Brasil pode evoluir com esse nível de ruído? Você falou com o presidente [sobre] quão importante é a estabilidade para investidores? E qual sua visão sobre o cenário adiante?", questionou Goldfajn.

O ministro reconheceu que o nível de "ruído" está alto e afirmou que Bolsonaro pode ter passado dos limites com palavras, mas não com ações. Para Guedes, a nota assinada pelo presidente na quinta-feira (9) para acalmar os ânimos colocou "tudo de volta aos trilhos".

"O que aconteceu no Brasil nos últimos dias? Milhões, centenas de milhares de pessoas, foram às ruas celebrar pacificamente, sem violência, todas vestidas de verde e amarelo. Isso é novo na política brasileira, todas acenando bandeiras [do Brasil]. Uma pacífica celebração da democracia", afirmou Guedes.

"Por outro lado, atores -e especificamente o presidente- podem ter ultrapassado [os limites] em palavras. Mas e sobre as ações? O presidente nunca ordenou nada para ser preso [sic], nunca transgrediu nada no front fiscal. O presidente está tentando o máximo que pode para permanecer nas quatro linhas, para não sair das regras do jogo", disse Guedes.

Apesar de Guedes sugerir que Bolsonaro exagerou somente nas "palavras", especialistas apontam que as declarações do presidente já são classificáveis como crimes de responsabilidade -passíveis, portanto, de impeachment- por representarem atentado contra o cumprimento de decisões judiciais e contra o livre exercício dos Poderes.

No 7 de Setembro, Bolsonaro disse que não cumpriria decisões do ministro Alexandre de Moraes e ameaçou o STF diante de uma multidão na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. "Ou o chefe desse Poder [Fux] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", disse o presidente.

As declarações foram o ápice de uma série de tensões geradas por Bolsonaro. "Se você quer paz, se prepare para a guerra", disse Bolsonaro em 1º de setembro. "Temos um presidente que não deseja nem provoca rupturas, mas tudo tem um limite em nossa vida", disse o mandatário em 28 de agosto.

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As declarações de Bolsonaro têm afetado o mercado e prejudicado o Tesouro Nacional. No dia seguinte ao 7 de Setembro, a Bolsa caiu 3,78%, o dólar subiu e os juros negociados no curto e no longo prazo se elevaram, dificultando a gestão da dívida pública por causa dos temores de investidores.

Segundo Guedes, as conversas com o Congresso e o próprio STF serão retomadas na semana que vem porque o governo precisa de uma solução para enfrentar os precatórios e não descumprir o teto de gastos (norma constitucional que impede o crescimento real das despesas federais).

"Nós vamos falar com o STF e o Congresso na segunda-feira e imediatamente depois disso está [como prioridade] a reforma tributária", afirmou Guedes. A proposta do governo que altera o Imposto de Renda foi aprovada pela Câmara e agora depende do Senado, que sinaliza resistências ao texto.

Guedes também comentou durante a conversa a inflação, dizendo que a escalada nos preços é uma "sombra" que paira sobre o governo. "Acho que estamos no pior momento da inflação. Acho que vai começar a desacelerar gradualmente e encerrar o ano em volta de 8%, entre 7,5% e 8%", disse.

Com isso, a inflação deve fechar o ano acima da meta a ser perseguida pelo Banco Central -de 3,75%, com margem de tolerância de até 5,25%.