Em meio ao agravamento de desafios sociais, econômicos e ambientais, o Senado Federal ressaltou nesta segunda-feira (24) o papel estratégico do cooperativismo na construção de soluções mais humanas e sustentáveis. A sessão especial celebrou o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela ONU para 2025, e os 20 anos da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).

A presidente da sessão, senadora Teresa Leitão (PT-PE), lembrou que a agricultura familiar é responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos no Brasil e que iniciativas de economia solidária estão presentes em 90% dos municípios com até 20 mil habitantes. Para ela, o modelo cooperativo é essencial para garantir oportunidades e fortalecer comunidades diante dos impactos da crise climática.

Segundo Teresa, as cooperativas vão além de uma forma de organização econômica ao promover inclusão social, geração de renda e sustentabilidade. “Elas fortalecem a produção local, reduzem desigualdades e contribuem para a segurança alimentar no país”, afirmou.

Reconhecimento internacional

Com o lema “Cooperativas constroem um mundo melhor”, a declaração da ONU para o Ano Internacional das Cooperativas foi destacada pelos participantes como sinal da relevância crescente do setor. O senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou que o reconhecimento global reforça o cooperativismo como uma das ferramentas mais eficazes de desenvolvimento humano, econômico e ambiental.

“É a ONU dizendo ao mundo que a organização comunitária, a união de esforços e o trabalho compartilhado são caminhos seguros para construir sociedades mais justas, resilientes e sustentáveis”, disse Izalci.

O senador Wellington Fagundes (PL-MT) também defendeu o fortalecimento das cooperativas, lembrando seu papel na geração de renda e no desenvolvimento regional. Para ele, apoiar o cooperativismo é fortalecer “o Brasil real”, aquele que produz e sustenta as cidades.

Unicafes celebra 20 anos

Presente em 21 unidades da federação, a Unicafes reúne mais de 1,5 mil cooperativas e quase 1 milhão de famílias agricultoras. A presidente da entidade, Fátima Torres, destacou a importância de celebrar o aniversário no Parlamento. “É aqui que são votadas as políticas públicas que chegam na ponta, a cada agricultor e agricultora”, afirmou.

Representantes do governo reforçaram a necessidade de alinhar produção e preservação ambiental. Para o diretor do Departamento de Políticas de Gestão Ambiental Rural do Ministério do Meio Ambiente, Daniel Beniabino, é preciso romper a ideia de que conservar a natureza significa reduzir a produção.

“A agricultura familiar e os povos tradicionais mostram diariamente que é possível produzir com abundância e, ao mesmo tempo, proteger a biodiversidade”, afirmou.

Desafios persistem

Embora o cenário seja de reconhecimento, o cooperativismo ainda enfrenta entraves no país. O secretário de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Vanderley Ziger, apontou que questões como formação, educação e disseminação dos princípios cooperativos seguem como gargalos.

“Um dos grandes desafios é reafirmar que a cooperativa só existe porque há pessoas unidas coletivamente para superar seus obstáculos”, destacou.

A sessão encerrou com a defesa de que o fortalecimento das cooperativas é fundamental para construir alternativas sustentáveis diante dos desafios impostos pelas desigualdades sociais, pelas transformações econômicas e pela crise climática.