Cooperativismo

Como cooperativas podem liderar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

Entre os obstáculos, estão a acessibilidade digital e comunicacional, muitas vezes negligenciada, e a resistência cultural dentro das organizações

Por MundoCoop 07/10/2025 11h11
Como cooperativas podem liderar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho
Como cooperativas podem liderar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho - Foto: Reprodução

A inclusão de pessoas com deficiência (PCDs) no mercado de trabalho ainda é um dos grandes desafios sociais e empresariais no Brasil. Apesar de avanços significativos em políticas públicas e legislações, a transformação efetiva só acontece quando as organizações assumem a responsabilidade de criar ambientes verdadeiramente inclusivos.

Nesse cenário, as cooperativas, com sua essência voltada para a coletividade e a solidariedade, têm um papel estratégico. Mais do que cumprir obrigações legais, elas devem enxergar a inclusão como parte central de sua missão e como um diferencial competitivo no mercado.

Entre os obstáculos, estão a acessibilidade digital e comunicacional, muitas vezes negligenciada, e a resistência cultural dentro das organizações. A criação de políticas formais ajuda a dar consistência ao processo e a transformar a diversidade em prática diária.

Inclusão em curso


Em um exemplo reconhecido recentemente, o Sicoob estruturou uma Política de Diversidade e Inclusão, que orienta todas as suas cooperativas filiadas. “Ter um documento como esse guia nossos colaboradores a uma conduta mais acolhedora e empática com os distintos perfis que podemos ter nas cooperativas. Esse cenário faz com que nossos funcionários se sintam mais pertencentes ao Sicoob e vejam que nosso discurso se apresenta na prática”, explica Carlos Eduardo Marques, analista de Cidadania e Sustentabilidade do Sicoob.

O sistema cooperativo líder em presença física no país, alcançou a quarta posição no relatório das 50 empresas líderes em PcD do portal Integridade ESG, realizado em parceria com o Insight Lab. O estudo listou as companhias com as melhores reputações e práticas voltadas à inclusão de pessoas com deficiência no Brasil, um reconhecimento significativo para a instituição financeira cooperativa.

A BeCooper (antiga Cooperjohnson), implementou uma iniciativa inovadora de inclusão para atender cooperados surdos. O projeto envolveu a criação de legendas em vídeos nas redes sociais, a disponibilização de intérpretes de Libras em eventos e lives, além de treinamentos para colaboradores e suporte no site.

DESAFIOS PARA A INCLUSÃONO MERCADO – Falta de acessibilidade digitale comunicacional.– Resistência cultural dentrodas organizações.– Necessidade de políticas formaisque garantam consistência epráticas contínuas.

Além disso, o desenvolvimento de uma tecnologia para integrar tradução em tempo real por Libras no ambiente digital, revolucionou o setor. A adoção dessas medidas resultou em maior engajamento, aproximação com o público e um senso de pertencimento.

“A inclusão é um processo contínuo e colaborativo, que demanda escuta ativa, sensibilidade e constante adaptação. Entre os desafios, está alinhar todos a um propósito verdadeiramente coletivo e cooperativo, garantindo que cada necessidade seja reconhecida, respeitada e valorizada, sempre em prol do bem comum”, afirma Fernanda Gusmão, Coordenadora de Eventos da BeCooper.

O papel da liderança e da cultura cooperativista


O sucesso de tais iniciativas está diretamente ligado ao engajamento das lideranças. São elas que dão o tom da transformação cultural e incorporam a inclusão como parte do planejamento estratégico da cooperativa.

Na BeCooper, as ações de inclusão foram incorporadas à própria identidade da instituição. “A inclusão e a diversidade fazem parte da essência da BeCooper. Promovemos capacitações em Libras, realizamos ações sociais e oferecemos benefícios como subsídios para próteses e aparelhos auditivos. Neste ano, lançamos novos benefícios voltados à mobilidade, ampliando as melhorias na adaptação e na qualidade de vida de nossos cooperados e seus familiares”, destaca Gusmão.

Já no Sicoob, a liderança entende que a inclusão vai além do atendimento à lei, sendo também uma estratégia de negócio e de reputação. “A exigência legal possui sua importância ao ser uma linha de base. Entretanto, a agenda ESG vem para dar um novo sentido para a diversidade. Ela passa a ser vista como estratégia de negócio. Além disso, a sociedade está cada vez mais atenta às desigualdades sociais e cobra que temas como inclusão e diversidade sejam tratados com importância”, reforça Carlos Eduardo Marques.

Um exemplo prático desse investimento social é o apoio destinado a 36 unidades da APAE, que já receberam R$ 2,3 milhões por meio do Fundo de Investimento Social (FIS). Essas ações beneficiaram diretamente mais de 19 mil pessoas, resultando em 104 iniciativas voltadas à inclusão e ao desenvolvimento.

Inclusão como dever e como oportunidade de transformação


Em um movimento que dialoga diretamente com essa pauta, as cooperativas têm um dever moral e estratégico de colocar esse tema no centro de suas agendas. Ao olhar para todos os públicos, e principalmente para uma parcela historicamente desassistida pelo mercado, o setor cria oportunidades para estabelecer um diálogo ainda mais forte com seus cooperados.

Case de Sucesso: Sicoob– Criou uma Política de Diversidade eInclusão para suas filiadas.– 4ª posição no ranking “50 Empresas Líderesem PcD” (Integridade ESG + Insight Lab).– R$ 2,3 milhões destinados a 36 unidadesda APAE → beneficiando 19 mil pessoascom 104 iniciativas inclusivas.

“Devemos considerar as pessoas com deficiência não apenas como funcionários ou indivíduos que acessam produtos e serviços, mas como cidadãos. A diversidade nos permite ser uma versão melhor de nós. É uma oportunidade de potencializarmos todas as pessoas, não deixando ninguém para trás”, destaca Carlos Eduardo Marques.

A experiência prática das cooperativas mostra que, quando a inclusão é tratada como prioridade, os ganhos vão além do social: refletem-se em maior engajamento dos colaboradores, fortalecimento da imagem institucional e construção de um ambiente inovador, plural e justo.

“Ao implementar iniciativas como cursos de tecnologias, oferta de benefícios direcionados e adaptações de infraestrutura, aprendemos que inclusão exige planejamento, persistência e, principalmente, o envolvimento de todos. Esses resultados demonstram que é possível transformar realidades quando há propósito e comprometimento”, conclui Fernanda Gusmão.

Um caminho indispensável


Em um mundo em que a sustentabilidade e a responsabilidade social são cada vez mais valorizadas, a inclusão de pessoas com deficiência deixa de ser apenas uma obrigação legal para se tornar um passo indispensável para a competitividade e a perenidade das organizações.

No caso das cooperativas, essa prática se conecta de maneira natural à sua essência e pode posicioná-las como protagonistas na construção de uma sociedade mais justa, diversa e sustentável. A mensagem é clara: investir em inclusão não é apenas o certo a fazer — é também o melhor caminho para garantir relevância e impacto no futuro.