Cooperativismo

Cooperativas lideram iniciativas de combate ao aquecimento global

Diversas cooperativas brasileiras têm trabalhado de forma sistemática para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na natureza

Por MundoCoop 06/11/2023 09h09
Cooperativas lideram iniciativas de combate ao aquecimento global
Cooperativas lideram iniciativas de combate ao aquecimento global - Foto: Reprodução

O aumento da temperatura do planeta já é uma realidade. Ano após ano, sentimos na pele e na economia os efeitos do aquecimento global. Julho de 2023 foi o mês mais quente da Terra desde 1940, quando os termômetros chegaram a marcar 52 graus Celsius (°C) na China e ondas de calor foram registradas em várias partes da Europa e da América do Norte. Centenas de pessoas morreram, plantações foram destruídas, as queimadas aumentaram e o delicado equilíbrio de diferentes ecossistemas foi afetado.

Dispostas a ajudarem a combater o aquecimento global, diversas cooperativas brasileiras têm trabalhado de forma sistemática para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na natureza, principalmente do dióxido de carbono (CO2) — gás liberado para na queima de combustíveis fósseis, no desmatamento e queimada de florestas, na indústria e também na geração de energia não renovável. Quer ver? Segue o fio.

PIONEIRISMO NO NORDESTE


Na ensolarada João Pessoa, capital da Paraíba, um grupo de engenheiros teve uma ideia inteligente: aproveitar o potencial da região e utilizar energia solar em suas residências para reduzir (ou até mesmo zerar) o valor da conta de luz. Só havia um problema: eles não tinham como instalar os equipamentos necessários porque viviam em apartamentos, longe uns dos outros.

A solução foi unir forças e criar, em 2019, a primeira cooperativa de energia renovável do Nordeste, a Coopsolar, que trabalha no mercado de geração compartilhada de energia fotovoltaica. O grupo instalou, inicialmente, três usinas na Região Metropolitana da capital, que hoje produzem energia para mais de 60 famílias cooperadas.

Além de garantir o abastecimento com energia limpa e mais barata, a atuação da Coopsolar também ajuda a enfrentar as mudanças climáticas que se agravam a cada dia, exigindo respostas urgentes de governos, empresas e da sociedade. Afinal, cerca de 86% das emissões de dióxido de carbono do mundo vêm da queima de combustíveis fósseis para a produção de energia e materiais plásticos. O percentual mostra o tamanho do desafio em alguns setores e a relevância de iniciativas de energia renovável como a desta e outras cooperativas.

“Em geral, a energia solar gerada só pode ser utilizada para o CPF ou CNPJ que está vinculado a quem produziu. No caso da geração compartilhada, a cooperativa tem esse poder de distribuir essa energia entre os seus cooperados. É um grande benefício que só é possível nesse modelo”, explica o presidente da Coopsolar, Eduardo Braz.

No caso da Coopsolar, foi a união dos cooperados fundadores que viabilizou o investimento necessário à implantação das primeiras usinas solares da cooperativa — que ainda têm custo alto no Brasil. Para se ter uma ideia, a compra e instalação dos equipamentos para uso individual em um imóvel de pequenas dimensões custa, em média, R$ 20 mil.

Atualmente, a cooperativa tem cinco usinas fotovoltaicas, instaladas nos municípios de Pitimbu, Lucena e Conde, na Região Metropolitana de João Pessoa, e de Boqueirão, próximo a Campina Grande, no interior do estado. Cada uma produz de 11 mil a 16 mil Kilowatt/hora de energia por mês, que são fornecidos aos cooperados de acordo com a demanda de cada um, por meio da distribuidora de energia estadual, em um sistema de créditos.

A Coopsolar tem dois modelos de participação: o cooperado pode investir na infraestrutura e ter direito a uma cota da usina, no modelo conhecido como prosumidor; ou optar pela assinatura de energia, sem ser sócio nos equipamentos. Entre os 63 cooperados, 51 têm cotas nas usinas, e os demais são assinantes.

Seja como produtor de energia ou consumidor, o cooperado tem benefícios diretos com a utilização de energia limpa, renovável e de fonte conhecida, com economia na conta de luz, e, claro, dando sua contribuição para o futuro do planeta. Por ano, o total de energia gerado pelas usinas da Coopsolar – 830 MWh – equivale a 105 toneladas de CO2 que deixaram de ser lançadas na atmosfera.

MENOS CARBONO NO CAMPO


O aquecimento global tem impactos para as pessoas e a biodiversidade de forma geral, mas em alguns setores as consequências são mais visíveis, como na agricultura, em que a crise climática pode até inviabilizar os negócios por causa de secas ou cheias extremas.

Responsável por 48% da produção agropecuária nacional, o cooperativismo está atento a esse cenário e as cooperativas deste ramo lideram iniciativas de combate ao aquecimento global em várias partes do país.

No Sul do Brasil, a Copercampos – uma gigante cooperativista de cereais, sementes, insumos e agroindústria – aposta na inovação para reduzir emissões de CO2 em suas áreas de produção em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a cooperativa criou um programa para avaliar a qualidade de manejo dos solos e identificar as melhores oportunidades de retenção do carbono na terra, evitando a emissão do gás para a atmosfera.

Uma das etapas do diagnóstico é a avaliação do potencial de resgate de carbono das lavouras. Em seguida, por meio do projeto Clube do Carbono, a Copercampos incentiva seus cooperados a utilizar técnicas como o plantio direto na palha e outras práticas conservacionistas.

No plantio direto, a semeadura é feita na palha da cultura anterior, sem a necessidade de queimar a área nem de revolvimento da terra, reduzindo a liberação de CO2. A incorporação da matéria orgânica ao solo também mantém a umidade e beneficia a nutrição das plantas, gerando impactos positivos na produtividade.

Além dos benefícios imediatos, o Clube do Carbono também pode abrir portas de um novo mercado para os cooperados da Copercampos: o de créditos de carbono. É que as emissões evitadas com a agricultura de baixo carbono podem ser contabilizadas e transformadas em um ativo financeiro negociado no mercado internacional.

“Para impulsionar o mercado de carbono no Brasil, é necessária a promoção da agricultura de baixo carbono e ter parceiros que prestem suporte na mensuração destes dados. Estamos trazendo o tema para debate e também desenvolvendo este programa do Clube do Carbono entre os associados para que possamos ter maior produtividade no campo e sustentabilidade em todo o sistema de produção”, ressalta o gerente de Assistência Técnica da Copercampos, Fabrício Jardim Hennigen.

Além da retenção do carbono na terra, a cooperativa catarinense tem outras estratégias de redução de emissões de CO2 em sua cadeia produtiva, como investimentos em energias renováveis. A cooperativa tem uma usina fotovoltaica com 4. 456 painéis, responsáveis pela geração 1,9 mil Megawatt/hora (MWh) de energia solar por ano. Desde a instalação, a usina evitou a emissão de 4 mil toneladas de CO2, que seriam produzidas com o uso de energias não renováveis, como a de termelétricas.

A próxima iniciativa descarbonizante da Copercampos é a instalação de uma planta de produção, purificação e pressurização de biogás oriundo dos sistemas de biodigestores. A ideia é utilizar o gás produzido na decomposição de dejetos suínos para gerar energia destinada ao abastecimento de veículos da cooperativa, substituindo o uso de combustíveis fósseis.

VINHO SUSTENTÁVEL


Investir em uma matriz energética limpa e renovável também é a aposta da Cooperativa Vinícola Aurora para dar sua contribuição na luta global contra o aquecimento global. Desde 2019, a maior cooperativa de produção de vinhos do Brasil só utiliza energia elétrica proveniente de fonte limpa, totalmente renovável e que não agride o meio ambiente.

“Muito se fala na responsabilidade que uma cooperativa tem com relação aos seus cooperados, aos seus funcionários, mas a Aurora entende que essa responsabilidade vai além do quadro funcional e do quadro social. Faz parte da nossa responsabilidade corporativa trabalhar com iniciativas mais limpas e mais responsáveis na questão ambiental”, afirma a supervisora de Qualidade e Meio Ambiente da Cooperativa Vinícola Aurora Cassandra Marcon Giacomazzi.

Referência nacional na produção de vinhos, com 68 milhões de litros por ano, a cooperativa investe há anos em programas socioambientais e tem um sistema interno de gestão ambiental que já recebeu certificação internacional de qualidade. Uma de suas unidades industriais, em Bento Gonçalves (RS), foi a primeira fábrica de vinho do Brasil a receber o certificado LEED 4.0, que reconhece construções sustentáveis.

Em maio de 2019, a cooperativa decidiu concentrar esforços na atuação contra a crise climática e iniciou o processo de conversão de sua matriz energética. Hoje, toda a energia que abastece as três plantas industriais da vinícola vem de usinas eólica, solar, de biomassa, e de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), que têm impactos ambientais muito menores que uma usina hidrelétrica de grandes proporções.

A readequação energética da vinícola cooperativa é certificada por uma empresa de gestão de energia e reavaliada anualmente para validar a utilização de energia 100% renovável. A certificação mais recente foi emitida em março de 2023, com vigência para todo este ano.

Com a conversão da matriz energética, desde 2019 a Cooperativa Vinícola Aurora deixou de emitir 1.373 toneladas de CO2 na atmosfera. Apenas em 2022, foram 217 toneladas a menos de gases de efeito estufa emitidos, um esforço equivalente à manutenção de uma floresta com 6 mil árvores, segundo cálculo realizado pela consultoria responsável pela certificação.

“Agora estamos trabalhando em diagnósticos para identificar novas oportunidades, adequações e tecnologias para atuação mais sustentável em outras frentes do nosso processo produtivo”, antecipa a supervisora de Qualidade e Meio Ambiente da cooperativa.

Segundo Cassandra, além do impacto positivo para o planeta, a responsabilidade socioambiental tem impactos diretos sobre o negócio da Vinícola Aurora. Primeiro porque se trata de uma indústria que depende da terra e das boas condições ambientais para seguir produzindo, e, segundo, porque a sustentabilidade se tornou um diferencial competitivo. “

O consumidor está cada vez mais atento ao que compra e de onde provém o produto que está levando para sua família, e as organizações têm que estar cada vez mais ativas em sua responsabilidade socioambiental e no combate ao aquecimento global”, afirma.