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Nova espécie de ave na Amazônia chama atenção por semelhança com dodô: conheça a sururina-da-serra

Tinamus resonans foi encontrada após três anos de buscas na Serra do Divisor; espécie rara tem comportamento dócil e população estimada em apenas 2 mil indivíduos

Por Redação com Metrópoles 08/12/2025 18h06 - Atualizado em 08/12/2025 18h06
Nova espécie de ave na Amazônia chama atenção por semelhança com dodô: conheça a sururina-da-serra
Animal foi encontrado na Amazônia - Foto: Reprodução/Morais et al, Zootaxa (2025)

Uma nova espécie de ave amazônica, considerada a “quase prima” do extinto dodô, foi oficialmente descrita por pesquisadores brasileiros após três anos de buscas. Batizada de Tinamus resonans e conhecida popularmente como sururina-da-serra, a ave foi encontrada na Serra do Divisor, região na fronteira entre o Acre e o Peru, no fim de 2024.

A descoberta, publicada na revista científica Zootaxa na terça-feira (2/12), foi liderada pelos ornitólogos Fernando Igor de Godoy e Ricardo Plácido. O estudo analisou três espécimes e confirmou características únicas da espécie — a principal delas, o canto que ecoa e oscila pela floresta, responsável por despertar a curiosidade dos cientistas ainda em 2021.

Tudo começou quando pesquisadores registraram um canto desconhecido na Amazônia. O som, incomum e ressonante, não correspondia ao de nenhuma ave catalogada. 

Após inúmeras tentativas fracassadas de localizar o animal, o biólogo Luis Morais, da UFRJ, adotou uma estratégia inovadora no fim de 2024: tocar o áudio gravado na floresta para atrair os responsáveis pela melodia.
A técnica funcionou. A ave se aproximou, permitindo fotografias e a identificação formal da nova espécie.

Características

O nome científico Tinamus resonans faz referência direta à vocalização marcante. Já o nome popular sururina-da-serra homenageia seu habitat — a Serra do Divisor, área montanhosa conhecida como “ilha no céu”.

O sururina-da-serra possui porte pequeno e plumagem em tons que variam do preto ao marrom-canela, com nuances mais foscas no dorso. A espécie surpreendeu os cientistas por não demonstrar medo, aproximando-se das câmeras, comportamento considerado raro em aves selvagens.

A docilidade chamou atenção pela semelhança com os históricos dodôs, antigos habitantes das ilhas Maurício, no Oceano Índico, exterminados no século 16 por exploradores europeus e pelos animais que trouxeram consigo.

Além do comportamento, outro paralelo com o dodô é o habitat isolado. Assim como as aves extintas viviam em uma ilha remota, a nova espécie ocupa o topo da Serra do Divisor, um ecossistema único e relativamente separado do restante da floresta.


População reduzida e risco de extinção

Os pesquisadores estimam que apenas 2 mil indivíduos existam na natureza, tornando a espécie extremamente vulnerável. Mudanças climáticas e o enfraquecimento das políticas de proteção do Parque Nacional da Serra do Divisor estão entre as principais ameaças.

Em artigo, os autores ressaltam a urgência da conservação:

“A descoberta de T. resonans destaca a singularidade biológica da Serra do Divisor, reforça seu status como centro de endemismo montanhoso e ressalta a importância crucial de manter sua conservação a longo prazo.”

Novos estudos devem aprofundar o conhecimento sobre o sururina-da-serra e orientar ações de preservação desse raro tesouro da biodiversidade amazônica.