Ciência, tecnologia e inovação
Nova espécie de ave na Amazônia chama atenção por semelhança com dodô: conheça a sururina-da-serra
Tinamus resonans foi encontrada após três anos de buscas na Serra do Divisor; espécie rara tem comportamento dócil e população estimada em apenas 2 mil indivíduos
Uma nova espécie de ave amazônica, considerada a “quase prima” do extinto dodô, foi oficialmente descrita por pesquisadores brasileiros após três anos de buscas. Batizada de Tinamus resonans e conhecida popularmente como sururina-da-serra, a ave foi encontrada na Serra do Divisor, região na fronteira entre o Acre e o Peru, no fim de 2024.
A descoberta, publicada na revista científica Zootaxa na terça-feira (2/12), foi liderada pelos ornitólogos Fernando Igor de Godoy e Ricardo Plácido. O estudo analisou três espécimes e confirmou características únicas da espécie — a principal delas, o canto que ecoa e oscila pela floresta, responsável por despertar a curiosidade dos cientistas ainda em 2021.
Tudo começou quando pesquisadores registraram um canto desconhecido na Amazônia. O som, incomum e ressonante, não correspondia ao de nenhuma ave catalogada.
Após inúmeras tentativas fracassadas de localizar o animal, o biólogo Luis Morais, da UFRJ, adotou uma estratégia inovadora no fim de 2024: tocar o áudio gravado na floresta para atrair os responsáveis pela melodia.
A técnica funcionou. A ave se aproximou, permitindo fotografias e a identificação formal da nova espécie.
Características
O nome científico Tinamus resonans faz referência direta à vocalização marcante. Já o nome popular sururina-da-serra homenageia seu habitat — a Serra do Divisor, área montanhosa conhecida como “ilha no céu”.
O sururina-da-serra possui porte pequeno e plumagem em tons que variam do preto ao marrom-canela, com nuances mais foscas no dorso. A espécie surpreendeu os cientistas por não demonstrar medo, aproximando-se das câmeras, comportamento considerado raro em aves selvagens.
A docilidade chamou atenção pela semelhança com os históricos dodôs, antigos habitantes das ilhas Maurício, no Oceano Índico, exterminados no século 16 por exploradores europeus e pelos animais que trouxeram consigo.
Além do comportamento, outro paralelo com o dodô é o habitat isolado. Assim como as aves extintas viviam em uma ilha remota, a nova espécie ocupa o topo da Serra do Divisor, um ecossistema único e relativamente separado do restante da floresta.

População reduzida e risco de extinção
Os pesquisadores estimam que apenas 2 mil indivíduos existam na natureza, tornando a espécie extremamente vulnerável. Mudanças climáticas e o enfraquecimento das políticas de proteção do Parque Nacional da Serra do Divisor estão entre as principais ameaças.
Em artigo, os autores ressaltam a urgência da conservação:
“A descoberta de T. resonans destaca a singularidade biológica da Serra do Divisor, reforça seu status como centro de endemismo montanhoso e ressalta a importância crucial de manter sua conservação a longo prazo.”
Novos estudos devem aprofundar o conhecimento sobre o sururina-da-serra e orientar ações de preservação desse raro tesouro da biodiversidade amazônica.


