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Primeiro beijo pode ter surgido há mais de 21 milhões de anos, apontam cientistas

Pesquisadores afirmam ter reconstruído a trajetó´ria evolutiva desse comportamento aparentemente universal e surpreendente

Por Redação com BBC Brasil 19/11/2025 18h06
Primeiro beijo pode ter surgido há mais de 21 milhões de anos, apontam cientistas
Pesquisadores encontraram evidências de beijo em várias espécies - Foto: Reprodução/Getty Images

Beijos não são exclusividade humana: eles aparecem entre macacos, aves e até ursos polares. Agora, pesquisadores do Reino Unido e dos Estados Unidos afirmam ter reconstruído a trajetória evolutiva desse comportamento aparentemente universal — e surpreendente.

Segundo um estudo publicado na revista Evolution and Human Behaviour, o beijo na boca provavelmente surgiu há mais de 21 milhões de anos, muito antes dos primeiros humanos. Os autores sugerem que o gesto já era praticado pelo ancestral comum de humanos e grandes símios, grupo que inclui chimpanzés, gorilas, orangotangos e nossa própria espécie.

A equipe também concluiu que os neandertais — que desapareceram há cerca de 40 mil anos — se beijavam, e que humanos e neandertais chegaram a trocar beijos. Essa hipótese se baseia em análises genéticas anteriores que identificaram um mesmo micro-organismo oral em ambas as espécies, indicando troca de saliva ao longo de centenas de milhares de anos, mesmo após a separação evolutiva.

O enigma do beijo

Para a ciência, o beijo sempre foi um desafio: não oferece vantagens óbvias de sobrevivência ou reprodução, mas surge repetidamente em culturas humanas e no reino animal. Para investigar sua origem, os pesquisadores buscaram mapear quais espécies praticam esse comportamento.

Eles adotaram uma definição técnica de beijo: contato oral-oral não agressivo, com movimento dos lábios ou da boca e sem transferência de alimento. A partir desse critério, identificaram o comportamento em diversos animais — de lobos e cães-da-pradaria a albatrozes e ursos polares, estes últimos conhecidos por beijos “desordenados” e repletos de língua.

Entre os primatas, os registros são claros: humanos, chimpanzés e bonobos se beijam. Para Matilda Brindle, bióloga evolutiva da Universidade de Oxford e autora principal do estudo, isso reforça a hipótese de que o ancestral comum desses grupos também se beijava.

Como e por quê?

Com esses dados, os pesquisadores estimam que o beijo tenha evoluído há cerca de 21,5 milhões de anos, entre os grandes símios. O motivo, porém, permanece indefinido.

Entre as hipóteses levantadas estão:

o gesto pode ter surgido de comportamentos de higiene entre ancestrais símios;
ou pode funcionar como uma forma íntima de avaliar saúde, compatibilidade e qualidade do parceiro.

Brindle destaca que compreender o beijo é essencial para entender a continuidade comportamental entre humanos e outros primatas. “Esse é um comportamento que compartilhamos com nossos parentes não humanos”, afirma. “Precisamos estudá-lo com seriedade, e não tratá-lo como algo meramente romântico ou trivial.”