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Sintomas de intoxicação por metanol se confundem com embriaguez comum; entenda
Em Alagoas não há registro de intoxicações, mas autoridades intensificam fiscalizações diante do surto nacional

O Brasil enfrenta um surto alarmante de intoxicação por metanol, substância tóxica identificada em bebidas alcoólicas destiladas adulteradas. Segundo o Ministério da Saúde, até essa sexta-feira (3), foram registradas 113 notificações em todo o país, sendo 11 casos confirmados e 102 sob investigação, além de 12 óbitos (um confirmado em São Paulo e 11 em investigação em SP, PE, MS e BA).
Diante desse cenário, Alagoas, embora sem registros locais, intensifica ações preventivas para proteger a população.
Para entender os riscos do metanol e os desafios de sua detecção, a reportagem ouviu a Professora Dra. Aline Fidelis, farmacêutica e coordenadora do Centro de Informações Toxicológicas da Universidade Federal de Alagoas (CITox-Ufal).
Segundo ela, o perigo do metanol está em seu metabolismo no organismo humano. "Quando ingerido, o metanol é transformado em formaldeído e depois em ácido fórmico, substâncias altamente tóxicas que causam acidose metabólica, danos ao nervo óptico e podem levar à morte", explicou a professora.
A especialista alerta que não há testes caseiros capazes de identificar a presença de metanol em bebidas. "Não se deve tentar cheirar, provar ou queimar bebidas suspeitas. O metanol é incolor, tem cheiro semelhante ao álcool comum e só pode ser detectado por meio de análise laboratorial."
Fidelis recomenda atenção aos detalhes das embalagens: lacres irregulares, rótulos com erros ortográficos, ausência de CNPJ, endereço ou número de lote podem indicar adulteração.
Sinais de intoxicação
A especialista também pontuou que os sinais de intoxicação são parecidos com os da embriaguez. "Os sintomas iniciais da intoxicação por metanol se confundem com os da embriaguez comum, como náuseas, tontura, dor de cabeça e dor abdominal, o que pode retardar a busca por atendimento médico", disse ela.
No entanto, entre 12 e 24 horas após a ingestão, surgem sinais mais graves como visão borrada, sensação de enxergar pontos luminosos, respiração acelerada, fraqueza, confusão mental e sobrecarga cardíaca. A recomendação é procurar atendimento médico imediato e evitar a automedicação.
Para evitar que bebidas adulteradas cheguem ao consumidor, Fidelis defende ações integradas entre autoridades sanitárias e de segurança pública, além da difusão rápida de informações toxicológicas baseadas em evidências científicas. "A atuação em rede e a inteligência são fundamentais para prevenir esse tipo de crime", concluiu.
Não há casos registrados em Alagoas
Em Alagoas, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informou que, até o momento, não há registros de casos suspeitos ou confirmados de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas.
O estado mantém monitoramento ativo por meio do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) e orienta que os consumidores adquiram apenas bebidas de fabricantes legalizados, com nota fiscal e procedência confiável. Em caso de suspeita, a recomendação é não consumir o produto e procurar atendimento médico imediato.
A Sesau também recomenda que as Vigilâncias Sanitárias Municipais intensifiquem a fiscalização rotineira em bares, restaurantes, supermercados e estabelecimentos similares, atentando-se à procedência dos produtos ofertados. No âmbito da industrialização das bebidas, a competência fiscalizatória é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Fiscalização em Maceió
Em Maceió, a Vigilância Sanitária municipal estruturou uma força-tarefa em parceria com o MAPA, o Procon e demais órgãos de fiscalização. Quatro equipes foram mobilizadas para fiscalizar bares, distribuidoras e pontos de venda de bebidas alcoólicas.
Os fiscais verificam rótulos com CNPJ da empresa, registro no MAPA, presença do selo fiscal de inspeção e nota fiscal de compra. O objetivo é coibir a clandestinidade e garantir a segurança da população.
A população também pode colaborar com as ações de fiscalização. Denúncias de venda de bebidas suspeitas ou clandestinas podem ser feitas diretamente ao MAPA ou à Vigilância Sanitária de Maceió.
Os canais disponíveis são o telefone (82) 3312-5495, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e o WhatsApp (82) 98752-2000, que funciona 24 horas por dia para o recebimento de mensagens de texto, fotos e vídeos. Todas as denúncias são anônimas e encaminhadas para fiscalização dentro da alçada municipal.
A rede municipal de saúde está preparada para atender casos emergenciais nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais. Na Atenção Primária, os profissionais estão cientes da situação e orientados para encaminhar pacientes com sintomas sugestivos de intoxicação por metanol aos serviços adequados.
*Estagiário sob supervisão
