Tomar vacinas contra gripe, Covid-19 e outros vírus respiratórios pode ser um aliado poderoso na proteção do coração e do cérebro. Pesquisas recentes mostram que manter a imunização em dia reduz de forma significativa o risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca, especialmente entre pessoas já diagnosticadas com doenças cardiovasculares ou em grupos de risco.

A explicação está no efeito indireto das vacinas. Ao prevenir infecções respiratórias, elas reduzem processos inflamatórios que desestabilizam placas de gordura e colesterol nas artérias. Quando essas placas se rompem, aumentam as chances de formação de coágulos, o que pode levar à obstrução de vasos no coração ou no cérebro. Assim, além de proteger contra complicações da gripe e da Covid-19, a imunização atua como ferramenta de prevenção cardiovascular.

Um estudo multicêntrico com 2.500 pacientes que haviam sofrido infarto comprovou a relação. Entre os vacinados contra influenza, a mortalidade por causas cardiovasculares caiu 41% em um ano, em comparação com os não vacinados. Outro levantamento, com 5 mil pessoas diagnosticadas com insuficiência cardíaca, apontou reduções de 23% na mortalidade cardiovascular, 21% na mortalidade geral e 24% nas hospitalizações em decorrência da doença.

Os benefícios não se limitam à gripe. Dados sobre a Covid-19 mostram que pacientes imunizados apresentam até 37% menos necessidade de internação em UTI e 30% menor risco de morte em um ano. Já estudos com o vírus sincicial respiratório (VSR), também prevenível por vacina, identificaram risco até 18 vezes maior de eventos cardíacos graves após a infecção.

Vacinas recomendadas para se prevenir

A associação entre surtos de gripe e aumento de internações por infarto foi confirmada em análises populacionais. Uma pesquisa russa, por exemplo, acompanhou 35 mil mortes por doença coronária em sete anos e constatou risco 30% maior de infarto nos meses de maior circulação do vírus influenza.

Diante das evidências, diretrizes internacionais, como as da Sociedade Europeia de Cardiologia, já incluem vacinas contra gripe e Covid-19 entre as recomendações de prevenção secundária em cardiopatas e idosos. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações disponibiliza gratuitamente vacinas para grupos de risco, mas a adesão ainda está abaixo do esperado.

Especialistas defendem que vacinar-se deve ser visto não apenas como prevenção de infecções, mas como estratégia de proteção cardiovascular. Ampliar a cobertura, portanto, é uma medida de saúde pública crucial para reduzir mortes e complicações cardíacas em uma população cada vez mais envelhecida e suscetível a doenças do coração.