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“Tarifaço” é a maior ameaça ao setor sucroenergético em Alagoas hoje

A medida, que começou a vigorar a partir de agosto, coloca em risco um dos principais canais de exportação de açúcar alagoano

Por Blog de Edivaldo Junior 02/09/2025 05h05
“Tarifaço” é a maior ameaça ao setor sucroenergético em Alagoas hoje
Pedro Robério, presidente do Sindaçúcar-AL, diz que tarifaço provoca perdas ao setor sucroenergético de Alagoas - Foto: Edivaldo Junior

O setor sucroenergético de Alagoas enfrenta hoje seu maior desafio: a taxação extra de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo governo dos Estados Unidos, o “tarifaço” do Trump. A medida, que começou a vigorar a partir de agosto, coloca em risco um dos principais canais de exportação de açúcar alagoano, ameaçando diretamente a receita das usinas, os investimentos e milhares de postos de trabalho.

Para o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e Etanol de Alagoas (Sindaçúcar-AL), Pedro Robério Nogueira, o tarifaço representa uma ameaça sem precedentes. “Já lidamos com queda no preço internacional do açúcar e com a valorização do real (desvalorização do dólar), que reduzem nossa competitividade. Agora, a perda do mercado americano torna a situação ainda mais crítica”, avaliou.

O “tarifaço”, se não for revertido, pode representar perdas expressivas de receita, principalmente no caso de Alagoas, na agroindústria da canavieira. “O preço em real de exportação de açúcar sofreu uma certa depressão, mas o que mais está incomodando é esse tarifaço que afeta um volume importante de açúcar, comercializado por um preço diferenciado destinado ao mercado americano. Com a taxação ele se inviabiliza”, alertou Nogueira.

De acordo com Pedro Robério, com o tarifaço Alagoas perde 15% em volume de exportação para os Estados Unidos e 20% em valor, caso a tarifação não seja revista até o período que viabilize os embarques para o mercado americano.

Cota Americana

O Brasil tem acesso a uma cota de exportação de 150 mil toneladas anuais de açúcar para os Estados Unidos sem tarifas adicionais. Alagoas responde por cerca de metade desse volume, exportando em média 80 mil toneladas por safra. Embora o volume represente aproximadamente 15% das vendas externas do estado, o valor pago pelos norte-americanos é cerca de 100% superior ao preço do mercado internacional, o que garante 20% da receita das usinas com exportações.

Com a nova tarifa, essa vantagem desaparece. “Perder o mercado americano significa abrir mão de 20% do faturamento externo. É uma perda que dificilmente conseguiremos compensar em outros destinos, porque o preço não será o mesmo”, reforçou Nogueira.

O dirigente lembra ainda que o etanol passa por um momento de preços baixos. Apesar de alguma recuperação no hidratado, o mercado segue pressionado pela queda do petróleo no cenário internacional. “Iniciamos a safra 25/26 em um ambiente adverso. Nossa expectativa é de que haja recuperação ao longo do ciclo, mas neste momento os preços estão deprimidos”, afirmou.

Risco social e econômico

O setor sucroenergético é um dos pilares da economia alagoana e emprega mais de 60 mil pessoas em cerca de 50 municípios alagoanos. Com a ameaça do tarifaço, o impacto pode extrapolar as usinas, afetando diretamente a renda das famílias e a atividade econômica regional.

Segundo o Sindaçúcar-AL, a única saída é ampliar a negociação diplomática entre Brasil e Estados Unidos para tentar reverter a medida. “O tarifaço é hoje a maior ameaça ao setor sucroenergético de Alagoas. Caso não haja diálogo, o estado sofrerá perdas irreparáveis”, concluiu Nogueira.