Agro
Exportadores de café gastam R$ 3 milhões ao mês com problemas portuários
Somente em junho, 453,8 mil sacas não foram embarcadas por problemas de logística

As exportações brasileiras de café enfrentamm novos obstáculos desde junho de 2025 devido à limitação da infraestrutura portuária. Segundo dados divulgados pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), somente naquele mês 453.864 sacas de café de 60 quilos, o equivalente a 1.375 contêineres, não conseguiram ser embarcadas.
Esse volume representa uma perda de receita cambial estimada em R$ 1,022 bilhão, calculada com base no preço médio de exportação Free on Board (FOB) de US$ 405,81 por saca e a cotação média do dólar no mês, de R$ 5,5465.
Além do impacto cambial, os exportadores registraram prejuízo direto de R$ 3,002 milhões com custos adicionais relacionados à armazenagem, taxas por atrasos na devolução de contêineres, armazenamento antecipado e antecipação de gates (prazo para entrega da carga).
Desde junho de 2024, o total acumulado desses custos extras pelas empresas associadas ao Cecafé soma R$ 78,921 milhões, reflexo de atrasos, alterações nas escalas dos navios e da estrutura considerada defasada nos principais portos de escoamento da commodity.
“A nova safra de café, principalmente de canéfora (conilon + robusta), começa a chegar aos poucos para exportação e, como a estrutura dos portos não teve melhorias, já notamos um aumento de cerca de 100 mil sacas no volume total que não conseguiu embarques na comparação com maio. Esse cenário tende a se agravar, pois a principal movimentação de exportação de café se dá agora neste segundo semestre, com a chegada dos cafés novos, incluindo a espécie arábica”, explica Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.
Desafios estruturais e expectativas do setor
O levantamento do Cecafé, em parceria com a startup ElloX Digital por meio do Boletim Detention Zero (DTZ), aponta que 49% dos navios que atuaram nos principais portos brasileiros em junho tiveram atrasos ou alterações de escala. Foram 151 embarcações afetadas de um total de 306.
O Porto de Santos, responsável por 80% das exportações de café no primeiro semestre de 2025, registrou 59% de atrasos ou mudanças de escala entre os 161 porta-contêineres que ali operaram, e o maior tempo de espera foi de 37 dias. Em relação aos procedimentos de embarque no terminal santista, apenas 7% dos navios tiveram mais de quatro dias de gate aberto. Em 60% dos casos, esse prazo ficou entre três e quatro dias; nos 33% restantes, foi inferior a dois dias.
Já o Porto do Rio de Janeiro, segundo maior exportador de café do país com 15,7% de participação entre janeiro e junho, apresentou índice de atrasos de 57%. Dos 60 navios programados para receber cargas de café, 34 tiveram suas escalas alteradas. O maior intervalo registrado entre o primeiro e o último deadline foi de 20 dias. No mesmo período, 43% das operações de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto, 37% variaram entre três e quatro dias, e 21% ocorreram em menos de dois dias.
Segundo Heron, apesar do anúncio de investimentos governamentais para modernização e expansão dos portos, as melhorias têm previsão de conclusão em, no mínimo, cinco anos. Para ele, o setor necessita de medidas emergenciais que possibilitem ganhos operacionais no curto prazo, diante da crescente demanda por exportações de produtos que utilizam contêineres, como café, carnes, algodão, açúcar e celulose.
Entre as soluções sugeridas estão a aceleração nos leilões de terminais, ampliação da capacidade dos pátios e berços, diversificação de modais logísticos (com investimentos em ferrovias e hidrovias) e criação de indicadores logísticos que permitam maior previsibilidade e gestão das operações portuárias.
Heron também manifestou preocupação com a limitação de interessados no leilão do Tecon Santos 10, afirmando que a falta de justificativa técnica e legal pode gerar questionamentos e eventual judicialização do processo, o que colocaria em risco sua realização ainda em 2025. Ele destaca que a Nota Técnica nº 51 da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) oferece alternativas para ampliar a concorrência e evitar concentração de mercado.
