Agro

Incêndios já causaram prejuízos de mais de R$ 1,5 bilhão a produtores de cana, diz Orplana

Chamas atingiram mais de 500 mil hectares em cinco estados do país, afirma entidade

Por Globo Rural 29/09/2024 14h02
Incêndios já causaram prejuízos de mais de R$ 1,5 bilhão a produtores de cana, diz Orplana
A maior preocupação dos produtores de cana, no entanto, é com o volume da próxima safra, que se inicia em abril de 2025 - Foto: Reprodução

Os incêndios que ocorreram nas lavouras de cana-de-açúcar na região Centro-Sul entre agosto e setembro já causaram prejuízos de mais de R$ 1,5 bilhão ao setor sucroenergético, de acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).

A entidade estima que foram atingidos mais de 200 mil hectares de cana em pé e áreas de rebrota no estado de São Paulo, 160 mil hectares em Minas Gerais, 43 mil hectares em Goiás, 19 mil hectares no Mato Grosso e mais 12 mil em Mato Grosso do Sul.

“Ainda estamos calculando os prejuízos porque é preciso separar o que era cana em pé, que tem uma estimativa de perda de 30% a 40% da produtividade, do que era rebrota. Temos que esperar as chuvas para avaliar se será necessário replantar essas áreas. O replantio demanda cerca de R$ 13 mil por hectare”, disse José Guilherme de Oliveira, diretor-executivo da Orplana, à reportagem durante evento em Sertãozinho (SP) de avaliação dos incêndios e das “cicatrizes” deixadas pelo fogo.

Segundo Oliveira, nem a Nasa conseguiria pagar os incêndios de 23 de agosto, dia em que houve o maior número de focos na região de Ribeirão Preto, especialmente em Sertãozinho e Pitangueiras. “O ambiente de umidade abaixo de 15%, ventos de 70 km por hora e calor de mais de 35°C estava propício demais para o fogo. Não podemos tapar os olhos para a mudança climática. O mundo mudou, o clima mudou e nós precisamos nos adaptar”.

O setor já computava 15% de redução na produção da safra 2023/24 em relação à temporada passada por conta da estiagem, mas na avaliação da Orplana os incêndios podem puxar esse índice mais para baixo. A maior preocupação dos produtores de cana, no entanto, é com o volume da próxima safra, que se inicia em abril de 2025, caso as áreas de rebrota tenham sido muito afetadas.

Para o gestor executivo da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste), Almir Torcato, antes de fechar o tamanho do prejuízo, é preciso avaliar o volume de cana queimada que ficou no campo. A entidade organizou o encontro da cadeia em Sertãozinho em parceria com a GMG Ambiental.

“Dos cerca de 650 mil hectares atingidos, 350 mil foram queimados praticamente em um dia. A cana perece rápido. O que não se conseguiu colher em três dias deve ficar no campo porque as frentes de colheita são limitadas”, relata.

Torcato também afirma, no entanto, que a maior preocupação do setor é com o pós-incêndio: “Replantando agora, a cana só estará pronta para o corte em oito meses”.

Cálculo


O produtor Sérgio Bota, que tem 300 hectares de cana em Sertãozinho e Pitangueiras e produz cerca de 30 mil toneladas por safra, foi um dos que tiveram prejuízos. Ele disse que teve cinco áreas atingidas pelo fogo em 23 de agosto, três com cana em pé e duas de rebrota, com um total de 84 hectares.

“Tenho dois caminhões-pipa, mas no fatídico dia 23, minhas áreas estavam pegando fogo, os vizinhos pedindo ajuda e a gente não sabia qual foco combatia primeiro”, disse, acrescentando que ainda não tem o tamanho do prejuízo porque está aguardando as chuvas para ver se haverá rebrota ou se terá que replantar a cana.

Para o consultor ambiental Olivaldi Azevedo, o chamado Triplo 30 – quando há a somatória de umidade abaixo dos 30%, velocidade do vento acima de 30 km/h e temperatura acima de 30°C – traz como consequência o cenário crítico que aconteceu no dia 23 de agosto, quando houve mais focos.

“Uma frente fria de forte intensidade, que encontrou uma massa de ar quente e seca sobre o estado de São Paulo, trouxe condições favoráveis à ocorrência de Triplo 30, ventos erráticos, aumento de temperaturas e tempestades de poeira que favoreceram a intensificação dos incêndios”, aponta.

Os executivos da Canaoeste e da Orplana rejeitam a retomada da queima controlada, uma das propostas em estudo na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) para colocar o setor na vanguarda do controle dos incêndios.

“A técnica acaba mitigando os incêndios porque você consome o combustível, que é a cana, mas o risco disso sair do controle é muito grande, especialmente nesse momento de mudanças climáticas intensas”, afirmou Nogueira.

Segundo ele, nos últimos dez anos, as condições climáticas têm sido tão diferentes ano a ano que os modelos preditivos já não conseguem acompanhar. “A volta da queima controlada não é de nenhuma forma o caminho. Não faz sentido queimar a palha no campo se ela rende energia para o setor na caldeira”, ressaltou Torcato.

O produtor Bota também é contrário à retomada das queimas controladas. “Nós produtores já estamos sendo penalizados como se tivéssemos culpa pelo fogo. Queima controlada é de difícil controle e nós aprendemos a trabalhar com a palha e ganhar benefícios com a queima dela nas caldeiras”, completa.

Durante o evento, representantes da Defesa Civil, de empresas e de produtores afirmaram que o país precisa se preparar melhor para combater os incêndios que não atingem apenas a cana, criando políticas de prevenção mais eficazes, aperfeiçoando os modelos preditivos, aumentando a conscientização e adquirindo equipamentos mais eficientes como os grandes aviões que são usados nos incêndios na Califórnia.