Agro

Empresa não aceita moratória imposta por empresas internacionais

Abiove não concorda com exigências que vão além da lei brasileira

Por Redação com Canal Rural 17/12/2020 12h12
Empresa não aceita moratória imposta por empresas internacionais
Soja. Foto: Reprodução

Diversas tradings ligadas à Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) receberam uma carta, na sexta-feira, 11, da SOS Cerrado, organização não governamental integrada por 159 empresas internacionais. No documento, a coalizão dá um ultimato: não querem comprar soja de áreas desmatadas a partir de dezembro de 2020.

De acordo com o presidente da Abiove, André Nassar, mesmo não sendo compradoras diretas da soja brasileira, essas empresas são importantes para a cadeia. Ele cita nomes conhecidos no Brasil, como Nestlé, Danone, McDonald’s, Carrefour e Unilever. “São empresas que compram ração ou proteína animal e produtos lácteos. A importância delas é inegável”, diz.

Apesar disso, as tradings ligadas à Abiove não vão aceitar as exigências, principalmente por ser algo “imposto” e “abrupto”, segundo Nassar. “Não dá tempo de o produtor se adaptar e implementarmos, paulatinamente, essa política”, conta. “Se colocássemos a essas empresas a obrigação de ir além da lei brasileira, elas não ficariam nada felizes. Não adotaremos essa data de corte”, complementa.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz, rechaça a tentativa de moratória no Cerrado. Ele cobra que essas empresas respeitem a soberania brasileira. “É respeito às leis brasileiras, aos produtores rurais e ao interior do país”, diz.

Braz afirma que “chegou a hora de parar de falar desse assunto”. Para ele, que a Europa busque outros fornecedores se não estiver satisfeita. “Não dá ficar mais desta forma, sofrendo pressões”.

A Aprosoja Brasil deve se articular junto à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para que o governo federal cobre que essas empresas respeitem as regras do país, estabelecidas pelo Código Florestal.

Por conta do clima, Minas Gerais deve ter produtividade menor na soja. Em 2020, Brasil já registra mais casos de ferrugem asiática do que em 2019

Futuro da soja brasileira

O presidente da Abiove afirma que está claro o movimento da Europa de não querer comprar soja plantada em áreas desmatadas. “Ganhou força entre as indústrias de suprimentos e há um movimento da comissão europeia para criar regulamentações”, diz.

Nassar acredita que o produtor brasileiro vai ter que buscar o fim do desmatamento, mesmo o legalizado, caso queira continuar com esses mercados. “Mas o produtor tem que ser estimulado a expandir a produção em áreas já abertas”, frisa.

Ele reforça que a Abiove não vai aceitar uma moratória com data retroativa. Se for acordado o fim do plantio de soja em áreas desmatadas, que seja para áreas desmatadas a partir de uma data futura.

Isso vai impedir o avanço das fronteiras agrícolas?

A Abiove não acredita que o fim do desmatamento legal na cadeia da soja seja um inibidor de desenvolvimento, já que em muitas regiões, o produtor tem aproveitado mais áreas abertas, como pastagens degradadas.

Outro ponto que precisa ser ajustado é o controle do desmatamento ilegal, que cria uma falsa relação entre a produção agrícola e os problemas ambientais.