Política
Alagoas e as investigações da PF: políticos adotam cautela e silêncio
As apurações atingem diretamente pessoas ligadas aos três dos principais polos políticos alagoanos: o grupo do prefeito de Maceió, JHC; o do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; e o do governador Paulo Dantas
Alagoas vive um momento incomum na cena política: todas as principais correntes de poder do Estado estão, ao mesmo tempo, sob o alcance de investigações conduzidas por órgãos federais, especialmente a Polícia Federal. Casos distintos, com objetos diferentes, mas que têm em comum suspeitas de corrupção, desvio ou má aplicação de recursos públicos, criaram um ambiente de cautela generalizada entre adversários históricos.
As apurações atingem diretamente pessoas ligadas aos três dos principais polos políticos alagoanos: o grupo do prefeito de Maceió, JHC; o do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira; e o do governador Paulo Dantas. Em comum, além da atuação da PF, está o fato de que nenhum dos campos pode, neste momento, se apresentar como espectador distante dos fatos.
Esse cenário tem produzido um efeito imediato. Lideranças parecem evitar acusações de forma aberta e agora “pisam em ovos”. Críticas diretas, sobretudo quando envolvem suspeitas sobre uso indevido de recursos públicos, foram substituídas por notas protocolares, silêncio estratégico ou manifestações genéricas em defesa das instituições.
No campo das gestões, as reações têm variado, mas seguem um roteiro semelhante. Tanto o prefeito JHC quanto o governador Paulo Dantas determinaram colaboração formal com as investigações. Em alguns casos, isso resultou em afastamentos preventivos de pessoas citadas ou envolvidas, numa atitude que demonstra compromisso com a transparência e minimiza o desgaste político.
No âmbito estadual, a crise envolvendo a Secretaria de Saúde de Alagoas levou ao afastamento do então secretário Gustavo Pontes de Miranda. A decisão, anunciada pelo governador, foi apresentada como medida administrativa para não interferir no andamento das investigações. O ex-secretário, por sua vez, nega qualquer irregularidade e reagiu de forma dura. Ele acusa a Polícia Federal de abuso e questiona a legalidade da operação.
Já em Maceió, o caso relacionado à previdência municipal e à liquidação do Banco Master foi precedido pelo afastamento preventivo de toda a diretoria do Iprev. Isso não evitou o risco de perdas de recursos públicos, que podem passar de R$ 100 milhões. A prefeitura também anunciou medidas de colaboração, numa tentativa de preservar a administração e demonstrar controle institucional da crise.
No plano federal, a operação que envolve assessora ligada a Arthur Lira na operação de emendas do chamado orçamento secreto reforçou a percepção de que ninguém está imune às investigações da PF. Ainda que os fatos investigados não se confundam, o impacto é profundo e contribui para o clima de cautela entre aliados e adversários.
Com “as barbas de molho”, líderes e gestores parecem evitar discursos acusatórios, conscientes de que qualquer ataque pode produzir efeito reverso. No curto prazo, a tendência é de baixa na temperatura das críticas, pelo menos quando o tema for suspeita de desvio ou mau uso de recursos públicos. Até porque nesse caso quem quiser bater também pode apanhar. Mas essa é outra história.


