A relação de cordialidade construída ao longo dos anos em Brasília ficou para trás. O líder do MDB na Câmara dos Deputados, Isnaldo Bulhões, decidiu partir para o enfrentamento com Arthur Lira, ex-presidente da Casa e hoje principal adversário político do seu grupo. A reação veio após as críticas feitas por Arthur ao atual presidente da Câmara, Hugo Motta, dizendo que a Casa está “uma esculhambação”.

Lira teria ficado irritado com a decisão de Motta pautar, no lugar da cassação, a suspensão do mandato do deputado federal Glauber Braga. O episódio, marcado por forte tensão, foi criticado por Arthur Lira no grupo de Whatsapp da da bancada do PP: . “Tem que reorganizar a Casa. Está uma esculhambação”, escreveu.

Em entrevista ao Globo (veja abaixo), Bulhões saiu em defesa do atual presidente e alfinetou o ex. “Eu defendo o comportamento do presidente Hugo Motta, que está corretíssimo na condução. Só tem um problema: talvez ele (Lira) tenha saudade, esqueceu que o mandato dele acabou. Quem tem boca diz o que quer. A gente precisa ter respeito na condução de cada um. Ele (Lira) sempre teve o nosso, meu e do presidente Hugo”, afirmou.

Ao sair em defesa de Hugo Motta, o líder do MDB manda um recado: não vai aceitar críticas de Arthur ao comando da Câmara. E se for preciso vai liderar o enfrentamento com o ex-presidente. Em 2026, Isnaldo terá peso ampliado no Congresso Nacional ao assumir a relatoria do Orçamento, posição estratégica que confere protagonismo e poder de negociação com o Executivo e com as bancadas. Ou seja, terá mais força para enfrentar Arthur Lira, se necessário.

A disputa, embora travada no plano nacional, tem reflexos diretos na política local. Arthur Lira Bulhões não concorrem apenas por espaços no Congresso, mas também pelo controle e pela expansão de seus respectivos projetos partidários nos estados.

Arthur lidera a montagem da chapa de deputados federais do PP em aliança com o União Brasil, ao mesmo tempo em que se apresenta como pré-candidato ao Senado. Já Isnaldo, comanda a articulação da chapa do MDB, buscando fortalecer o partido e ampliar sua presença na bancada federal.

Essa rivalidade também se dará na disputa majoritária. Enquanto Isnaldo trabalha para consolidar as candidaturas de Renan Filho ao governo e de Renan Careiros ao Senado — este último apontado como principal adversário de Arthur —, Lira atua para viabilizar seu próprio projeto ao Senado e impulsionar a candidatura de JHC ao governo.

São movimentos paralelos, mas que tendem tensionar à medida que as alianças vão avançando – como está ocorrendo agora. A disputa está posta, em Brasília e fora dela, e tende a se intensificar à medida que o calendário eleitoral se aproxima.

Do ponto de vista da estratégia, Isnaldo joga como liderança que tende a se fortalecer na Câmara dos Deputados, enquanto Arthur Lira, salvo fato novo, caminha para deixar a Casa. Mas essa é outra história.

Veja a entrevista

Veja a entrevista de Isnaldo Bulhões ao Globo:

'Talvez o Lira tenha saudade da presidência', diz líder do MDB na Câmara ao pregar 'respeito' a Hugo Motta

Deputado Isnaldo Bulhões afirma que ex-presidente da Casa queria a cassação de Glauber Braga por ‘capricho’ e diz que Palácio do Planalto precisa melhorar a relação com o Congresso

Por Lauriberto Pompeu — Brasília 14/12/2025

O líder do MDB na Casa, Isnaldo Bulhões (AL), faz críticas diretas ao ex-presidente Arthur Lira (PP-AL), aponta "saudade" do poder e cobra respeito à atual condução de Hugo Motta (Republicanos-PB). Em entrevista concedida ao GLOBO, Bulhões comenta o episódio envolvendo a tentativa de cassação de Glauber Braga, avalia o impacto de decisões do STF sobre o ambiente político, fala sobre investigações envolvendo parlamentares e analisa os entraves na articulação do governo Lula com o Congresso, especialmente na agenda fiscal e orçamentária.

O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) criticou o atual chefe da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), após a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) não se concretizar. Há um racha no grupo que elegeu Motta?

A cassação dele virou um capricho de Arthur Lira. Ele ainda não se deu conta de que é ex-presidente da Câmara e que o presidente Hugo (Motta) fez o correto: pautou. E o colegiado decidiu. Não houve derrota nenhuma (de Motta) e muito menos vitória. O derrotado foi ele (Lira), porque operou para cassar o Glauber por capricho e não por fato.

Lira tem se queixado de que Motta não o escuta e ouve um número restrito de líderes.

Eu defendo o comportamento do presidente Hugo Motta, que está corretíssimo na condução. Só tem um problema: talvez ele (Lira) tenha saudade, esqueceu que o mandato dele acabou. Quem tem boca diz o que quer. A gente precisa ter respeito na condução de cada um. Ele (Lira) sempre teve o nosso, meu e do presidente Hugo.

Acesse o Globo para ler na íntegra:

Entrevista: 'Talvez o Lira tenha saudade da presidência', diz líder do MDB na Câmara ao pregar 'respeito' a Hugo Motta