O presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa 80 anos nesta segunda-feira (27). Lula é o 39º presidente do Brasil, sendo o primeiro a ocupar o cargo sem diploma universitário.

A Sputnik Brasil listou alguns episódios marcantes da trajetória de Lula, que fizeram do presidente um dos políticos mais conhecidos do mundo.

Sindicalismo como 'embrião' da carreira política

Lula nasceu em 27 de outubro de 1945, na cidade de Garanhuns, interior de Pernambuco. Em 1952, a mãe de Lula, Eurídice Ferreira de Mello, conhecida dona Lindu, migrou com os oito filhos para São Paulo, em um caminhão pau-de-arara, em busca do marido, Aristides Inácio da Silva, que havia migrado para o estado para trabalhar no Porto de Santos carregando sacas de café.

Aristides, no entanto, já havia constituído outra família, e Lindu permaneceu no litoral paulista até 1956, quando se mudou com os filhos para a capital, onde passaram a morar em condições precárias, nos fundos de um bar, no bairro de Ipatinga.

Aos 12 anos, Lula conseguiu o primeiro emprego, em uma tinturaria. Posteriormente, trabalhou como ambulante, engraxate e office-boy. Aos 14 anos, o teve seu primeiro emprego de carteira assinada, no Armazéns Gerais Columbia; seis meses depois, passou a trabalhar na Fábrica de Parafusos Marte.

Nessa época, se inscreveu em um curso de torneiro mecânico, com duração e três anos, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Se formou em 1963, conseguindo emprego na metalúrgica Independência, no bairro Vila Carioca, em São Paulo. Foi nessa fábrica que Lula perdeu o dedo mínimo da mão esquerda, esmagado em um acidente por uma prensa hidráulica.

A crise política desencadeada pelo golpe militar de 1964 levou Lula a passar por várias outras fábricas até ingressar, em 1966, na metalúrgica Indústrias Villares, uma das principais do ABC Paulista, onde teve contato com o movimento sindical que seria o primeiro passo para sua carreira política.

Foi eleito presidente do sindicato dos metalúrgicos em 1975, sendo reeleito em 1978, e em 1979 liderou uma greve de 170 mil metalúrgicos, desafiando a proibição de paralisações imposta pelo regime militar. O episódio transformou Lula em uma figura conhecida no país, pavimentando o caminho para sua ascensão política.

Fundação do PT e disputas pela presidência

A repressão à greve dos metalúrgicos de 1979 levou Lula a pensar na inexistência de um partido político que representasse os operários, o que o levou a fundar, em 1980, o Partido dos Trabalhadores (PT).

Em 1983, Lula foi uma das lideranças do movimento Diretas Já, e em 1986 se tornou o deputado federal mais votado da Assembleia Constituinte. Em 1989, ele foi lançado pelo PT na disputa das primeiras eleições diretas do país para o cargo de presidente da República após 29 anos. Foi derrotado por Fenando Collor de Mello no segundo turno.

Se candidatou novamente à presidência nas eleições de 1994 e 1998, sendo derrotado nas duas ocasiões por Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, disputou novamente, sendo eleito presidente pela primeira vez, em segundo turno, derrotando José Serra. Foi reeleito em 2006, em segundo turno, derrotando Geraldo Alckmin.

Política externa ativa e altiva e fundação do BRICS

As gestões de Lula foram marcadas pelo lançamento de uma política externa ativa e altiva, liderada por Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores de seu primeiro mandato.

Essa agenda visava colocar o Brasil como ator relevante no mapa das relações geopolíticas globais, priorizando a integração regional sul-americana e um estreitamento de laços entre países na época classificados como emergentes, que hoje integram o Sul Global.

Um dos pontos altos dessa agenda foi a fundação do BRICS, em junho de 2009. O grupo reunia as economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, passou a incluir a África do Sul como a letra "S" do grupo.

Nos anos seguintes, o BRICS se expandiu e hoje conta com 11 membros oficiais e nove países parceiros. O grupo é um dos principais mecanismos do Sul Global na busca pela reforma das instituições globais em prol de mais representatividade de países em desenvolvimento.

Lula também ganhou destaque internacional como um dos políticos mais influentes do mundo no combate à fome e à miséria, usando como vitrine programas sociais lançados em seu governo, como o Bolsa Família, que contribuíram para a retirada do Brasil do Mapa da Fome das Nações Unidas (ONU) pela primeira vez, em 2014.

Os dois primeiros mandatos de Lula também foram marcados pela concessão de grau de investimento à economia brasileira pelas agências de risco Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s, e pela descoberta e exploração do pré-sal.

Prisão

Em junho de 2016, Lula virou réu no âmbito da operação Lava Jato, acusado pelo procurador da República Deltan Dallagnol de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo referente ao sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). Segundo a denúncia, o local teria sido reformado com verbas da Odebrecht desviadas de contratos da Petrobras.

Posteriormente, ele foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso referente a uma suposta compra de um apartamento triplex no Guarujá (SP). Ele foi condenado em primeira instância em julho de 2017, e em segunda instância em janeiro de 2018, se tornando inelegível quando se preparava para disputar as eleições presidenciais.

Aliados de Lula criticaram a condenação, acusando a operação Lava Jato de ter motivações políticas. Fernando Haddad foi lançado como candidato do PT em seu lugar, sendo derrotado por Jair Bolsonaro.

Lula passou 580 dias preso na Superintendência Regional da Polícia Federal (PF) em Curitiba, no Paraná. Foi solto em novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que prisões somente podem ser decretadas após o trânsito em julgado, ou seja, quando não couber mais recursos no processo. As duas condenações de Lula foram anuladas após o ministro Edson Fachin, do STF, determinar que os casos deveriam tramitar em Brasília, não em Curitiba. Os casos foram recomeçados do zero, e quando retomados as ações já estavam prescritas.

Em março de 2021, a Primeira Turma do STF determinou a suspeição de Sergio Moro, autor da condenação de Lula na Lava Jato, após virem à tona conversas do magistrado com Deltan Dallagnoll que apontavam um conluio entre ambos para condenar Lula.

Retorno à vida política

Lula tornou a disputar eleições em 2022, concorrendo contra o então presidente Jair Bolsonaro. O pleito foi considerado o mais apertado do país, com Lula sendo eleito com 50,9% dos votos contra 49,1% de Bolsonaro, diferença de apenas 2,1 milhões de votos.

Com a vitória, Lula se tornou o primeiro presidente brasileiro a colecionar três mandatos, e o primeiro desde Getúlio Vargas a exercer mais de um mandato não consecutivo. Ele também se tornou o presidente brasileiro mais idoso a assumir o cargo, aos 77 anos.

Por Sputinik Brasil