Política
Setor sucroalcooleiro cobra reação de Alagoas ao tarifaço dos EUA
O sindicato destaca que Alagoas responde por cerca de 75 a 80 mil toneladas anuais do total de açúcar exportado anualmente àquele país

O setor sucroalcooleiro de Alagoas, um dos pilares da economia estadual, reagiu com preocupação à decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa adicional de 50% sobre o açúcar e outros produtos brasileiros exportados para aquele país. O “tarifaço de Trump”, ameaça diretamente as exportações do produto alagoano ao mercado norte-americano e pode impactar o funcionamento e fortes, com perdas na geração de empregos e renda em dezenas de municípios do interior.
Em resposta, o Sindaçúcar-AL encaminhou ofício ao governador Paulo Dantas solicitando que o pleito do setor seja apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a reunião com os governadores do Nordeste, marcada para esta terça-feira (05/8), em Brasília. Caberá ao governador em exercício, Ronaldo Lessa (PDT), que assumiu o cargo nesta segunda-feira (04/8), representar Alagoas no encontro, em que a pauta deverá ser apresentada.
No documento, o sindicato destaca que Alagoas responde por cerca de 75 a 80 mil toneladas anuais do total de açúcar exportado anualmente àquele país por meio de cotas preferenciais. Essas cotas são asseguradas por legislação federal (Lei 9.362/96), que destina esse tipo de exportação exclusivamente a produtores da região Norte-Nordeste. Em valores, a cota norte-americana representa cerca de 20% da receita de exportação do setor em Alagoas.
Com a sobretaxa, o açúcar alagoano perde competitividade e pode ser excluído do mercado norte-americano já nesta safra. O impacto, segundo o Sindaçúcar, será "avassalador" para a economia regional, com possibilidade de afetar parte dos 85 mil empregos diretos gerados durante a safra, além de dezenas de pequenos negócios que integram a cadeia produtiva da cana-de-açúcar em 54 municípios do Estado.
Diante do cenário, o setor formulou três pedidos principais ao governo estadual e federal:
1. Abertura de diálogo diplomático com os EUA, visando reverter ou ao menos suspender a tarifa adicional, especialmente diante da urgência dos embarques, previstos para outubro e novembro;
2. Adoção de medidas emergenciais federais, incluindo linhas de crédito específicas, incentivos fiscais e programas para evitar demissões e estimular a abertura de novos mercados para o açúcar alagoano;
3. Ampliação de incentivos fiscais estaduais, como forma de compensar parte das perdas impostas pela medida americana e manter a sustentabilidade do setor produtivo local.
“A defesa do nosso açúcar é, acima de tudo, a defesa da dignidade e do futuro de milhares de famílias alagoanas”, afirmou o presidente do Sindaçúcar-AL, Pedro Robério Nogueira, ao justificar a necessidade de uma resposta rápida por parte do governo.
Com histórico de articulação política e trânsito em Brasília, Lessa assumiu o compromisso de levar a pauta diretamente ao presidente Lula. A reunião com os governadores do Nordeste deverá tratar de temas estruturantes para a região, mas o tarifaço americano já desponta como um dos principais pontos de discussão.
Para o setor sucroenergético, o momento é decisivo. A depender dos desdobramentos diplomáticos e econômicos, Alagoas poderá preservar uma fatia estratégica de seu mercado internacional — ou amargar um dos maiores retrocessos comerciais das últimas décadas.
Fique por dentro:
Lessa assume governo e embarca para Brasília para discutir o “tarifaço de Trump”
O vice-governador Ronaldo Lessa assumiu o governo de Alagoas nesta segunda-feira (4) e embarca ainda hoje para Brasília, onde participará de duas agendas relevantes para o país. A primeira, nesta terça-feira (5), com o Consórcio Nordeste, para discutir os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, conhecidas como “tarifaço de Trump”.
Leia aqui na íntegra
Lessa assume governo e embarca para Brasília para discutir o “tarifaço de Trump”
Veja aqui o documento do Sindaçúcar-AL na íntegra:
Maceió-AL, 4 de agosto de 2025
Excelentíssimo Senhor PAULO DANTAS
MD Governador do Estado de Alagoas
Senhor Governador Dirigimo-nos respeitosamente a Vossa Excelência para expor uma preocupação urgente que afeta diretamente o setor sucroalcooleiro alagoano, responsável por milhares de empregos e pela movimentação significativa da economia estadual. Recentemente, o governo dos Estados Unidos, impôs um conjunto de tarifas para importação de produtos, inclusive ao açúcar brasileiro com 50%, impedindo o acesso do nosso produto ao mercado norte-americano e colocando em risco a competitividade internacional da produção alagoana.
Vale ressaltar que a exportação de açúcar do Brasil para os Estados Unidos, ocorre desde década de 1960, através de um mecanismo de cotas preferenciais, cotas que somente podem ser exercidas por produtores localizados na região norte-nordeste em obediência a Lei Brasileira 9.362/1996. Este volume corresponde a cerca de 150 a 180 mil toneladas por ano-safra, dos quais o Estado de Alagoas por ser o maior produtor da região dispõe de um volume anual na ordem de 75 a 80 mil toneladas, que corresponde a cerca de 15% do volume total exportado pelo Estado ao mundo e, em face do maior preço do açúcar dessa cota preferencial, representa 20% das exportações do setor sucroenergético alagoano, significando uma cifra de U$ 56 milhões e que, regularmente são realizadas até o mês de outubro de cada ano.
Esse chamado "tarifaço", anunciado de forma unilateral, ameaça não apenas a sustentabilidade das usinas e dos produtores rurais, mas também impacta negativamente comunidades inteiras que dependem da cadeia sucroalcooleira para sua subsistência. As consequências dessa tarifa repercutirão de forma avassaladora na renda setorial com reflexos imediatos na contratação de postos de trabalho, que no nosso setor subtrairá um volume expressivo dos 85 mil postos diretos de trabalho, na circulação da renda nos 54 municípios onde se observa a agricultura canavieira e no fechamento de várias pequenas empresas que compõe a longa cadeira produtiva desse setor nos vários municípios onde atua.
Diante desse cenário, solicitamos a Vossa Excelência que, aproveitando a reunião dos governadores da região com o Presidente da República no próximo dia 5/8/2025:
Interceda junto ao Governo Federal para que sejam adotadas medidas diplomáticas urgentes, visando negociar a reversão das tarifas impostas ao açúcar brasileiro posto que estamos na fase de contratação dessas exportações para suas entregas em outubro e novembro próximos.
Considere a implementação de políticas federais provisórias de apoio às indústrias e produtores, tais como linhas de crédito emergenciais, incentivos fiscais e programas de estímulo à diversificação de mercados e a inibição de demissões de colaboradores a fim de mitigar os efeitos imediatos do tarifaço.
No âmbito estadual, considerando o expressivo apoio estadual no regime de ICMS concedido as empresas do setor, pedimos avaliar a possibilidade de expansão dos mesmos de forma a propiciar compensações pelas perdas de receita que será suportada pelo setor.
Ressaltamos que o setor sucroalcooleiro é peça-chave para o desenvolvimento sustentável de Alagoas, integrando tradição, tecnologia e geração de renda. A defesa do nosso açúcar é, acima de tudo, a defesa da dignidade e do futuro de milhares de famílias alagoanas. Certos do compromisso de Vossa Excelência com o povo de Alagoas, agradecemos a atenção e aguardamos providências em prol de uma solução justa e eficaz.
Respeitosamente, PEDRO ROBERIO DE MELO NOGUEIRA
