Política

Renan minimiza rivalidade com Lira em AL, mas alfineta sobre kits de robótica: 'Lá sabem bem o que aconteceu'

Declaração do ministro dos Transportes vem em meio à reta final das tratativas para a entrada do PP do presidente da Câmara no governo federal

Por O Globo 22/08/2023 08h08 - Atualizado em 22/08/2023 09h09
Renan minimiza rivalidade com Lira em AL, mas alfineta sobre kits de robótica: 'Lá sabem bem o que aconteceu'
Entrevista foi ao ar nesta segunda-feira (21) - Foto: TV Cultura

Durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o ministro dos Transportes, Renan Filho, evitou demonstrar incômodo com a entrada do PP de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, no governo federal — os dois são adversários históricos em Alagoas, estado que o filho do senador Renan Calheiros (MDB) governava até abril do ano passado. No entanto, ao ser perguntado sobre o caso da compra de kits de robótica, pelo qual Lira chegou a ser investigado até que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulasse as provas já obtidas, o ministro aproveitou para alfinetar o rival:

“A decisão do STF precisa ser cumprida, mas o caso dos kits de robótica é um tema nebuloso e antigo. As pessoas lá sabem bem o que aconteceu, e é importante que aquela investigação, se não cumpriu os requisitos que a legalidade impõe, que seja feita outra investigação para que as coisas sejam esclarecidas. É isso que o povo alagoano espera”, afirmou Renan Filho, acrescentando que os kits teriam sido entregues em escolas que não tinham sequer energia elétrica.

No começo do mês, o ministro Gilmar Mendes, do STF, anulou todas as provas que envolvem Lira na investigação sobre os kits de robótica, atendendo a um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR). O magistrado entendeu que, como havia indícios da participação do presidente da Câmara desde o início da apuração, o caso deveria ter tramitado desde o princípio na Suprema Corte por conta do foro privilegiado de parlamentares.

Apesar do comentário sobre o rival político, Renan Filho minimizou a animosidade entre ambos ao afirmar que "não tem inimigos" e que vê Lira apenas como um adversário local. Em seguida, ele elogiou os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ampliar sua base aliada no Congresso, o que inclui o embarque iminente do PP de Lira e do Republicanos no governo.

“Eu não me considero inimigo de ninguém, mas somos adversários, sim”, disse o ministro, antes de prosseguir: “Todo presidente da Câmara tem seu papel, mas nenhum presidente de Câmara ou do Senado pode aprovar nada sozinho. O presidente (Lula) faz agora um esforço adicional para ampliar sua base. Acho que é inteligente o trabalho que faz e, do começo do ano para cá, nunca houve refluxo”.

Esposa no TCE


Na entrevista, o ministro ainda negou que tenha havido nepotismo ou imoralidade ao indicar a mulher, Renata Calheiros, a uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Alagoas. Até abril do ano passado, quando se licenciou para disputar — e vencer — uma vaga no Senado, Renan Filho ocupava o cargo de governador. Portanto, Renata poderia vir a ser uma das responsáveis pela avaliação da prestação de contas do marido.

“A Renata tem uma participação muito importante no estado, e a vaga era de indicação da Assembleia Legislativa. Abriu o edital e ela se inscreveu. Eu apoiei, mas quem escolheu foram os deputados. Numa democracia, ninguém pode ser impedido de disputar uma vaga”, afirmou, ainda no Roda Viva.

Em dezembro do ano passado, o emedebista conseguiu garantir a vaga aberta no Tribunal de Contas do estado para sua mulher, Renata Calheiros. Após ser indicada, ela teve a candidatura aprovada no dia seguinte.