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Levantamento aponta que um em cada cinco brasileiros já experimentou drogas ilícitas

Consumo cresce entre mulheres e adolescentes, com avanço de substâncias sintéticas no país

Por Redação* 23/12/2025 17h05
Levantamento aponta que um em cada cinco brasileiros já experimentou drogas ilícitas
Estudo da Unifesp aponta crescimento do uso de drogas ilícitas entre mulheres e adolescentes no Brasil - Foto: Agência Brasil

Cerca de 18,7% da população brasileira já fez uso de substâncias psicoativas ilícitas ao menos uma vez na vida, o equivalente a quase um em cada cinco brasileiros. Os dados são da atualização do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Entre os homens, o índice chega a 23,9%, enquanto entre as mulheres é de 13,9%.

O estudo revela ainda uma inversão relevante entre adolescentes: entre jovens menores de idade, o número de meninas que já experimentaram drogas supera o de meninos. De forma geral, mais de 13 milhões de pessoas — cerca de 8,1% da população — relataram uso de drogas até um ano antes da realização da pesquisa.

Entre adultos, o consumo apresentou crescimento expressivo, passando de 6,3% em 2012 para 15,8% em 2023. Entre as mulheres, o avanço foi ainda mais acentuado, triplicando no período: de 3% para 10,6%.

Esta terceira edição do Lenad mantém a mesma metodologia aplicada nas pesquisas de 2006 e 2012. Ao todo, foram analisados 16.608 questionários aplicados a pessoas com mais de 16 anos, entre 2022 e 2023.

“Os achados do Lenad apontam os grupos em maior risco quanto ao consumo problemático de drogas no país, ficando clara a necessidade de priorizarmos as meninas, em especial as mais jovens”, afirmou, em nota, a pesquisadora Clarice Madruga, uma das responsáveis pelo levantamento.

O estudo descreve um cenário de expansão do consumo e mudanças no perfil dos usuários, com destaque para adolescentes e mulheres, além da presença cada vez maior de substâncias sintéticas. As regiões Sul e Sudeste concentram os maiores índices de consumo, sobretudo entre jovens adultos de 18 a 34 anos.

Os dados indicam estabilidade no uso de cocaína e crack, ao mesmo tempo em que apontam crescimento de estimulantes sintéticos e alucinógenos em ambientes urbanos e recreativos. Em comparação internacional, o Brasil ocupa uma posição intermediária em prevalência de uso, mas apresenta elevada carga de transtornos associados ao consumo.

“Situando o Brasil no cenário internacional, os achados do Lenad III indicam que o país ocupa posição intermediária em prevalências de uso, mas combina esse nível com uma elevada carga de transtornos entre usuários, o que produz impacto substantivo sobre a rede de atenção psicossocial, serviços de urgência/emergência e políticas setoriais”, descreve o estudo.

Cannabis segue como droga mais consumida


A cannabis permanece como a substância ilícita mais utilizada no Brasil. Mais de 10 milhões de pessoas relataram consumo em menos de um ano antes da pesquisa, o que representa 6% da população. Ao longo da vida, cerca de 28 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais já fizeram uso da substância, o equivalente a 15,8%, o dobro do registrado em 2012. O crescimento foi mais intenso entre as mulheres.

Entre adolescentes de 14 a 17 anos, ao menos 1 milhão são usuários esporádicos, sendo que metade consumiu a substância no ano anterior à pesquisa. Diferentemente das edições anteriores, o consumo caiu entre meninos, de 7,3% para 4,6%, enquanto entre meninas houve aumento expressivo, de 2,1% para 7,9%.

Entre os usuários de cannabis, 54% relataram uso diário por pelo menos duas semanas consecutivas, o que corresponde a mais de 3,9 milhões de pessoas. Aproximadamente 2 milhões de brasileiros preenchem critérios de dependência, o equivalente a 1,2% da população.

Cerca de 3% dos usuários já procuraram atendimento de emergência em razão do consumo, índice que sobe para 7,4% entre adolescentes, apontando maior vulnerabilidade a crises agudas e intoxicações.

O levantamento também identificou aumento na experimentação de drogas sintéticas e psicodélicas na última década. O uso de ecstasy cresceu de 0,76% para 2,20%; o de alucinógenos, de 1,0% para 2,1%; e o de estimulantes sintéticos (ATS), de 2,7% para 4,6%.

A pesquisa foi realizada em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP) e com a Ipsos Public Affairs. Para os pesquisadores, o avanço das drogas sintéticas torna o mercado mais complexo e amplia os riscos, especialmente para adolescentes, reforçando a necessidade de estratégias preventivas sensíveis a gênero, integradas à saúde mental e à redução da violência e da discriminação.

*Com informações da Agência Brasil